quarta-feira, 1 de julho de 2009

Iraque: o Exército americano se retira das Cidades

Dentro do cronograma da Administração Obama, a trinta de junho as tropas americanas iniciaram a retirada do Iraque. O governo xiita do Primeiro Ministro Nuri al-Maliki saudou esta data, embora se trate de retirada parcial, com o feriado denominado Dia Nacional da Soberania.
“Aqueles que pensam que os iraquianos não estão em condições de proteger o seu país, e que a retirada das forças estrangeiras criará um vácuo de segurança cometem um grande erro.” Em alocução televisada para todo país, o chefe do governo não fez qualquer menção ao envolvimento dos militares americanos nos combates dos passados seis anos. Tampouco referiu-se ao fato de que um efetivo de cento e vinte mil homens das tropas estadunidenses permanecerá aquartelado em solo iraquiano.
Havendo opiniões discrepantes sobre o impacto da presença citadina das tropas americanas, o comando militar dos Estados Unidos cuidou de afastar previamente o grosso de seus elementos. Com efeito, se em certos lugares se associa o soldado americano com a existência de maior segurança, em outros é tido como um transtorno, por causa de detenções abusivas e até por causar problemas de tráfego.
De qualquer maneira, e de acordo com as autoridades iraquianas, foram estabelecidas guarnições em posições estrategicamente próximas dos centros de poder no Iraque. A par disso, o número relativamente alto dos efetivos dispostos em bases no país representa óbvio recurso de segurança, se a insurgência crescer e ameaçar a estabilidade do governo constitucional.
A explosão de um carro-bomba em uma feira, na cidade nortista de Kirkuk, matando pelo menos 24 pessoas, constitui aviso importante acerca da potencial gravidade da ameaça colocada pelas forças insurgentes. A evolução da curva das atividades da insurgência será monitorada de perto pelo comando americano das forças de ocupação, eis que será o barômetro da viabilidade de um Iraque soberano pós-guerra.
Até o presente, o primeiro Ministro al-Maliki não tem demonstrado na prática intenção de tornar realidade uma efetiva participação de importante minoria sunita tanto nas forças militares e de segurança, quanto nos postos de direção da administração nacional.
Por ora, o poder civil no Iraque é partilhado pelos árabes xiitas e pelos curdos. Jalal Talabani é o presidente do estado iraquiano, cuja importância política transcende a papel precipuamente cerimonial das respectivas funções, por representar o embrião de estado curdo ao norte.
Por sua vez, a estabilidade da administração chefiada por al-Maliki dependerá de controle das milícias xiitas e da medida em que projetar para a comunidade sunita que seu governo objetiva o entendimento entre xiitas e sunitas. Até agora o Primeiro Ministro não tem transmitido tal imagem. No que tange ao relacionamento com a poderosa milícia xiita de Muqtada al-Sadr, o chamado exército Mahdi, até o presente a convivência semelha aceitável, de conformidade com um alegado modus vivendi existente entre o chefe do governo e o líder do grupo armado.
Outra interrogação quanto ao futuro do Iraque está em suas relações com o vizinho iraniano. Com a supremacia política da comunidade xiita, após a derrubada de Sadam Hussein, a relativa aproximação com os xiitas iranianos seria previsível. A influência de Teerã, no entanto, é uma questão não de todo determinada, conquanto sua presença haja crescido bastante, em função de que o credo xiita, minoritário no mundo muçulmano, é majoritário em ambos os países.
Relações Estados Unidos – Iraque. A desastrosa aventura militar, iniciada a 20 de março de 2003, com o bombardeio de Bagdá, fora desejada pelos neo-conservadores, para trazer a democracia ao Oriente Médio. Fundada sob falsas acusações ( Sadam Hussein e as armas de destruição de massa, seu suposto envolvimento com a al-Qaida de Osama bin Laden ), brandidas pelo vice-presidente Dick Cheney e pelo Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, com a conivência de George Tenet, diretor da CIA, a empresa militar teve proclamado o seu término pelo Presidente George Bush, ao aterrissar no porta-aviões Abraham Lincoln. A faixa ‘Missão Cumprida’ marcou o farsesco episódio do açodado anúncio do fim no Iraque dos enfrentamentos militares de maior importância. Aquele dois de maio de 2003 que para Bush júnior devia simbolizar o triunfo da Superpotência passaria a ser desconstruído por série incessante de baixas fatais, resultado de uma guerra mal concluída, e que no cômputo atual montam a 4321 soldados americanos mortos pelos insurgentes iraquianos.
Com o surge (recrudescimento) do general David H. Petraeus, houve sensível diminuição no ritmo das perdas, e um avanço no controle de importantes áreas urbanas. O velho fenômeno da reversão de alianças, com o aproveitamento de antigos adversários, foi a chave principal para a relativa melhora observada, dentro do prisma da participação estadunidense.
A estratégia do Presidente Barack Obama entra agora em fase decisiva. Consoante o compromisso assumido pelo novo Presidente, em 31 de agosto de 2010, todos os efetivos de combate se terão retirado do Iraque. Por outro lado, em fins de 2011, não haverá mais tropas americanas no Iraque.
A confirmação desse cronograma pressupõe a progressiva assunção pelo estado iraquiano das funções de segurança ora ainda a cargo da potência ocupante. Para que o pesadelo do Vietnam não se repita, tudo dependerá da capacidade do governo constituído de dominar os principais desafios à própria autoridade. Como se construirá um estado viável pressupõe contra-arrestar as tendências desagregadoras da frágil coesão nacional nas três principais comunidades que formam o Iraque pós-guerra, i.e., a xiita, a sunita e a curda.
Do sucesso desse cometimento, e da possibilidade de uma saída exitosa do exército americano do desastre que foi para Washington a ‘cruzada’ de George W. Bush, há um claro e inevitável comprometimento da Administração Obama. Sem ter contribuído para tal guerra, e tendo alicerçado a fortuna política na sua firme oposição ao conflito, ironicamente o Presidente Obama tem hipotecada boa parte de sua afirmação no primeiro mandato – e consequente perspectiva de reeleição – na condição inarredável de cumprir a missão pacificadora de problema que não foi por ele criado.

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