quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Obama v. Romney: as duas últimas semanas


                   
         A mídia internacional – e o New York Times, em particular – são havidos, por gregos e troianos, como favoráveis ao candidato democrata, o Presidente Barack Obama. Mas, lendo atentamente o que escrevem, será esta uma visão equilibrada do quadro ?
         A dizer verdade, não estamos tratando com a direita e a extrema-direita, com  a sua lancinante obviedade e as distorções que tendem a torná-las como uma questão humorística. Assim, não estamos falando nem de Rush Limbaugh, nem da Fox, e tampouco do Wall Street Journal. Nas diversas gradações da linguagem panfletária e facciosa, o curioso terá o seu copázio cheio, quer busque divertir-se com a compenetrada estupidez, quer com modalidades mais refinadas de um sólido e para alguns reconfortante reacionarismo.
        Se pode esperar tudo de um certo público cibernético, até que a carta-aranzel de um bilionário de Wall Street tenha alcance viral (para quem, é claro, se sinta à vontade com o engajado besteirol).
        Sem embargo, ao lermos os comentários do Times, após repassar algumas linhas, uma luz vermelha se acende na mente, e se começa a perguntar aonde a matéria do jornal liberal gostaria de chegar.
        Compara a princípio as campanhas de Al Gore e Obama, e, implicitamente, significa a preocupação de que tudo vá acabar como na famigerada eleição de 2000. Naquele renhido pleito, Gore teria ficado no final com a disputa em New Hampshire e na Flórida. Assim, como levou desvantagem em New Hampshire, só lhe restou a Florida...
       Ora, a derrota de Al Gore foi no tapetão, com a inaudita e imoral sentença da Corte Suprema – obra de seus cinco membros conservadores – mandando suspender a recontagem na Flórida, que o tribunal superior determinara. O que aconteceu na contenda entre Al Gore e George W. Bush, foi intervenção indevida no processo eleitoral, na prática defraudando o candidato democrata da respectiva vitória no voto eleitoral, eis que, se não suspensa a recontagem, outros seriam o resultado e o presidente eleito.
       Por conseguinte, para começo de conversa, não é lícito comparar a eleição de 2000 com os comícios de seis de novembro p.f. ! De certa maneira, ingressar nesse gênero de cotejo – como se se tratasse de processos normais – já é manchar a argumentação, eis que se está pondo no mesmo nível uma não-eleição (pode-se chamar de outra forma um processo decidido por intervenção judicial ?) com uma disputa de um pleito bastante difícil, no entender dos pesquisadores de opinião.
       Será apenas o viés sensacionalista que nos apresenta o republicano Mitt Romney transformando as suas duas seguidas derrotas nos debates de Long Island e Boca Ratón, em uma súbita vantagem sobre o presidente Obama ?  Estará acaso esquecida a observação a portas fechadas dos quarenta e sete por cento de vítimas que não pagam (sic)  imposto de renda, e que votam sempre democrata, porque dependem do Estado e de suas benesses?
        Além de ser sumamente distorcida (e portanto injusta) a conclusão, será que o seu geral conhecimento terá o anódino efeito de mais uma informação alegadamente sectária ?
        Então, o governador Romney sai dos debates como um moderado digno de confiança, malgrado tudo o que professara durante as primárias, afim de colher a nomination do G.O.P. ?
        Dessarte, na visão do articulista, o presidente se depara com um pesadelo que desejara evitar. Chegar aos finalmente na campanha com os nove estados ´pêndulo´ (swing) ainda indecisos ?
        Embora a palavra desespero não esteja escrita, parece difícil não decifrar o parágrafo seguinte dessa forma: “ O Sr. Obama reprisou os temas de seu debate na Terça em comício de onze mil partidários, em Delray Beach, na Flórida. Então, planeja uma blitz brutal, quase nonstop de seis estados na quarta e na quinta: Iowa, Colorado, Nevada, Flórida (de novo, Virginia e Ohio.”
       Não há dúvida que o pleito de 2012 reune muitas condições para ser colocado na companhia daqueles extremamente árduos, aquelas corridas que só o photochart tem condições de dirimir. Nesse sentido, as campanhas de l948 (Truman x Dewey) e 1960 (Kennedy x Nixon) . De um, temos um sorridente Harry Truman, empunhando jornal com a célebre barriga: Dewey bate Truman; de outro, uma decisão que foi para o colégio eleitoral, com alguns delegados querendo falar com o candidato (eleito) democrata, que bem fez em não admitir um diálogo que poderia servir ao delegado para descumprir o mandato recebido dos eleitores).
       Mas a respeito vale a pena pronunciar uma palavra acautelatória. O perfil do processo eleitoral, o fato de ser (ou não) extremamente apertado, tal característica só será determinada na noite (que pode ser longa ou curta) de seis para sete de novembro.
       Até lá – o que é comum a todas as eleições – a disputa será sem quartel. Só mesmo a incrível candidata ao Senado pelo Partido Democrata, Martha Coakley – derrotada por Scott Brown, em janeiro de 2010 – optara por tirar férias quase às vésperas do pleito.
       O esforço final, que faz parte do rush que antecede a terça-feira fatídica, constitui, por conseguinte, a regra, e não a exceção. Obama estaria dando prova de ineptidão se diminuísse o ritmo no próprio empenho. Tal, no entanto, não deve ser entendido como indício de fraqueza nas urnas.
       Na reta final, não misturemos alhos com bugalhos. Nenhum candidato afrouxa o ritmo nesta fase resolutiva. Como vemos, as exceções só confirmam a regra.

 

( Fontes: International Herald Tribune e The New Yorker)

        

 

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