segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rescaldo da Semana (2)

Dois Pesos e Muitas Medidas

        Segundo assinala Miriam Leitão em sua coluna dominical, os exportadores brasileiros para a Argentina sofrem com a falta de qualquer apoio de parte de Brasília, que assiste impávida ao deslavado desrespeito pelo governo de Cristina Kirchner no que tange às regras do Mercosul.
        A proteção do Estado a nossos exportadores,  não é favor algum, mas sim obrigação de acordo com o direito internacional e os tratados a serem respeitados.
        O governo de dona Dilma ignora o mandamento das pacta sunt servanda  (os acordos internacionais devem ser respeitados). Fá-lo em detrimento do exportador brasileiro, a que na marra as autoridades portenham não concedem a licença de importação a que se acham obrigadas.
         Essa anti-política do peronismo - que, para proteger o saldo da balança comercial, apela para a violência extra-legal de barração na fronteira das mercadorias brasileiras já negociadas com os importadores locais - se reflete aquela ínsita boçalidade do sindicalismo peronista que tanto o maior escritor argentino Jorge Luis Borges abominava - constitui a prova irrefutável não só do artificialismo normativo do Mercosul, mas também do malogro da administração dos Kirchner.
         É difícil saber o que mais provoca estranheza e assombro. Se a descarada violência em si do governo de Cristina Kirchner que busca disfarçar a própria incompetência e a corrupção com o desconhecimento na marra das normas internacionais, ou se a ignóbil passividade do governo petista, que nada faz para defender o direito do exportador brasileiro.
         Peculiar essa suposta solidariedade sindical, que resulta em bilionários prejuízos para a nossa indústria, com perdas na venda de máquinas só neste ano de US$ 750 milhões, e de um bilhão de dólares, em retidos automóveis e aviões.
         Mas o Ministro Guillermo Moreno - que é o capataz encarregado de barrar as exportações brasileiras - com a delicadeza característica do sindicalismo peronista não hesita em expor na Tevê estatal todos os empresários nacionais que façam críticas à ´política de restrição à importação´ do governo da Kirchner.
         Não se vá crer, de resto,que esses senhores limitem  suas transgressões no comércio internacional aos produtos de alta tecnologia. Prova disto são os dois milhões de pares de sapato já vendidos, mas que mofam nos armazéns da duana mercantilista do peronismo, pois não são liberados para cruzar a fronteira.
          Nesse particular, o governo de D. Cristina - com a ajuda de uma falsa dílmica solidariedade, costurada às expensas de nossa indústria - até que exagera na aplicação daquela "regra" por mim já citada, de que não há nada de seguro no subdesenvolvimento.

Mais uma tragédia libanesa fabricada alhures

       
      A  mídia internacional anuncia mais uma desgraça no antes pacífico Líbano. Infelizmente, as investigações internacionais e a reação - sempre moderada e lenta - relativas a tais mega-crimes tendem a conduzir as suspeitas de autoria, direta ou indireta, ao vizinho sírio e à milícia Hezbollah, que tem o apoio, nessa ordem, de Teerã e de Damasco.
     Se a situação presente do ditador Bashar al-Assad  limita um tanto  sua desenvoltura nesse campo, eis que presumivelmente um poder ameaçado por uma guerra civil (e uma contestação populacional tão extensa) deva tratar de cuidar precipuamente da própria sobrevivência política,  há uma tendência na imprensa internacional de atribuir esses mega-assassinatos em plagas libanesas a eventual ingerência do antigo poder protetor.
     De qualquer forma, quantidade descomunal de explosivos logrou matar o chefe da Inteligência das Forças Internas de Segurança, o general Wissal al-Hassan. Ele sabia estar na mira dos inimigos da democracia libanesa, o que naquela terra vale dizer o sírio al-Assad, e o chefe da milícia Hezbollah, Nasrallah.
     Não há muita imaginação nos mecanismos de eliminação de adversários incômodos no Líbano. Assim como no megacidio do ex-Primeiro Ministro libanês, que ensejou longa investigação internacional que veio acabar batendo na porta do Hezbollah, desta feita o cenário não semelha haver mudado em demasia.
     Há suspeição quanto à prevaricação do chefe do governo, que teria submetido o (não-aceito) pedido de demissão. O gabinete está enfraquecido pela inserção na administração da milícia xiita (apoiada por Teerã e Damasco) do Hezbollah - na verdade um estado dentro de estado, e altamente armado como a sua quase vitória contra o Tsahal de Israel o demonstrou sobejamente - e as perspectivas de atentado eram tão graves que forçaram o general al-Hassan a despachar toda a sua família para Paris. A razão principal do assassinato foi haver detido o ex-ministro da Informação, Michel Samaha, muito ligado à Síria, e que fora acusado de urdir campanha de explosões e assassinatos em Beirute.    
       
Cameron flexibiliza a sua oposição

     
        Houve desenvolvimentos na atitude do Primeiro Ministro David Cameron que carecem de uma retificação. Depois de respeitável silêncio,  uma semana após as congratulações de seus colegas da Alemanha, França e Itália,  o chefe do governo de Sua Majestade julgou oportuno fazer um elogio para a láurea colhida pela União Europeia.
        Cameron não resistiu, no entanto, à tentação de qualificar os méritos do prêmio, que, segundo ele, deveriam ser também estendidos à Organização do Atlântico Norte (OTAN)
        Não obstante, nos círculos de Bruxelas ele continua a atuar como uma espécie de chefe da oposição (não importa se do bloco do eu sozinho).  Além de contribuir para laços menos rígidos com o bloco de nações continentais, Cameron tem uma senhora luta pela frente, que é a de tentar restringir as despesas no próximo orçamento setenal comunitário. Haveria a intenção de muitos membros de um budget superior a um trilhão de euros, o que, para fins de consumo britânico, não agrada a Cameron.
        Com a mesma postura de atuar para a arquibancada (inglesa), Cameron desejaria restringir os pagamentos das autoridades de Bruxelas (16% delas ganha mais de cem mil euros por anos, segundo os cômputos do líder inglês).
        Por seu comportamento, Cameron corre o risco de transformar-se no líder de uma minoria de um país. Tal afirmação parte de alguém como Alex Stubb, Ministro finlandês para assuntos europeus. Stubb estranha a postura do Primeiro Ministro inglês, e tal estranheza cresce em importância se se levar em conta que Stubb é anglófilo.
        Não é preciso examinar as entranhas de muitos pássaros, nem de grandes dotes divinatórios, para arriscar o prognóstico de que David Cameron,mais por razões internas do que propriamente europeias, pode criar muitas dificuldades para o concerto da U.E., não desdenhando inclusive do desgaste de apenar para um solitário veto.

( Fontes:  O Globo, International Herald Tribune )

Nenhum comentário: