domingo, 7 de outubro de 2012

Colcha de Retalhos CXXIII


 Os  Estranhos Ciclistas de Paris

           De recente visita a Paris, quando se despedia do verão e adentrava o outono, não pretendo cansar o leitor com a austera beleza de seus monumentos, nem com o prazer de flanar pelos largos bulevares em que a folhagem das árvores principia a enfeitar-se, em meio ao verde obstinado de umas tantas, com a infinda opulência dos matizes do bronze sazonal.
           Se o turista não pode negacear seus olhares indiscretos aos caprichos expressionistas de mãe-natureza, o cenário da velha Lutetia costuma preparar-lhe surpresas, mesmo àqueles que se crêem distantes do ritual do primeiro encontro, e daquelas obrigações de pronta visita. Assim, o recém-chegado Chateaubriand  à Roma pontifical de princípios do século XIX, acorreu pressuroso a quatro monumentos, que para ele simbolizavam a Cidade Eterna: o Castel Sant’Angelo, a basílica de São Pedro, o Museu do Vaticano e o Túmulo de Cecília Metella.
        Não será difícil supor os que seriam os musts para quem chega à Cidade Luz por primeira vez nesse século XXI: Torre Eiffel, Arco do Triunfo, museu do Louvre, a igreja de Notre Dame e o Beaubourg.  Haverá muitos outros pontos a conhecer, mas a não-visita a esses cinco pontos pode deixar em dúvida se nosso hipotético turista realmente esteve em Paris.
      Mas esse teclado infiel me está desviando do caminho anunciado. Pois o que me chamou a  atenção no meu breve retorno  à Paris foi o estranho comportamento dos ciclistas que percorrem desenvoltos suas avenidas e ruas.  Vindo do Rio de Janeiro, achei que havia algo de muito errado na maneira com que eles e elas se movimentam com seus vélos. Todos têm o capacete protetor – na verdade, a casquette – e obedecem às leis do trânsito ! Em mais de uma semana naquela metrópole, não vi nenhum rodando em calçada, nem na contra-mão, e tampouco desrespeitando os semáforos. 
     E não vá imaginar o leitor que lá eles são poucos. Vemos famílias inteiras, rodando como se tivessem lido o manual de instruções do DETRAN do Rio de Janeiro. Nesse livreto, o perplexo candidato à renovação de sua carteira de motorista lerá: os ciclistas estão sujeitos a todas as leis do trânsito.
     Ora, para os que vivem em Pindorama, a realidade será bem outra, eis que basta andar pelas calçadas ou atravessar ruas, para  nos darmos conta de que os ciclistas caboclos, ou a sua grande maioria, acham que as calçadas são pistas de corrida, os sinais não estão nem aí, e tampouco as mãos das ruas.
     Dessarte, a visão dos ciclistas parisienses nos faz pensar quando chegará para os daqui o tal choque de ordem, que foi anunciado para tantas coisas com os resultados que conhecemos.
     A indisciplina pode ser consequência ou de falta de educação cívica ou de crassa ignorância. De uma forma ou de outra, ela pode ser corrigida rapidamente, se os ciclistas faltosos forem detidos por nossos operosos guardas-municipais, a fim de lhes ser cobrada a multa correspondente pela infração que estiverem cometendo. Não é assunto de polêmica a capacidade das autoridades em cobrarem multas dos cidadãos faltosos.
       É mais do que tempo de corrigir essa perigosa  bagunça no tráfico de nossas cidades, pois a realidade no que tange ao ciclista requer apenas que se acrescente um não à frase vazia citada acima - os ciclistas estão sujeitos a todas as leis do trânsito. Desse modo, algum dia – se a autoridade cumprir com a sua obrigação e não escamoteá-la com ocas asserções – os moradores no Brasil (e os turistas !) poderão comprazer-se com o fato de que também aqui os ciclistas realmente obedecem às leis do trânsito.
      Assim, viveremos mais felizes e com mais segurança, o que igualmente se aplica aos prefeitos, que são as autoridades competentes no Brasil. Além das ciclovias, cuidarão do bem-estar e da incolumidade física dos cidadãos.  E por bem agirem estarão livres de se descobrirem expostos às penas da lei aplicáveis às autoridades que porventura prevariquem.  

 

A Via Crucis judicial  do  Conjunto punk  Meninas da Fuzarca

       Como se sabe, três jovens mulheres russas -  Nadezhda Tolokonnikova, Ekaterina Samutsevich e Maria Alyokhina – foram condenadas pela juíza singular Marina Syrova em agosto a dois anos de prisão por terem encenado na catedral ortodoxa de Moscou uma ‘oração punk’. A invasão do recinto foi considerada sacrílega, malgrado a defesa das três moças – que pretendiam protestar contra a candidatura de  Vladimir Putin e o apoio recebido do Patriarca ortodoxo, Kiril I .
      As três condenadas apelaram para a corte de segunda instância. No entanto, o julgamento do recurso pelos desembargadores teve de ser adiado, porque uma das rés, a Samutsevich não se julga mais representada pela sua advogada, Violetta Volkova, com cujas posições não mais concorda.
      O juízo foi, por isso, postergado para dez de outubro, a fim de que a ré possa tomar as providências pertinentes para dispor de nova representação legal.  A tensão entre as parte em conflito cresce, entrementes. Os defensores da posição eclesial cantaram hinos e orações na sala da audiência. Por sua vez, os partidários da ‘ Pussy  Riot ‘ trouxeram para a corte uma boneca inflável, que enverga uma balaclava. Diversas pessoas foram detidas, inclusive integrantes do conjunto de dança ucraniano Kazaky, que lá estava para dar força às moças presas.          
 

 Maus prognósticos para  o Tea Party?     

         Por circunstâncias sobejamente conhecidas, a eleição intermediária de novembro de 2010 pregou uma peça ao governo de Barack Obama. Os democratas perderam a maioria na Casa de Representantes, e a mantiveram a custo no Senado. A reação – que Obama chamou de shellacking  (tunda) -  trouxe para a Câmara baixa uma bancada assaz radical, integrada na maior parte por ultra-conservadores. Por causa desse influxo, o Speaker da Casa, John Boehner não tem sequer diálogo com o Lider da maioria, Eric Cantor, também republicano, mas que resolveu tornar-se o porta-voz do Tea Party.  O resultado mais clamoroso dessa tomada da Câmara pelos republicanos radicais foi o episódio da crise do teto fiscal da dívida pública.
         Em função do reacionarismo militante desse movimento – de que os notórios multibilionários irmãos Koch constituíram um dos principais financiadores e promotores – a Casa de Representantes passou para a opinião pública a imagem da paralisia legislativa, acoplada com o aludido reacionarismo. Não foi uma boa mistura, com o decorrente virtual rompimento entre Boehner, republicano de velha cepa, e Cantor, que julgara poder instrumentalizar a facção do Tea Party. Outro poente da Casa seria o hoje famoso Paul Ryan, que antes de ser escolhido por Mitt Romney como companheiro de chapa, já produzira na Comissão de Orçamento da Câmara um projeto que enfraquecia o Medicare (ajuda aos idosos) e o Medicaid (ajuda aos pobres). Dentro da linha do GOP de Robin Hood às avessas se trata basicamente de tirar dos de menor renda para dar aos ricos.
       Agora, o Partido Republicano se preocupa com as eventuais consequências da votação de seis de novembro para a composição da futura Casa de Representantes. A ineficácia dessa facção de ultra-direita tem provocada a reação do eleitorado. Assim, no Iowa, um estado agrícola aumentam as dúvidas dos eleitores sobre a permanência de Steve King, um dos mais agitados membros do Tea Party, que não conseguiu fazer o dever de casa, e dessarte não tem como responder às perguntas da concorrente direta, a democrata Christie Vilsack, a respeito do projeto de apoio à agricultura, que é de importância vital para o Estado.
        A própria Michele Bachmann, republicana de Minnesota – e que concorreu à designação presidencial (desistiu após as primeiras primárias) também enfrenta um desafio sério, de parte de um democrata, com bom apoio financeiro.
       Apesar de todas as estórias quanto à possível permanência de maioria republicana na Câmara, têm surgido muitas disputas renhidas, e com resultados imprevisíveis, alimentadas em parte pela má imagem da Câmara dominada pelo Tea Party. Também no Senado, onde as perspectivas dos democratas são de manutenção do controle, há disputas em que a interveniência do movimento radical veio em irônico auxílio ao partido de Obama. Dessarte, o veterano Richard Lugar teve denegada na primária o seu direito de concorrer pela sexta reeleição. Se ele tivesse ganho, os democratas não teriam chance de vencer. Com o GOP representado por um radical do Tea Party as possibilidades de vitória do democrata aumentaram deveras. Cenários idênticos repontam em outros estados.
       


( Fonte:  International  Herald Tribune )

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

O uso da bicicleta como meio de transporte é uma realidade. No Brasil a mentalidade ainda é da bicicleta apenas como exercicio fisico e não como meio de deslocamento para o trabalho.
Esta mudança de paradigma exige, além do cumprimento das leis de trânsito, um planejamento urbano que pense esta questão de forma mais abrangente.