Edward Snowden, que revelou ao mundo
a ação da Agência de Segurança Nacional (NSA),
em termos de coleta cibernética de informações, dirige mensagem on-line através de carta aberta ao povo
do Brasil. A iniciativa precederia um apelo direto à Presidente Dilma
Rousseff. Essa ação, que é estimulada por
Glenn Greenwald, o correspondente do Guardian no Rio de Janeiro, seria
maneira de reforçar a aspiração do ex-contratado da NSA de ter o asilo concedido pelo governo do Brasil.
Snowden, que
dispõe atualmente de asilo provisório de um ano na Federação Russa – e que por
isso tem bastante limitada a própria ação – contaria transferir-se para um país
como o Brasil, que lhe concederia asilo permanente.
Em contato com
Greenwald, a iniciativa se propõe colher o apoio da Presidente Dilma Rousseff. Logo após chegado à Rússia, Snowden apelara
para diversos governos, inclusive o do Brasil.
Recebeu respostas favoráveis de Bolívia,Venezuela e Nicarágua,
Posto que
Brasília não tenha respondido à mensagem de Snowden, este, com o apoio de
Greenwald e de David Miranda, prefere esperar na resposta favorável do governo
brasileiro.
No entender de
Miranda, “o Brasil é o lugar ideal por ser um país politicamente forte, onde as
revelações tiveram um impacto real”.
Se bem que o
âmago da questão esteja no seu aspecto político – questão que pela sua
relevância e implicações só pode ser decidida pela Presidente da República – o
argumento jurídico para persuadir a autoridade brasileira estaria na
circunstância de que os direitos humanos de Snowden estão ameaçados.
Segundo o
correspondente do Guardian – que
repassou para a mídia informes sobre a conduta invasiva da NSA, incluídas informações coletadas sobre a Presidenta – “se o
Governo brasileiro agradece a ele pelas revelações, é lógico protegê-lo.”
Restam poucas
dúvidas de que o funcionário contratado da NSA,
cuja fuga rocambolesca das autoridades americanas se iniciou em Hong Kong, está inserido em longa
tradição de nacionais americanos que se decidiram, em épocas históricas
distintas, a vir a público com a divulgação de informações confidenciais
concernentes ao governo estadunidense. Muitos deles, como no caso dos Pentagon Papers (documentos do
Pentágono), não hesitaram em divulgar tais papéis, malgrado as consequências
pessoais enfrentadas, com a justificativa do interesse maior da opinião
pública.
O apelo de
Edward Snowden - explicitado em sua Carta Aberta ao Povo Brasileiro,
publicada pela Folha – coloca uma
questão de suma relevância, e não menos pelas possíveis e eventuais
consequências que teria para o Brasil. Acolher Snowden, com a liberdade de ação
que pleiteia, é uma questão, que pode, tanto ser um problema, quanto uma
oportunidade.
Não é apenas algo que venha a fechar
ocasiões sociais, como recepção e jantar na Casa Branca. A par de um país
com tradição diplomática e política, peso internacional e história que lhe atribuam o status necessário para conceder o asilo
– Brasília não respondeu ao primeiro apelo, mas o seu silêncio ressoa mais
forte que a disponibilidade de outros países latino-americanos – a gestão de
Edward Snowden, intermediada por Glenn
Greenwald, não é assunto a ser decidido por autoridade ministerial.
Configura um daqueles tópicos que para o Presidente Harry Truman deveriam ir
direto para a mesa da mais alta autoridade nacional.
É uma decisão
fácil? Decerto, não. Mas é bom lembrar
que ex-officio cabe à Presidenta a
última palavra, e não por acaso, mas por determinação de 55 milhões e 752 mil
votos do Povo brasileiro.
É, sem dúvida,
escolha árdua, digna de Presidente da República.
Com a palavra, Dilma Rousseff.
(Fonte: Folha de S.
Paulo )
Um comentário:
Para quem joga poker, acaba chegando a hora de ser pilhado blefando. O histrionismo brasileiro ao lidar com as revelações de Snowden é tudo menos diplomático. Agora, o país corre o risco de ter sua hipocrisia desmascarada mundialmente. Resta saber se nossos governantes se importam.
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