sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Obama: Fim de Linha ou Reeleição ?

     A doze dias dos comícios de seis de novembro, as prévias mostram seja um resultado apertadíssimo,  daqueles que só o photochart decide, seja uma pequena vantagem para Mitt Romney. Entra-se, assim,em área de turbulência, com a determinação da eleição arrastando-se pela madrugada afora, com a balança indefinida, o povo estadunidense mantido por longas horas na ignorância da manifestação da própria vontade soberana ?
     Desde muito, mídia e comentaristas afiançam que o pleito de 2012 vai inserir-se entre os mais renhidos da história do país, comparável a uns poucos outros - como 1948 e 1960 -  pela prolongada incerteza. Em tal hipótese, se nos arrimássemos na superstição, o campo dos democratas teria razões para o otimismo, pois nesses dois exemplos a vitória sorriu para o partido de Roosevelt, com as eleições de Harry Truman (1948) e John Kennedy (1960).
    Por isso, dado o caráter imprevisível da deusa Fortuna, o mais recomendável seria esperar e confiar. Forçoso será concordar com a avaliação de que vá justamente ocorrer o que  Barack H.Obama mais temia : um final aberto tanto para Mitt Romney, quanto para o presidente em exercício.
     Dessarte, como em romance inglês do século dezenove, névoa cerrada baixou sobre a charneca e as suas urzes, e está eivada de perigos a jornada do protagonista rumo à mansão em que a estória se há de desenrolar até o colimado fim.
    O límpido céu de 2008, com o preanunciado êxito é cousa do passado. Também Barack Obama mudou, posto que, para muitos, nem tanto. Dirá o futuro se o prognóstico raivoso do Senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, se confirmará (Obama com o estigma americano de ser presidente, assim como James Buchanan, de um único mandato) ?
    Ou os ventos de mudança (change) que atraíram a consagradora votação de 2008, ele, de alguma forma, lograria manter com força suficiente para arrastá-lo a mais quatro anos ? 
    Sem desmerecer do candidato do G.O.P. - dentre a pobreza dos postulantes à nomination republicana, o ex-governador de Massachusetts se prenunciara desde o começo das primárias como a escolha inevitável, ainda que rejeitada pela militância conservadora - é mister reconhecer que as atuais dificuldades (e o consequente resultado aberto) são sobretudo uma decorrência do temperamento e da conduta do 44o. presidente.
    Se a derrota democrata nas eleições intermediárias de 2010 deve ser em grande parte colocada na soleira do jovem presidente, esse ´castigo´ da perda da maioria na Casa de Representantes representou uma oportuna lição para Obama, além de produzir alguns efeitos colaterais benéficos para o juízo do eleitor em 2012.
    Vamos por partes. Como evidencia o livro de Ron Suskind "Homens de Confiança" parte do primeiro biênio presidencial foi desperdiçado em infindáveis discussões acadêmicas na Casa Branca, enquanto a economia (e as realidades do poder, então com o domínio democrata nas duas câmaras) exigia ações pontuais e determinadas,  no estilo de FDR, ao tomar as rédeas, findo o desgoverno de Herbert Hoover.
     Barack Obama, intelectual e professor de Harvard, pagaria caro a sua falta de experiência executiva. No entanto, como em outras ocasiões seria demonstrado, ele sabe reagir e pôr cobro aos próprios erros. A segunda parte de seu primeiro mandato nos mostra alguém que aprendeu a desencantar-se da miragem de um bipartidismo que a radicalização do GOP inviabiliza (como exposto à saciedade pelas infrutíferas negociações sobre o teto da dívida pública com o Speaker John Boehner e, a fortiori, com Eric Cantor, líder da maioria na Câmara e a sua bancada do Tea Party).
    De resto, o novo Obama surgiu ao ensejo do ritual dos debates com Mitt Romney. Na realidade, a sua ´apatia´ na disputa de Denver, seria superada por um outro Obama, pró-ativo e encarniçado, nos encontros de Long Island e Boca Raton, quando venceria com facilidade a seu adversário.
    O Presidente em exercício será sempre considerado como o responsável pelos descaminhos da economia, por mais escrachado que seja o fato de que a chamada Grande Recessão se deve sobretudo à gestão ruinosa de George W. Bush (o descalabro de Bush júnior é tão marcado que até o lado republicano  mantém a sua administração e respectivo legado sob profundo silêncio).
     A situação decerto melhorou, como apontam os dados da taxa de desemprego, mas os tempos ainda são cinzentos, e Mitt pode repetir impunemente que a classe média está sendo esmagada pelo governo de Obama. Como na frase famosa de Beaumarchais, da calúnia sempre resta alguma coisa.
     Sem embargo, a esperança, para felicidade da maioria, pode ser pertinaz e reservar-nos surpresas benfazejas.
     A esse propósito, permito-me retirar de um canto inesperado uma notícia muito positiva para os eventuais sufragantes de Barack H. Obama.
      Nada mais objeto de negação popular do que os estímulos votados pelo Congresso democrata para contra-arrestar a recessão econômica deflagrada pela falência do Banco Lehman Brothers, em setembro de 2008. O próprio Presidente, consciente do repúdio associado com os créditos votados pelo Legislativo, se absteve nos debates de fazer qualquer menção a tais medidas.
      Sem embargo, acaba de ser editado nos Estados Unidos, livro de Michael Grunwald, sob o título "O novo New Deal: a oculta história da Mudança na Era Obama".  Nesta obra, de mais de quinhentas páginas se mostra que os demagógicos e inúteis estímulos votados pelo Congresso ao invés de serem um fracasso - veredito partilhado por republicanos e pela esquerda do Partido Democrata - representaram um êxito. Nas palavras de artigo da New York Review, representou uma saída Keynesiana para  uma eventual e terrível depressão econômica, assim como ´nova base para crescimento´, consoante prometida no discurso da posse do Presidente, na escadaria do Capitólio.
      Será, sem dúvida, uma ironia da história que um programa como o dos estímulos econômicos acolhido de forma tão negativa - a ponto de o próprio Obama evitar citá-lo - vá ao cabo transformar-se em um retorno à prosperidade.
      Tais inflexões e paradoxos não são, de resto, inéditos. Se as urnas, por fim, trouxerem a boa nova para o Presidente e seus partidários, as denegridas medidas de Estímulo,  hoje consideradas ainda exemplo de demagogia e desperdício, poderão ter quem sabe a merecida releitura, para que a visão do momento seja superada por ainda que tardia revalorização.


( Fontes:  The New York Review, International Herald Tribune )    

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