terça-feira, 12 de março de 2013

Insinuante Crueldade

                                          

      A nota na imprensa internacional quase se esgueira da atenção do leitor. E, sem embargo, se ele se detiver por um pouco mais de tempo, muita perversidade há de colher em tais linhas, tão escassas quanto  mesquinhas.
      A sinistra retribuição do Presidente Viktor F. Yanukovich avança dentro de seus parâmetros burocrático-judiciais. A vindita do atual chefe máximo da Ucrânia se inspira das práticas de memória longa de seu irmão maior, Vladimir V. Putin, presidente da Federação Russa.
     No chamado entorno da antiga União Soviética, ameaça prosperar uma nefanda prática, que é tornar a política não a arte do possível, mas a de rancor e retribuição, por atos que o vencedor julga devedores da sinuosa prática da vingança.
     Para tanto, cuidam de vestir tais torpes pulsões com os negros trajes da justiça.
     É o que cinicamente ocorre na Ucrânia. A oriental e sinuosa paciência faz parte do jogo. Ciente de que há humano limite para o protesto e as sanções retributórias, o regime de Yanukovich, enquanto mantém em Kharkov, no leste da Ucrânia,  hospital prisional  a ex-primeira ministra Yulia V. Tymoshenko, cuida com a detida minúcia de que é capaz o entranhado ódio votado a quem ousou pôr em risco o próprio pleito para o poder, tornar tão deserto de ajuda, quanto insuportável o espaço da ex-Primeira Ministra.
     Para tanto, ainda serve ao presidente a máscara da justiça.  Continua assim a vingança retributiva de Yanukovich, que, pela mão do Alto Tribunal Administrativo, despoja Sergey Vlasenko, aliado fiel e principal defensor da Tymoshenko,  de sua cadeira de deputado no Parlamento ucraniano.
     Desde muito que silêncio maligno circunda o hospital militar de Kharkov, onde se acha detida a presa política Yulia Tymoshenko. Faz tempo que não mais recebe visitas como a da Presidente da Lituânia, que veio prestar-lhe solidariedade.
     E, no entanto, a justiça – sobretudo aquela devida aos perseguidos por motivos torpes e inconfessáveis – não pode ficar refém de um programado ir e vir de reações emotivas. As potestades tem a paciência dos chineses, e julgam ter o deus Cronos como seu discreto ajudante. Com o passar do tempo, julgam, desse modo, possível retomar a própria insidiosa pauta de pequenas e não tão mofinas perversidades.
     Tanto a autoridade europeia, quanto os dirigentes dos países que tem relações mais estreitas com Kiev, devem manter viva e atuante a sua condenação às práticas de denegação de justiça aplicadas por Viktor Yanukovich, e seus pressurosos prepostos, na vingativa perseguição à Tymoshenko e a todos aqueles com caráter para defende-la.
     É mais do que tempo de retomar não só as visitas ao atual cárcere de Yulia Tymoshenko, mas também na realização de protestos e medidas correlatas pela odienta vindita político-judiciária.
      Ao fazê-lo, as autoridades democráticas da Europa e do Ocidente deveriam ter presente que isto não é favor, mas exigência da democracia. Muitos desses já experimentaram seja a ameaça, seja a realidade das botas do arbítrio.
      Que tal estender a mão para quem carece de ajuda na defesa da liberdade ?

 

( Fonte subsidiária: International Herald Tribune )

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