domingo, 28 de outubro de 2012

Colcha de Retalhos CXXV

O  PT  e  o  Mensalão

            Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, vem a público em artigo reproduzido pelo site gaúcho Sul 21, com declarações que discrepam da reação da maioria dos líderes e dirigentes do PT.
            Pela sua trajetória política e sua presença no partido, as observações de Tarso são bastante bem-vindas, eis que, ao invés do vitimismo e da gritaria dos seus representantes, na toada do ex-presidente Lula da Silva, esse líder petista comparece com justa dose de bom senso.
            O governador gaúcho avalia que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal foi  "devido e legal",assim como considera "legítimo" o seu resultado.
            No seu entender, os acusados na Ação Penal 470 tiveram amplo direito de defesa. Nesse sentido, gestos de solidariedade dispensados aos condenados podem ser encarados como politicamente incorretos, além de ineficazes.
            O antigo Ministro da Justiça, em declaração a O Globo, assevera outrossim que " nenhum dirigente partidário nosso tem qualquer dúvida de que ocorreram irregularidades e ilegalidades naquele processo. Quem as fez, como as fez, e por que as fez é um nível de avaliação técnica que só o processo pode fazer".
             Tarso deixa meridianamente claro que sabe muito do terreno minado em que se aventura. Avisa, por conseguinte, aos militantes que irá defender uma tese que não será simpática àqueles que apressadamente dizem que o resultado do processo foi ilegal ou ilegítimo.
             Em meio aos aranzéis e ao destampatório da liderança petista, com Lula da Silva à frente, o governador do Rio Grande do Sul assinala: " Entendo que isso seria uma solidariedade, além de ineficaz, jurídica e politicamente incorreta. Sustento que o processo  foi ´devido´ e ´legal´. E o seu resultado não está manchado de ilegitimidade: os procedimentos garantiram a ampla defesa dos réus e, embora se possa discordar da apreciação das provas e da doutrina penal abraçada pelo relator ("domínio funcional dos fatos" ), a publicidade do julgamento, a ausência de coerção insuportável sobre os juízes - inclusive levando em conta que boa parte deles foi nomeada pelo próprio presidente Lula - dão suficiente suporte à decisão da Suprema Corte".
             Tendo-se presente de quem se trata - um dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores e um de seus militantes mais provados e preparados - o testemunho de Tarso Genro é a um tempo corajoso e convincente.
             Dentre o imperante histerismo - capitaneado pelo ex-presidente Lula da Silva, no seu presente avatar no que respeita ao mensalão (como é do domínio público, Lula já teve diversas posturas e reações quanto ao escândalo) - semelha de toda relevância que uma figura partidária da estatura, nível e  importância de Tarso Genro venha a público para mostrar um Partido dos Trabalhadores que conhecemos no passado. Com a sua integridade, Tarso nos recorda aquela agremiação ética e pugnaz  da planície, de que se poderia até discordar, mas sempre no respeito das ideias e das causas. Nada a ver com  os recursos desse novo  PT, com sua discutível linguagem, retórica e  alianças, em que os fatos e a verdade estão para serem pisoteados,  se tal lhe pareça oportuno.    

Caos Urbano no Rio de Janeiro                  

              Os ônibus no Rio constituem um caso de polícia, como as ocorrências desta semana mais uma vez o indicaram.
              Na quinta-feira dessa semana, houve doze acidentes com ônibus no Rio de Janeiro. Nesta batalha,  registra-se a morte de um passageiro e sessenta e um feridos.
              No centro, tombou um coletivo  que desobedecera o sinal. O acidente aconteceu em movimentado logradouro da cidade - a praça Tiradentes. Ele é resultado do sistemático desrespeito pelos motoristas de ônibus das leis do trânsito.
              Os cariocas já estão muito atentos às idiossincrasias dos apressados choferes de coletivos. Para esses condutores, o amarelo do sinal vale como verde, e por isso é muito comum que na sua correria desrespeitem o vermelho. Dado o volume e a velocidade de tais ônibus, o pedestre que confiar na luz verde do semáforo corre sério risco de ter abreviada a própria existência.
             O transporte público urbano está submetido ao prefeito e às leis municipais. Nas últimas eleições, em que Eduardo Paes foi eleito em primeiro turno, não faltaram promessas de melhores condições para os usuários do transporte coletivo. Ar condicionado em todos os ônibus, e três horas de validez da passagem comum (aqui são apenas duas, ao contrário de Sâo Paulo).
             Declarado vencedor, resta agora aguardar que as promessas de campanha se tornem realidade. Alguém duvida acaso que Sua Excelência cumprirá com o prometido no seu generoso tempo de propaganda política obrigatória, tão generoso aliás que comprimiu os poucos partidos, como o PSOL, que optaram pela oposição, a escassíssimos minutos...
            Poderá o carioca, usuário do transporte coletivo viário, acalentar a esperança de que terá mais consideração do poder público ?  Se a semana passada representa uma sinalização,  tivemos nova reedição do brutal caos urbano.

O Escândalo dos  Vagões do Metrô Carioca   

              Recordo-me da última inauguração de estação do Metrô Carioca. Foi saudada com muita esperança pelos usuários, e a sua abertura justificou até a alegre presença do então Presidente Luiz Inacio Lula da Silva. Sua Excelência pegou uma festejada carona na composição que com o Governador Sérgio Cabral - na época candidato à reeleição - assinalou a efeméride eleitoral da nova estação de General Osório.
             Após quatro anos de escavações, Ipanema passaria a dispor de sua linha de metrô, em clima de euforia, na presunção de um transporte metroviário rápido e confortável.
             Sabemos que os governadores - e não os prefeitos - são os responsáveis pelo metrô. Disso o povo carioca sabe. O que se desconhecia é que a nova estação não pressupunha um melhor serviço para o usuário.
             Nas velhas, decrépitas composições - aqui se inauguram estações, mas se mantém os mesmos vagões do tempo do regime militar - aumentou decerto o número de passageiros, mas em nada melhoraram as condições mínimas de conforto e de respeito para o público.
             As promessas continuaram - com a habitual desfaçatez - mas os meses passam e os velhos vagões permanecem, nunca substituídos pelos acenados novos que viriam da China. As postergações se repetiram com desavergonhada insistência, e o sistema do metrô já rivalisa em horas de rush (um conceito elástico que se estende por um tempo incrível) com aquele outro da Supervia da Central do Brasil.
             Será que o governador Cabral terá oportunidade de cumprir com as suas iteradas - e sempre renovadas - promessas da mítica chegada (procedente da China) dos tais vagões ? Talvez a pergunta seria melhor fraseada se dissermos: Será que alguém ainda acredita nesses tais vagões ? Ou é que pretende inaugurá-los nos dois magnos certames com que Lula e Cia. comprometeram festosamente o Rio de Janeiro: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016).

(  Fonte:  O Globo )

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