A primeira crise do Governo Dilma Rousseff provoca uma intervenção branca sui generis, que de pronto coloca duas questões em realce. A primeira é a falta de competência política da nova Presidente e de sua equipe de assessores, com o principal ministro manietado pelo seu envolvimento com suspeitas de enriquecimento ilícito.
A segunda está na admissibilidade ou não da reentrada em cena do ex-Presidente Lula, que volta ao Planalto com grande desenvoltura, tomando providências e dando ordens a torto e a direito.
Como salta aos olhos, as duas questões se relacionam estreitamente. Ao impor como sua sucessora a chefe da Casa Civil que, na segunda parte do respectivo governo cuidara dos assuntos administrativos, exercendo na prática as funções de primeiro ministro, o Presidente Lula tratou de mascarar a inexperiência política de sua indicada.
Cotejada com a longa fé de ofício de seu principal adversário, a Administração Lula buscou minimizar as implicações negativas para a própria candidata. Nesse sentido, o seu desempenho na Casa Civil foi equiparado à uma função política, em todos os sentidos. A consequência visada – e atingida junto aos eleitores – era a de que, nessa alta posição, Dilma tivera oportunidade de enfrentar desafios ainda superiores aos que José Serra tivera pela frente como Governador e Prefeito.
O que se omitiu nessa especiosa apresentação de sua pupila, ora se escancara, diante do primeiro momento difícil, da presidência de Dilma Rousseff. Na verdade, apesar de suas relevantes funções, ela atuara sob as vistas e o juízo mais experiente do presidente. O episódio presente mostra a diferença essencial. Se antes seria, a despeito da alta posição, sempre alguém submetido à supervisão de um superior, agora, careceria de voar com os próprios meios.
Pesou no comportamento de Dilma a falta de maior vivência política. Como um deus ex-machina, Lula determinou à presidente que recebesse e desse maior atenção aos parlamentares. As indicações do ex-presidente produziram efeitos imediatos: Dilma hoje almoça com a banca do P.T. no Senado, e na próxima semana, com líderes dos demais partidos aliados.
Sua ação não se circunscrevou à Presidente. Sem muito rasgar de seda, recomendou a Palocci mais atenção à base, que, de resto, não deveria descurar pelo momento delicado que atravessa o governo justamente por causa das acusações de início levantadas pelo jornal Folha de São Paulo.
Por outro lado, sua presença familiar reponta em diversas fotos com líderes polícos da situação, todos sorridentes e abertos à natural liderança do velho timoneiro.
Tudo isso será feito pela maior honra e progresso da Administração Dilma, posto que suscite dúvidas sobre a capacidade da atual titular de assumir a primeira plana de tais contatos.
Em outras palavras, a ajuda de Lula será sem dúvida bem-vinda, mas tende a realimentar dúvidas sobre a auto-sustentabilidade de sua candidata, e da possibilidade do estabelecimento de uma factual diarquia, em que a imagem do estadista veterano não fica relegada ao usual retrato na parede. Para a governante Dilma Rousseff tais incursões podem ser providenciais, mas se-lo-ão para as instituições republicanas ?
( Fonte: O Globo )
quinta-feira, 26 de maio de 2011
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