quinta-feira, 5 de abril de 2012

Projeto de Orçamento do Tea Party

                              
        O Presidente Barack Obama em discurso no tradicional almoço oferecido pela Associated Press atacou frontalmente o estranho documento produzido pela maioria republicana na Casa de Representantes, que se apresenta como projeto de Orçamento dos Estados Unidos da América.       
       O citado projeto, que é de autoria do Deputado Paul Ryan, atual presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, já tinha sido denunciado em artigo do Prêmio Nobel Paul Krugman como verdadeira fraude. Foi aprovado por 228 votos a favor, e 191 contra, em linha estritamente partidária, com dez abstenções de deputados republicanos, e nenhum voto democrata. Em sã mente,  o que se poderia dizer de bom a respeito é que o aludido orçamento não tem qualquer possibilidade de ser votado pelo Congresso (o Senado é afortunadamente de maioria democrata), nem muito menos sancionado pelo Presidente estadunidense.
      É de congratular-se que Obama assuma agora papel que está muito mais para o combativo Harry Truman (que apostrofava o então Congresso republicano como ‘do nothing[1] ), do que para o abúlico e centrista presidente das discussões sobre o teto da dívida fiscal. 
      O Presidente condenou o projeto de Orçamento aprovado pela Câmara como verdadeiro ‘Cavalo de Tróia’ e um ‘mal-disfarçado Darwinismo social’ que muito aprofundaria a desigualdade no país.
Nesse sentido,  Obama o considerou qual verdadeira ‘antítese para a história americana como a terra de oportunidades e de mobilidade para cima, para todos aqueles que desejam esforçar-se nesse objetivo’.
      O radicalismo do Tea Party, personificado pelo líder da maioria Eric Cantor na Casa de Representantes – as suas relações com o Speaker Eric Boehner, republicano também, mas mais moderado, são difíceis e quase se cingem ao aspecto social – está por trás desse orçamento arquitetado por Paul Ryan, chefe do comitê orçamentário.
      As palavras de Obama bem definem o que significa e implica tal projeto de orçamento para o ano fiscal de 2013: ‘embuçado como plano de redução do déficit, é na verdade tentativa de impor visão radical em nosso país.’ O dito orçamento prevê US$ 5,3 trilhões em cortes de despesas, assim como cortes em impostos para casais que ganhem mais de US $ 250 mil.
       Esse plano Ryan prevê extensas mudanças no Medicare (programa de saúde para idosos, sancionado por Lyndon Johnson), leva adiante antigo propósito republicano ao apoiar plano alternativo que pune os pobres e os idosos, enquanto recompensa os ricos com ulteriores cortes de impostos. É uma peculiar maneira de solucionar o problema orçamentário americano – beneficiando os ricos  e prejudicando os pobres e velhos, que são chamados a pagar a conta das benesses dados aos mais abastados.
      O discurso de Obama se está tornando mais eficaz e percuciente. Tem chamado a atenção da opinião pública, em vigorosas alocuções, quanto as distinções entre a visão do candidato republicano (com as previsões convergindo em torno de Mitt Romney) e a do atual Presidente. Além de refutar o mantra reaganiano da gotejante (trickle-down) prosperidade, Obama enfatiza que o povo americano não pode permitir-se a eleição de um republicano em tempos de frágil recuperação econômica, com mercado de trabalho ainda fraco e esmagadora divida nacional decorrente de “duas guerras, dois maciços cortes de imposto e uma crise financeira sem precedentes”.
      Por mais cambalhotas e piruetas que faça o GOP, os republicanos não podem negar a responsabilidade pelas duas guerras, com o enorme déficit causado sobretudo pelo conflito do Iraque - justificado pelas inexistentes armas de destruição em massa (WMD) – e pela crise financeira, deslanchada pelo festival da hipoteca subprime e o malabarismo financeiro dos CDOs[2]. Por outro lado, o irresponsável corte de impostos para os mais ricos, sancionado por Bush Jr. concluiria a obra de transformar em déficit o superavit deixado pelo 42º presidente, Bill Clinton.
      O  Orçamento de Ryan determina a seis comitês da Casa de Representantes que elaborem planos para cortar o déficit em US$ 261 bilhões em princípios de maio para evitar os cortes automáticos que atingiriam os dispêndios militares de acordo com o plano aprovado no verão boreal passado.
     Assim cortes teóricos agora se tornariam concretos em questão de semanas – e atingirão de modo pesado a alimentação, assistência sanitária e a previdência. Há uma série de providências que se não forem obstaculizadas reverterão em cortes punitivos de despesas que favorecem os pobres e os idosos, categorias sociais que semelham não serem prioritárias para os republicanos, máxime os da corrente direitista e do Tea Party.
      A atuação radical da Câmara dominada pelos republicanos tem feito baixar bastante a aprovação popular desse ramo do Legislativo, sob gerência do GOP. Uma linha de ação determinada, e um discurso que exponha as incríveis verdades de um partido que quer passar a conta dos déficits de Bush et al.  para os segmentos com menos recursos (afro-americanos, velhos e pobres) pode assegurar não só a reeleição de Barack Obama, senão a eleição, em seis de novembro de 2012, de um Congresso com maioria democrata.
      A esse propósito, tanto Obama, quanto os líderes democratas no Senado (Harry Reid) e na Câmara ( Nancy Pelosi ) deverão agradecer a especial gentileza do radicalismo republicano, reificado por Paul Ryan, Eric Cantor e a voluntariosa ala do  Tea Party, com os substanciais fundos dados pelos multibilionários irmãos Charles e David Koch.





 ( Fonte: International Herald Tribune )     



[1] ‘nada faz’.
[2] Collaterized Debt Obligation – os certificados de divida de obrigações de colateralizada, a maioria dos quais avaliada pelas agências de risco como com segurança máxima (AAA+)

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