domingo, 2 de outubro de 2011

Colcha de Retalhos XCII

                    

O mapa eleitoral do Presidente Obama

      Que a sua reeleição em novembro de 2012 não será o passeio que foi o triunfo contra John McCain, quando arrebanhou 365 votos no colégio eleitoral (para vencer o pleito são necessários 270), nem Barack Obama, nem os encarregados da respectiva estratégia política, com David Axelrod à frente, alimentam qualquer dúvida.
      Não se trata apenas da difícil situação econômica – e o tremendo obstáculo que coloca para presidente candidato à reeleição. Outro fator não negligenciável é a própria personalidade de Obama e a sua tendência a compor-se com a liderança republicana, perdendo-se em geral na ilusão de uma solução de compromisso (como se verificou nos dois embates, de dezembro de 2010, e no mais grave, da extorsão para aprovar o novo teto da dívida pública). Essa falta de firmeza,  lamentável característica de dobrar-se perante o adversário, muito tem contribuído para tirar a segurança dos democratas, eis que, dados os precedentes, paira sempre no ar o temor de que Obama, no frigir dos ovos, volte de novo a ceder.
     Este traço deplorável – e o pesado golpe por ele vibrado contra a sua imagem de líder – constitui a verdadeira nêmesis que lhe corrói a força e as possibilidades. Afirmando-se como realidade a rondar-lhe o comportamento,  seu potencial corrosivo cresce através do emprego crescente pelos caricaturistas políticos, deleitados em expor-lhe a gritante fraqueza.
    Não obstante o que precede, o campo democrático ganhou nova injeção de esperança com a iniciativa – assinalada pelo discurso presidencial no Congresso, que ensejara a John Boehner, o Speaker republicano, a oportunidade de inédita grosseria na história estadunidense [1] - da criação de novos empregos. O projeto de Obama – que depende de aprovação pelas duas Câmaras – se restringe a um ano, mas foi elogiado até por seus críticos, dada a habilidade evidenciada em tornar-lhe a rejeição pelo GOP mais onerosa politicamente.
    Por outro lado, o presidente voltou a colocar na mesa o seu projeto – abandonado por mais de uma vez – de acabar com a dádiva de  Bush Jr. aos contribuintes mais ricos, em termos de rebaixa na alíquota fiscal. Conta agora Obama com o apoio do bilionário Warren Buffett, o que aumenta o constrangimento para os republicanos.
   Dentre as baixas da atual Grande Recessão está o voto operário (blue collar). Apanágio dos democratas no passado, a queda no poder aquisitivo, o desemprego e as consequentes dificuldades para esta faixa do eleitorado se vem refletindo em perda de apoio para Obama. Por isso, o estado de Ohio não é mais havido como a ser conquistado pelo presidente. A vitória nesse estado é tida como muito importante, eis que desde 1964 todos os candidatos eleitos presidente venceram neste estado do meio-oeste.
    No entanto, de acordo com os estrategistas democratas, outras dinâmicas poderiam afetar tal resultado. É o que se verifica em estados antes vermelhos e hoje potencialmente azuis.[2]  Com efeito, em estados como Colorado, Virgínia e Carolina do Norte, e a sua nova realidade sociológica – maior número de independentes com melhor nível educacional e faixas mais altas de renda, hispânicos e afro-americanos – surge a possibilidade de maiorias democratas, máxime por causa da alienação provocada pela ala reacionária do Tea Party. A vitória em 2010 no Colorado, em disputadíssima eleição para o Senado (e ao contrário da onda que derrubou a maioria democrata na Câmara de Representantes) pelo candidato democrata Michael Bennet comprova a tendência.
        De acordo com o Senador Bennet, é impensável a vitória no Colorado sem o apoio dos independentes. No seu entender, o que motivara os eleitores em 2010 fora a pergunta ao eleitor se desejava alguém que fosse para Washington para tentar resolver os problemas do país, ou se queriam alguém sectário, para marcar  posição. Ao ver de Bennet, o eleitor continua à procura de quem solucione os problemas, e assim o presidente tem uma boa causa a defender.
         Será possível que nos comícios de novembro de 2012, o eleitorado americano venha a decidir por um Barack Obama mais engajado e mais confiante nas respectivas propostas. O Partido Democrata não dispõe de alternativa. Com o Vice Joe Biden e os demais democratas, a esperança é rever o Obama que derrotou nas primárias a Hillary Clinton, e nas gerais, esmagou a John McCain. Nos últimos tempos, a efígie de um Obama lutador e defensor da plataforma democrática reapareceu.
        Só resta esperar que não seja um elemental, uma miragem, e que saiba conduzir as hostes do partido e dos independentes à sua reeleição em novembro de 2012.


Que Adversário para o Presidente ? 

         O número de pré-candidatos republicanos para representar a alternativa ao presidente em exercício inchara bastante, em função da queda de Barack H. Obama nas pesquisas eleitorais e da recente vitória do GOP (the shellacking – a surra) para as eleições intermediárias de 2010. A par das idiossincrasias pessoais e das consequentes crenças em improváveis ressurreições, nas últimas semanas o número de candidatos reais reduziu-se deveras.
       Dessarte, o líder continua a ser o moderado ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney. Pré-candidato já em 2008, é aquele que tem a organização mais bem estruturada, e que tem sabido superar os recorrentes desafios. Em Iowa, empatara na prévia com a surpreendente deputada Michele Bachmann, radical do Tea Party e criacionista convicta.
      O pelotão republicano foi a seguir sacudido pelo Governador do Texas, Rick Perry, que foi a princípio considerado como favorito, uma espécie de novo Reagan para motivar a ala conservadora do GOP.  Conquanto Perry se haja de certo modo consolidado como o rival de Mitt Romney, a sua abismal performance no último debate na Flórida, tende a fragilizar um tanto a sua pré-candidatura.
        Enquanto Mitt Romney tem sabido negociar o seu apoio como governador ao plano de saúde de seu estado – que muito se assemelha à Reforma Geral da Saúde aprovada pelos democratas em 2010 – com a sua estranha negação de tal reforma enquanto válida para todo o país (no que se adequa à visceral negativa republicana ao chamado Obamacare),  Rick Perry vem perdendo pontos junto aos republicanos, pelo fato de ser um conservador realmente compassivo (concedeu ajuda escolar a filhos de imigrantes ilegais, no seu estado do Texas, o que para o GOP e os seus tristes parâmetros humanitários, é anátema).
      A imprensa, ou considera a possibilidade de uma disputa sempre mais forte e desgastante entre Romney e Perry, ou menciona a perspectiva da entrada na liça do governador de New Jersey, Chris Christie. Dentro do cenário político americano, existe a figura do candidato eventualmente convocado. Embora não haja mais ingênuos como antigamente que acreditem na efetiva realidade de tal criatura política, Christie vem pautando a sua atuação pela evidente insatisfação da maioria do GOP com a probabilidade de que Mitt Romney, o republicano moderado venha por fim a empolgar a nomination presidencial. Assim, diante das debilidades do antes favorito Perry, aparece um possível pré-candidato com fumaças conservadoras.
      No entanto, a campanha pela designação convive mal com a indefinição. Christie até o presente não confirmou se tenciona baixar à arena dos pré-candidatos. Para tanto, ele carece de abandonar as negaças e confirmar a inscrição nas primárias da Flórida (com prazo final em outubro corrente).
      Por ora, Mitt Romney continua como o front-runner da candidatura. A despeito disso, a sua posição não é invejável, pois ser tépido o seu apoio no estamento partidário. A maioria do GOP quer um conservador de boa cepa como candidato, e por isso não morre de amores por Romney. Por sérios condicionamentos ideológicos reluta em reconhecer no ex-governador do estado liberal da Nova Inglaterra como um formidável cabeça de chapa para tornar realidade o sonho do Senador Mitch McConnell, líder da minoria, de afinal conseguir que Barack Obama seja apenas mais um presidente de um só mandato.


Putin para Presidente

       Nesta semana, um segredo de Polichinelo ganhou por fim as páginas da imprensa e a sua inexorável confirmação. As veleidades do Presidente Dmitri A. Medvedev de uma eventual reeleição desde muito se viam desmentidas pelas nuas realidades do poder na Federação Russa.
        Malgrado os eventuais desejos de que Medvedev, supostamente mais liberal do que o seu patrono, teria alguma chance em contestar o que de muito já se podia ler nas paredes oficiais, terminou por ser contraditado pelo próprio candidato imaginário.
        Dessa maneira, o presidente Medveded veio a público anunciar que não postularia de novo a presidência, retirando sua  pretensão em favor  de Vladimir V. Putin, que, consoante tudo indica, será eleito em março próximo.
       No carrossel do poder, o nome do novo Primeiro Ministro tampouco surpreende. Trata-se de Dmitri A. Medvedev que assim volta para as antigas funções.
       Se se admitem previsões, neste mundo político russo, em que a sombra do antigo funcionário da KGB se estende talvez até além da atual década, é que os prognósticos para o crescimento daquela tenra plantinha da democracia de que nos falava Mangabeira continuam a ser assaz reservados.



( Fonte: International Herald Tribune )



[1] Nunca até então um presidente tivera denegada a data solicitada para a sua alocução junto às duas Casas do Congresso.
[2] Em mais uma indicação do caráter sui-generis da superpotência, a cor azul é atribuída aos estados do Partido Democrata, e a vermelha, aquela em que prepondera o GOP.

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