quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Maior Inimigo de Obama

       
         Já em blog anterior acenara com a possibilidade. Na época, me parecera tão pouco lógica que preferira deixá-la subentendida, posta quase de lado em uma saleta de espera.
         Procedi talvez à maneira do profissional que ainda não se acredita em condições de orientar um cliente determinado. Prefere ganhar tempo, como se lhe faltasse algum elemento indispensável para dizer ao consulente, pessoa que conhece e respeita, não qualquer fórmula expedita porém inconclusiva, mas a indicação apropriada, tendente a orientá-lo de modo adequado diante da gravidade do desafio.
         Passaram os tempos, e o conselho pendente se afigurou tornar-se desnecessário, dada a curva ascendente do comportamento de quem se pensara carente de orientação.
         No quadro geral desfavorável, que herdara de antecessor imediato, ele soubera reagir de forma apropriada e oportuna, contrastando, na comparação à distância com o adversário antes provável e agora designado, com uma atitude que se adequava à importância de responsabilidade assumida, e ao cometimento que tinha pela frente.
         De sua parte, o contendor acumulava erros e gafes, passadas e presentes, o que se refletira no espelho das prévias, as quais desenhavam um quadro, senão tranquilizador, sempre mais estimulante e favorável.
      Os dados positivos surgiam por toda a parte, e sobremodo em estados determinantes para o resultado final, por estarem em aberto para um ou outro concorrente, e não condicionados por maiorias cativas.
        Até mesmo os indicadores macro-econômicos, sempre uma carga molesta para a sua candidatura, apresentaram auspiciosa evolução, com a inesperada baixa no índice do desemprego, atingindo nível igual ao do início de seu mandato.
        Para os antagonistas, que semelham desejar o pior para o país, a fim de que leve de roldão o presidente democrata, alegado responsável pela situação, a notícia irritou a tal ponto que ousaram insinuar manipulação de dados pelo departamento correspondente. Como os vãos impropérios, tais reclamos apenas frisaram o peso positivo do frio dado econômico na balança presidencial.
         Ficava o indicativo, impondo-se contra a zoeira inconsequente da oposição.
         Sem embargo, todo o trabalho paciente e o desempenho irreprochável no cargo talvez mais dificultoso da política mundial se descobre, de repente, prejudicado por um desempenho em debate.
         É interessante o produto de uma discussão sob o nominal controle de  veteraníssimo moderador, e que integra, desde os anos sessenta, o ritual da eleição americana.
         Pude assistir pela tevê, como milhões de outros espectadores, a contenda oratória. Em meu comentário, já se assinalava a vantagem alcançada pelo desafiante que refletiu o próprio imediatismo da experiência e tende a relativizar-lhe as consequências.
         De acordo com a prática, seus efeitos demandam alguns dias para que se enrijeçam nas conclusões sem a volubilidade da hora. Filtradas pela opinião, elas passam a integrar a bagagem dos dois candidatos. Serão positivas para Mitt Romney e negativas para Barack Obama.
        Em um punhado de minutos, se pode pôr a perder todo um cometimento. Não é hora de chorar sobre o leite derramado.
        Não é também só o caso de perguntar-se  por que o Presidente não terá contestado as mentiras do rival, tanto no que tange às inexatidões terminológicas do republicano sobre as lacunas das emendas do GOP que prejudicam os pobres e os idosos na assistência sanitária, quanto e ainda mais no que toca aos quarenta e sete por cento de enjeitados, segundo disse o ex-governador de Massachusetts na reunião de Boca Ratón.
        Como definir a atitude do Presidente, silenciando sobre tópicos de importância tão clamorosa ?  Alguns consideram Obama intelectualmente arrogante, o que o levaria a desdenhar embrenhar-se em supostas baixarias de uma justa oratória que não estaria à sua altura.
        A exemplo daquele mítico profissional, que, a princípio, hesitava pronunciar-se, à falta de elementos concludentes, creio que o debate da universidade do Colorado terá enchido todas as medidas.
        Semelha, na verdade, difícil engolir a tese da arrogância intelectual. É tão óbvio o que está em jogo, e o que, em consequência, se põe a perder,  e de modo irremediável, ao enveredar por uma postura abúlica e mesmo derrotista, como a que transpirou desse primeiro debate cujas questões a serem colocadas ao 44º Presidente dos Estados Unidos se devem ater ao possível desconforto experimentado por ele diante de um desafiante que aparenta tanta segurança, e que é apoiado pelas correntes conservadoras do eleitorado americano.
         Como tantos outros no passado, Obama, apesar de ser o presidente, representa também a maioria da população, uma grande aliança em que se juntam os que lutam contra as injustiças, e os próprios injustiçados (e no caso em tela na sua união transcendem as causas, objetivas e reais, que lhes empurraram para uma posição desvantajosa na sociedade no seu todo).
         Se deseja preponderar, Obama não pode calar,nem permitir que venha a repetir uma atitude passada que muito terá contribuído para que as questões mais relevantes do povo americano tenham tardado tanto em atingir a conscientização das grandes verdades da democracia estadunidense e da necessidade impostergável de assumi-las e de defende-las de forma categórica e sem trepidações. Muitos vultos históricos, negros e brancos, se levantaram para sinalizar o caminho da democracia.
         Não faltam exemplos para que Obama desempenhe, em toda a sua plenitude intelectual, a coerente e corajosa disposição de arrostar as incertezas do passado. Para tanto, não é bom optar pela apatia e acomodação.

        

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