segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Eleição Francesa (I)

                                     
        As agências haviam dado vantagem maior para François Hollande (PS), no primeiro turno, chegando até quatro pontos percentuais. Por sua vez, prognosticaram que o candidato da extrema-esquerda, Jean Luc Mélenchon (P.E.) estaria colado à Marine Le Pen, do Front National, o que tampouco ocorreu.
         É de entender-se, portanto, que a maior animação esteve na sede de campanha de Nicolas Sarkozy (UMP). Com uma diferença de apenas 1,5% para o dianteiro Hollande, tudo está por decidir no segundo turno.
        As pesquisas indicavam uma vantagem do socialista sobre o Presidente no segundo turno (domingo, seis de maio) que atingia margem de dois dígitos.
        Com os totais do primeiro turno – a abstenção foi de 20% - semelha difícil que François Hollande possa manter uma tal distância do presidente.
       A popularidade de Sarkozy, muito alta ao ensejo de sua eleição de 2007, caíu bastante no curso de seu mandato, por um conjunto de fatores, em que o aumento da idade de aposentadoria terá sido o mais forte.
       Os dois candidatos que passaram para o segundo turno tem a mesma idade (57 anos), mas as semelhanças não vão muito além.  O triunfo de François Hollande sinalizaria mudança de rumo para a França, com a sua promessa de impostos mais altos sobre os ricos, e a ênfase no crescimento, ao invés da auteridade fiscal, o que há de provocar tensões com o principal parceiro, a Alemanha de Angela Merkel, assim como turbar os mercados que já veem com inquietação o alto índice de endividamento da França.
      Conforme  sua personalidade, Hollande não desenvolve campanha até agora que se assinale pela inventiva e pela capacidade de mobilizar o seu substancial eleitorado. No segundo turno, terá por certo a maior parte dos votos da extrema esquerda (11,1%), atribuídos a Mélenchon. Note-se que tal parcela efetiva encolheu bastante em relação às pesquisas, que chegaram a vaticinar-lhe a superação dos sufrágios de Marine Le Pen.
      O candidato do centro, François Bayrou, regrediu em relação  a 2007. Então tivera  18% dos votos, agora a metade, 9%. A transferência prevista dos sufrágios centristas tenderá a dividir-se entre  socialista e o presidente, não devendo ser, portanto, um fator determinante para a vitória de qualquer um dos dois.
      O que poderá decidir a eleição seria um afluxo maior do que o previsto de parte do Front National. Além de sua posição, estimada mais enérgica, no que tange aos tópicos da imigração e da segurança – e que podem ajudar Sarkozy a captar mais votos da extrema direita – que o presidente logre sustar que porção considerável da votação dada à Marine Le Pen engrosse as abstenções e lhe diminua, em consequência, o apoio da extrema direita.
       Dado o estigma que ainda persiste na posição do Front National – malgrado a maior habilidade da filha Marine em relação a seu pai, o proto-líder da extrema direita francesa, Jean-Marie Le Pen, na cosmetização do programa partidário, por muitos ainda considerado como na faixa externa do arco constitucional – Nicolas Sarkozy que sempre vincou, em momentos importantes, os respectivos pendores para posições de direita[1], terá, nesta fase decisiva, de navegar com cuidado redobrado, porque qualquer exagero nas aberturas para a extrema direita poderá redundar em sangria de votos de centro e daqueles eleitores da UMP – e não são poucos – que se sentem pouco confortáveis na companhia dos partidários da ultra-direita.
       De uma coisa se pode estar certo. As perspectivas de vitória do candidato socialista seriam muito maiores, na hipótese de que o PS fosse representado por Dominique Strauss-Kahn (DSK). No ano passado, no entanto, por uma conjunção desfavorável, em que de uma parte a velha luxúria, e de outra,  nunca foi bem esclarecido  quem realmente estava por trás da operação, protagonizada pela camareira Nafissatou Diallo,  guineense, o então Diretor-Geral do FMI, e pré-candidato putativo ao Elysée, viu vaporizar-se sua pretensão. Pouco importa que, por inexistência de provas convincentes, todas as acusações ao trêfego DSK hajam sido retiradas pela promotor distrital de New York, Cyrus R.Vance Jr. Os prazos de inscrição de candidatura já tinham vencido, dúvidas subsistiam, e a Nicolas Sarkozy – que, em trinta anos, é o primeiro presidente francês ameaçado de não-reeleição – se deparam, de repente, melhoradas as próprias possibilidades, diante da intrínseca falta de brilho do candidato socialista François Hollande.




( Fontes:  International Herald Tribune, O Globo )       



[1] como a promessa de combater  ‘la racaille’ (a ralé), quando da onda de incêndios de protesto nos subúrbios de Paris e outras cidades francesas.

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