sábado, 4 de julho de 2009

Assim é, se lhe Parece

O dramaturgo italiano Luigi Pirandello pode não estar mais sendo encenado com a frequência de antes, mas os temas de suas obras teatrais continuam a ser relevantes nos dias que correm. Veja-se, por exemplo, a peça Assim é, se lhe parece.
Conforme prometera, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o dileto amigo José Sarney. Como o tempo do Presidente é bastante curto no Brasil, será lícito interpretar o almoço e as duas horas que ofereceu, a sós, ao Presidente do Senado como mostra do grande prestígio que junto a ele desfruta o Senador pelo Amapá.
“Pode contar comigo”, disse o Presidente. “O apoio é incondicional. Não tenha dúvida que o apoio do PT eu garanto, fique tranquilo.”
Terá comovido tal manifestação ao velho político ? A julgar-se pelo sorriso com que deixou o Centro Cultural Banco do Brasil, a resposta deverá ser afirmativa.
E, no entanto, Sarney, que não é um homem comum, poderá perguntar-se por que Lula não permitiu, ao contrário da praxe, que os fotógrafos registrassem o importante encontro dos dois amigos em imagem, que dizem valer mais do que mil palavras?
Nos dois dias, se tanto, que o Presidente passou em Brasília, antes de seguir para Paris, Lula dedicou-se quase exclusivamente à crise do Senado Federal. Na véspera, chegado da Líbia, nosso Guia serviu à bancada do PT no Senado o indigesto prato do respaldo político a Sarney e sua consequente sustentação na presidência. Lula não é candidato em 2010, mas este não é o caso de nove (entre doze) senadores do PT, que devem lutar pela reeleição. Acreditarão eles que a sua obediência ao chefe lhes facilitará o retorno à Câmara Alta, aquele paraíso de que falava Darcy Ribeiro ?
A Senhora Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apressou-se em saltar na liça em defesa do presidente do Senado. Recusou-se a crer na responsabilidade única de Sarney pela crise. “Não é plausível, me desculpem, que pelo tamanho da crise e pela quantidade de atos, que era possível ter sido praticada por uma só pessoa. Então não concordo em demonizar o presidente Sarney.”
A Ministra Rousseff não desperdiçou a ocasião de dar conteúdo mais polêmico à sua intervenção. Recordou, então, que é a Primeira Secretaria do Senado – cujos integrantes sempre foram do DEM – a responsável pela gestão dos contratos. E, acrescentou a Ministra, estranhamente o DEM pede o afastamento do presidente Sarney.
Não se pode prever se no futuro a Ministra-Chefe da Casa Civil repetirá a frase do seu antecessor, o Ministro José Dirceu, quando este se referiu, pouco antes de deixar o Planalto, a “meu governo”. Atualmente o seu temperamento forte – e os acrescidos poderes decorrentes das ausências presidenciais – tem assustado a seus aliados. Ungida por Lula como a candidata à sua sucessão, pensará acaso a Ministra que pode aproveitar-lhe tratar mal a ministros e assessores qualificados, até aqueles oriundos de outros partidos, como o PMDB ?
O jornal O Globo noticiou ontem episódio em que ela foi grosseira em público com o Secretário-Executivo do Ministério da Integração Nacional, Luiz Antonio Eira, a ponto de Eira dizer a colegas do ministério que, para não iniciar um bate-boca com Dilma, optou por deixar o cargo e voltar a ser consultor na Câmara dos Deputados.
Poderá considerar-se perseguição da mídia o destaque de primeira página do mesmo jornal O Globo, que se ocupa das transformações virtuais do currículo da Ministra Dilma Rousseff ? A crer tais matérias, o currículo acadêmico da ministra, no site da Casa Civil, teria sido inflado com títulos que ela não possui. Depois da reportagem da revista Piauí, a Casa Civil mudou os dados do aludido site.
Segundo a Unicamp, Dilma Rousseff não é mestre em teoria econônica por aquela universidade, nem tampouco é doutoranda em economia monetária e financeira pela mesma Universidade Estadual de Campinas.
No campo econômico-financeiro, são profusos os elogios às decisões políticas do Presidente Lula. Se os resultados do bom senso presidencial representam decerto um dos aspectos mais positivos do atual governo, a proximidade de 2010 tem ultimamente causado alterações nessa política, que são vistas por muitos com preocupação.
Assim, o aumento das dotações de custeio e não a ênfase nos investimentos, provoca espécie porque a crise financeira e o desemprego se combatem com investimentos e não aumento de salários e do programa assistencialista da bolsa-família. Por outro lado, por muito tempo o Estado não tem invertido em obras de infra-estrutura sanitária e de transportes, por causa da suposta necessidade de manutenção do superavit fiscal. Fica difícil entender por que, para evitar cortes no orçamento das verbas de custeio, seja agora admissível reduzir ainda mais o superavit fiscal.
Será acaso eleitoreira essa preocupação ? Será a inchação dos ministérios uma inversão produtiva, que justifica reduzir o superavit primário ? E como definir a inação de tantos anos na recuperação da malha rodoviária brasileira ?
E não falemos em outras vítimas do até então intocável superavit primário fiscal, como a educação, a saúde e a segurança ...

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