A líder
da Liga Nacional para a Democracia, Aung
San Suu Kyi disse hoje, 30 de abril,
que prestará o juramento de investidura no Parlamento de Myanmar como deputada.
Até o momento nenhum dos 43 deputados da
Oposição havia jurado, por dificuldades com a linguagem do aludido compromisso.
A direção partidária solicitara que se modificasse a redação para ‘pautar-se
por’ (abide by) ao invés de
‘proteger’. Como o presidente Thein Sein
não mostrou disposição de aceder, Suu Kyi
afirmou que irá jurar amanhã. Em entrevista à imprensa, Suu Kyi declarou que ‘irá jurar pelo país e pelo povo’. Perguntada se não daria sinal de fraqueza pelo recuo na questão do juramento, ela disse “Não me importo.” Esclareceu, outrossim, que iria ao Parlamento na capital, Naypyidaw, na quarta-feira, dois de maio, para atender “um pedido (demand) da gente que votou por mim”.
Assinale-se que o legislativo de Myanmar tem 664 assentos, dos quais agora 43 serão ocupados pela oposição.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. se encontra em Myanmar, dentro da série de visitas de personalidades ocidentais, após o longo isolamento da antiga Birmânia. Antes da viagem, o Secretário-Geral definira o estágio de democratização como ‘recente e ainda frágil’.
Thein Sein, um militar reformado, iniciou a abertura de um dos regimes mundiais mais fechados e corruptos, depois da longa ditadura do general Than Shwe. O governo ditatorial de Shwe chegara a recusar até donativos emergenciais para a população birmanesa. Em maio de 2008, o ciclone Nargis, de maio de 2008, causou a morte de cerca de cem mil pessoas, além da grande devastação para a economia de subsistência daquele país.
A CPI do
Cachoeira
O impulso principal da referida CPI foi dado pelo ex-presidente Lula da Silva. A estranhável iniciativa, pouco usual se partindo de instâncias pró-governamentais, é explicada como um ‘acerto de contas’ de Lula com um desafeto seu, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Os rancores de Lula – que já provocaram estragos consideráveis na oposição, ao ensejo das últimas eleições – terão contrariado a sua pupila e Presidente Dilma Rousseff. Esse primeiro choque manifesto entre criador e criatura demandou uma longa reunião no Palácio do Planalto, para um acerto de ponteiros, entre o chefe máximo e a atual Presidente.
Compreende-se as preocupação da Chefe do Governo com a presença disruptiva de uma CPI, cuja criação não está certamente dentre as suas prioridades.
Procurou-se, assim, uma chefia de CPI – presidente e relator – que seja mais manejável. Esse tipo de comissão pode ser domesticada – e estão aí os arremedos controlados pelo finado Orestes Quercia para comprová-lo – mas dados os vazamentos e o clamor público, é jogo complicado, muita vez de resultados imprevistos.
Na maioria, há dois governadores de difícil blindagem, i.e., Agnelo Queiroz Filho (PT/DF) e Sérgio Cabral (PMDB/RJ). Se o primeiro está comprometido por fraca administração (além dos escândalos, é considerado o pior governador de Brasília), o deputado Garotinho (PR/RJ) tem colaborado ativamente com a CPI através do seu blog, com divulgação de fotos das estreitas relações do governador Cabral com o dono da Delta, Fernando Cavendish. Há de tudo, inclusive um opíparo jantar em faustoso restaurante de Monaco, de que participaram o governador viajante e o seu amigo e grande empreiteiro.
Por falar em blindagem, a maioria esmagadora da CPI é do governo (41 parlamentares da ‘base’) contra 14 da oposição e 8 independentes. Se houver, no entanto, demasiado arrocho de parte dos representantes da Administração Rousseff, por exemplo, com negação de convocações de testemunhas (como já está acontecendo), a tentativa de sufocar as revelações da Comissão virão a público de qualquer maneira, com a consequente desmoralização da maioria.
Ou será que o velho e tarimbado político Lula da Silva pensa ser politicamente sustentável que possa pretender vir a fritar apenas integrantes da oposição – como o desafeto Marconi Perillo – enquanto livra os companheiros Queiroz e, por que não, o bom amigo Cabral ?
O Sudão ataca o
Sudão do Sul
Sob a cortina de condenações verbais da parte do State Department – ‘o Sudão deve interromper de imediato o bombardeio aéreo e de artilharia contra o Sudão do Sul’ - as forças do general Bashir se movimentam com aparente desenvoltura, diante da fraqueza do adversário e a certeza da proteção de Beijing, que estará pronta a vetar qualquer intervenção mais vigorosa das Nações Unidas.
Pela suposta baixa prioridade internacional, o Sudão do Sul, recém-saído das festividades da independência, corre o risco de outra invasão pelo Norte. Para o general Bashir, o jeito seria expulsar os “insetos” do Sul do poder. Segundo o general-presidente, os sudaneses do sul “só entendem a linguagem do fuzil e das munições”.
Por falar nisso, os sudaneses do norte têm também dificuldades com as sublevações com as populações das montanhas da Núbia e do Nilo Azul. Não será então que a realidade seria bem outra? Dessa maneira, ao revés das palavras do general-ditador, as comunidades sob o domínio de Cartum aprenderam por experiência própria, que sómente por meio da resistência armada terão alguma esperança de livrar-se de seu sufocante abraço e dos demais amigos de Cartum ?
As Mulheres
Turcas
Havia no início a preocupação de não tropeçar como movimentos anteriores, de influência muçulmana. Atualmente, após um predomínio de dez anos, os escrúpulos de Erdogan de parecer um democrata liberal vão esmaecendo, como se observa em diversos fronts, em que o autoritarismo islâmico se vai despojando dos acenos e disfarces passados.
O piedoso Recep Erdogan, cuja mulher tem sempre os cabelos cobertos, a princípio fez dos direitos femininos prioridade de governo. No contexto da tentativa de entrar para a União Europeia, ele privilegiou tais direitos, revogando leis discriminatórias, criminalizando o estupro no casamento, e introduzindo a cadeia perpétua para familiares que praticassem os chamados assassinatos de honra.
Com o passar do tempo, no entanto, o esmaecimento da tentativa de tornar-se membro da U.E. e o recrudescer do regime islâmico, a posição da mulher na Turquia se tem visto bastante debilitada.
Se a adjetivação da democracia implica necessariamente no seu desvirtuamento – e o tema se afigura demasiado amplo para ser aqui versado -, o seu avanço se insinua igualmente no campo dos direitos da mulher.
Assim, na avaliação dos analistas, os direitos das mulheres vem regredindo na Turquia. Se a educação obrigatória das mulheres deve abranger doze anos – para colocá-la nos parâmetros da OCDE – a lei marotamente permite que, após os oito anos iniciais, a escolaridade seja doméstica, o que permite aos pais conservadores manter as filhas fora do colégio, confiná-las em casa ou casá-las.
Também na área da violência doméstica, o progresso pode ser em muitos casos aparente. Ao lado de leis que ‘não pegam’, as mulheres são submetidas à mentalidade patriarcal. Assim, muitas vezes na delegacia de polícia elas são persuadidas a voltarem para a casa onde sofreram abusos e violência do marido.
Semelha simbólico que Arzu Yildirim foi alvejada oito vezes por seu companheiro, morrendo em rua de grande movimento em Istambul. Isso ocorreu apesar de que tivesse dado entrada de queixa-crime ao promotor público, a quem pedia proteção. A documentação correspondente foi encontrada na sua bolsa manchada de sangue.
Outro exemplo desse estado de coisas é a existência de Gokce, mulher de 37 anos foragida (do marido) há quinze anos, desde o dia em que este arrombou a porta e lhe deu seis tiros nas pernas por causa da recusa em ficar a seu lado. Desde então, o esposo raptou a mãe e apunhalou o irmão dela, no intento de arrancar-lhes a localização da cônjuge. As idas à polícia de Gokce são inúteis, porque a par de censurá-la, os funcionários tentam convencê-la a retornar ao lar.
Gokce - que não revela o sobrenome por óbvios motivos – assevera que o Estado turco é o inimigo número um das mulheres. ‘Tinha catorze anos quando o meu marido principiou a me bater, e agora tenho 37, e ainda vivo temendo por minha vida, malgrado todos os meus gritos de socorro.’