O Palácio do Planalto convocou para hoje (segunda-feira, dia trinta) reunião de emergência com o objetivo de definir uma intervenção imediata e evitar novas mortes no campo, em regiões de conflito agrário e desmatamento na Amazônia.
Este começo de parágrafo, citado de O Globo, carece de alguma correções. Por mais importante que seja a sede do governo, ela como construção não convoca ninguém, nem toma nenhuma providência.
O leitor talvez reclame do rigorismo com a metonímia, mas é de convir-se que depois dos afrontosos assassinatos, há muito anunciados, é mais do que tempo de dar nome aos bois.
Ouso supor que seja a Presidente Dilma Rousseff que decidiu chamar os Ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, da Justiça, José Eduardo Cardozo, do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, e a Secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Na semana da aprovação do Código Florestal e da emenda da vergonha pela Câmara dos Deputados, foram abatidos quatro ambientalistas e agricultores – três no Pará e um em Rondônia. Acionada a Polícia Federal para investigar os homicídios, declara-se que ‘a segurança será reforçada nas áreas’ em questão.
Ainda nesse contexto, o ministro Gilberto Carvalho disse que ‘há no governo uma grande preocupação com a lista divulgada pela Comissão Pastoral da Terra, com nomes de pessoas marcadas para morrer na região’.
Cabem, de início, algumas considerações. Pairava ameaça, ominosa e insolente, sobre mais estes quatro ativistas, verdadeiros heróis no deserto da aparente indiferença dos órgãos publicos (a quem cabe zelar pela segurança dos Cidadãos). Os capangas dos desmatadores e dos escusos interesses que os dirigem não amedrontavam a corajosa ação desses homens e mulheres pobres e virtuosos. Este punhado de bravos, no ensurdecedor silêncio da conspirata de fazendeiros do desmate e suas tropas auxiliares, enfrenta e denuncia de peito aberto os propósitos criminosos da liga anti-amazônica.
Causa estranhável assombro que a vigilância para a defesa dessa gente honesta, da estirpe de Chico Mendes e tantos outros, esteja a cargo desse braço generoso, mas desarmado da Igreja. As comissões pastorais da terra são a extensão dedicada e bem-intencionada, em meio a sombrias maquinações e propósitos inconfessáveis, que adentram a mata não para derribá-la, mas para tentar preservá-la e ao povo honesto que sabe viver em comunhão com as suadas dádivas da floresta.
Essa audácia dos capangas não surge do nada. Ela prolifera pela negligência dos poderes públicos que por razões ignotas não se mostra amiúde por aquelas bandas que não deveriam ser sem lei. Como afirmar que não há lei no ruidoso silêncio das restantes matas, se ali se alevanta o braço odioso dos assassinos por encomenda ?
Quem preparou esse aleijume votado semana passada pela Câmara costuma esconder-se das críticas irrespondíveis de ambientalistas e cientistas, com lamúrias de que apenas defende o pequeno e indefeso agricultor. De que serviram as mais de setenta ‘audiências públicas’ por ele reunidas se não aprendeu ali que ele, o comunista do P.C. do B. redigira esse suposto código florestal para servir ao grande proprietário, a quem aproveitam os grandes desmatamentos, de que esse inominável código e a sua vergonhosa emenda se propõem abrir a ampla e deserta avenida dos abates generalizados, feitos com a espúria ajuda da tecnologia, para nos levar e aos pobres e autênticos amazonidas para as savanas e os desertos da Malásia e congêneres ?
Então, senhores do Palácio do Planalto, não me venham com novas que este ou aquele ministro ‘está preocupado’ com a situação.
A hora das preocupações é coisa do passado. O que se carece é ação, é a proteção eficaz aos ativistas até hoje abandonados à própria sorte.
Precisamos de ver os assassinos – e sobretudo os respectivos mandantes – na cadeia. E não naqueles precários xilindrós da terra de joão ninguém. Chico Mendes e toda a sua nobre gente merece sorte melhor do que ver impunes os seus trucidadores e a coorte dos facinorosos poderes que os acobertam.
Dona Dilma, é tempo de a senhora aparecer, dizer e mostrar de que lado está o Governo, e que a sua preocupação não é floreio, mas precede a ação desde muito requerida.
( Fonte: O Globo )
segunda-feira, 30 de maio de 2011
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