Panorama da Revolução Árabe
Depois dos triunfos na Tunísia e no Egito, a revolução árabe democrática continua, mas em nenhum outro país registra êxito similar. Até no próprio Iêmen, a anunciada saída do ditador passou a ganhar contornos de mais uma manobra de Ali Abdullah Saleh. Se a promessa de deixar o poder em trinta dias fora saudada com júbilo pela vasta coalizão, o longo prazo exigido por Saleh tenderia a causar suspeitas como se não passasse de outro artifício do obstinado presidente. Por ora, a situação permanece confusa, inclusive com rumores de golpes contra-revolucionários.
Na Síria, a carnificina continua. As feições do governo dinástico de Bashar al-Assad vão assumindo sempre mais os traços e métodos do tirânico legado transmitido pelo pai. A imprensa recebe o ‘tratamento iraniano’, vale dizer não se admitem repórteres nem câmeras estrangeiras. A cobertura é feita pelos breves, trêmulos instantâneos,e rudimentares películas captadas pelos celulares insurgentes. Bastam, no entanto, para derrubar as torpes mentiras das redes oficiais, que ou cobrem os meetings encomendados pelo ditador, ou falam de absurdos atentados e disparos contra os soldados de al-Assad.
Em Homs, Dara e Damasco se entrevêem as massas de manifestantes, as faixas pela democracia, e as metralhas dos esbirros do poder, com a sua trágica colheita de cadáveres diários. Há na Síria claro enrijecimento de parte a parte. A população sublevada sabe ter a simpatia das democracias e dos irmãos da nação árabe. Sabe, também, no entanto, que o respectivo sucesso só depende dela mesma, e de sua capacidade de afrontar e de persistir na resistência a Bashar al-Assad.
Nas monarquias do golfo pérsico, do rei Abdullah da Arábia Saudita aos demais xeques dos pequenos reinos o medo da revolução vinda do Maghreb só subsiste no surdo receio que de hábito acompanha os não-esclarecidos déspotas de tais regimes. A única exceção está na ilha de Bahrein, onde o levante democrático contra o rei al-Khalifa foi abafado com força expedicionária saudita. Entrementes, não há imediata ameaça à base da Frota americana, nem ao predomínio da minoria sunita sobre a maioria xiita, que deve suportar regime de virtual apartheid.
No Marrocos, houve atentado em Marrakech que foi atribuído a al Qaida. O massacre indiscriminado contra turistas estrangeiros e marroquinos nada tem a ver com a revolução democrática.
Na Argélia, Bouteflika permanecerá à frente do estado argelino enquanto tal servir ao exército, que é a real fonte do poder naquele país. Na Líbia, se marca a estagnação na luta entre o caricato líder da Jamairia e os seus opositores de Benghazi e da antiga Cirenaica. A frente revolucionária carece de maior organização e equipamento militar para enfrentar e melhor resistir às incursões dos aliados militares e tribais de Muammar Kadaffi. O antigo apoio aéreo de Estados Unidos, França e Reino Unido quando passou para a Otan se tornou mais burocrático e menos eficaz. As perspectivas da queda de Kadaffi, ainda acalentada por boa parte da população líbica, não se afiguram tão nítidas quanto no início da sublevação.
Ainda no front árabe, as manifestações populares no Iraque contra o autoritarismo do regime de Nouri al-Maliki tiveram efeitos díspares. Se a reação do Primeiro Ministro, no início de seu segundo mandato, ao prometer não concorrer em 2014, foi interpretada com tentativa de controlar os protestos, por outro lado a repressão contra as manifestações do ‘Dia da Raiva’ matou pelo menos vinte pessoas. Esse alto preço pago pelos democratas serviu pelo menos como advertência para Maliki não confundir o seu gabinete omnibus com quarenta e dois ministros, oito dos quais são ministros de estado sem pasta (e sem poder) – de que as facções xiitas, sunitas e os curdos participam – como passaporte para a progressiva arregimentação do poder.
A revolução árabe, a meu ver, terá igualmente repercutido na Palestina, induzindo ao acordo o Fatah de Mahmoud Abbas e o Hamas, de Khaled Meshal. Instrumentalmente, a influência do movimento democrático é inegável. Ao derrubar Hosni Mubarak do poder, voltou a dar credibilidade ao Egito como mediador entre os palestinos. Igualmente, a perturbação na Síria terá enfraquecido o eventual controle de Bashar al-Assad sobre o líder do Hamas, que tem base naquele país. Fatah e Hamas devem agradecer, outrossim, a Netanyahu e à atual liderança israelense, que por seu desrespeito a condições de paz efetiva e equânime constitui, por certo, um dos principais fatores para reagregar e motivar o combalido movimento palestino.
A nova fase do embate entre os EUA e a al Qaida.
O Presidente Barack Obama desmentiu a muitos de seus críticos pela determinação e coragem evidenciadas na realização da missão secreta que, após quase dez anos, abateu o inimigo número um dos Estados Unidos.
Obama tem demonstrado discernimento na maneira pela qual se houve na série de providências e declarações relativas à missão contra Osama bin Laden. Palmilhando terreno delicado, evitou que a respectiva atitude viesse a ser interpretada como instrumentalização política da ocorrência.
Todos os seus atos, gestos e palavras se têm adequado à conformidade com os princípios de dignidade e gravitas inerentes a suas funções, seguindo a tênue e delicada linha de partilhar o sentimento dos parentes das vítimas, e dos que se sacrificaram por causa da tragédia do onze de setembro.
Comunicou o êxito à nação, de forma grave, evitando o tom bombástico e qualquer exagero. Elogiou a eficiência e a bravura dos militares empenhados na arriscada missão. Foi a New York, visitou o marco zero, esteve com parentes dos mortos, e não deixou de estar com os bombeiros, em memória dos muitos que tombaram no esforço de salvar vidas, assim como os policiais a quem coube controlar e orientar as reações de população subita e inesperadamente golpeada por imprevisível ataque.
Em seguida, Obama expressou o reconhecimento do povo pelo sucesso, aos militares, e, em particular, às forças adrede treinadas, em empreitada prenhe de perigos e incertezas a cada momento.
Agindo dessarte, sóbrio, mas partícipe da geral satisfação, o Presidente Obama desmentiu sem dizer palavra tudo o que se veiculara acerca da própria indecisão e até mesmo timidez.
Por fim, o Presidente esteve na base de Fort Campbell, na tarde de sexta-feira, dia seis de maio, com os membros do comando encarregado do raid contra o compound habitado por Osama bin Laden.
‘Vamos derrotar a al Qaida’ afirmou o Presidente dos Estados Unidos para os dois mil e trezentos militares há pouco retornados do Afeganistão. ‘Cortamos a cabeça do seu chefe. Nossa estratégia está funcionando e não há melhor prova disso que a justiça por fim feita a Osama bin Laden. Ainda somos aquele país que faz as coisas difíceis, que faz os grandes feitos.’
Na oportunidade, o presidente outorgou citações presidenciais àquelas unidades que participaram da missão especial no Paquistão. Essa citação é a mais alta honra que pode ser outorgada a unidade militar.
Durante a visita, o Presidente e o Vice-Presidente Joe Biden se reuniram em compartimento separado com os membros da missão do Grupo Navy Seal nr. 6, que estiveram diretamente empenhados no raid.
Dentre esses militares que participaram da audiência presidencial estava aquele que disparou os tiros que abateram Osama bin Laden. Conforme informação prestada por autoridade da Administração Obama, não se teria declinado ao presidente a identidade do militar que dera cumprimento à missão.
Ao assinalar como um ‘trabalho bem feito’ (job well done), o Presidente Obama, a par de reiterar o propósito de desbaratar a rede terrorista, não fez ulteriores comentários sobre os próximos passos. Não é segredo, porém, que o estreito colaborador de bin Laden, o médico egípcio Ayman al-Zawahri, semelha ser o próximo cabecilha da rede al Qaida. Não é figura carismática como o seu íntimo amigo, mas segundo rumores já estaria encarregado do chamado nível operacional da organização. Por isso, como de resto foi indicado por representante americano, será o alvo preferencial da busca das forças especiais estadunidenses.
Tropeço obscuro, porém importante na Missão contra bin Laden
No noticiário da missão do comando americano em Abbottabad, houve lacônico pormenor concernente à necessidade dos integrantes da unidade dos Focas da Marinha (Navy Seals) de destruir um helicóptero que, pelas vicissitudes do ataque, não mais podia alçar voo. Foi o único helicóptero perdido, e por conseguinte a solitária falha (glitch) na bem-sucedida empresa.
Consoante se informou, os militares lograram destruir boa parte do corpo principal desta aeronave, mas o rotor da cauda ficou praticamente intacto, porque caíu do lado externo do muro que isola o compound. Devendo afastar-se rapidamente, uma vez finda a missão, não sobrou tempo para completar a tarefa na parte externa, inclusive pelo risco apresentado para o conjunto da empresa.
Fontes militares agora especulam sobre a possibilidade de se que trate de aeronave secreta, da tecnologia relativa ao programa cancelado do helicóptero Comanche RAH-66. De acordo com as opiniões de expertos em armamento aéreo, o helicóptero abandonado poderia ser versão bastante modificada do UH-60 Black Hawk (Falcão Negro), a que se teria agregado a tecnologia stealth (invisível) do aludido desprogramado helicóptero Comanche.
Posteriormente, tropas paquistanesas foram observadas transportando em caminhões, debaixo de lonas, os restos do helicóptero acidentado. Não vazou se o Departamento de Defesa terá ou não solicitado a restituição aos Estados Unidos do material militar.
A esse respeito, expertos na matéria especulam quanto à possibilidade de que o aludido material vá parar sob o controle de Beijing, dados os estreitos laços entre Paquistão e China.
Sendo a tecnologia stealth furtiva ou de invisibilidade pelo radar dominada pelos Estados Unidos, haveria compreensível inquietação se a RPC ou outra terceira parte lograsse apropriar-se dessa tecnologia, ou então ficasse habilitada a encontrar meios de neutralizá-la.
Que elementos foram conducentes para dar base a tais especulações? Chamou atenção a cor do aparelho. Os Black Hawk são pintados verde oliva, enquanto este é cinzento. Não é qualquer cinza, mas um cinza supressor dos raios infravermelhos. Como se sabe, o objetivo desta cor específica é reduzir a vulnerabilidade do helicóptero para sistemas de míssil terra-ar de atração por calor (heat seeking missile systems).
Por outro lado, o helicóptero de Abbottabad tem rotor de cauda com cinco lâminas. No Black Hawk convencional, as lâminas são quatro. Segundo o técnico, o acréscimo da quinta lâmina reduz o sinal acústico do helicóptero,o que o torna mais difícil de ser ouvido. No caso específico, daria aos comandos minutos adicionais para acercar-se do alvo sem que ninguém no solo se dê conta do que está acontecendo.
O terceiro detalhe sinalizador está no fato de as cinco lâminas do rotor se acharem parcialmente encobertas por objeto em forma de disco. Tal completa o aparelhamento anterior, por constituir um sistema de supressão de vibração. Além de diminuir o barulho do rotor, incrementa a proteção ao rotor de cauda contra balas ou shrapnel.
Por fim, o exame das fotos mostrou para o experto militar que o helicóptero também inclui a parte não-secreta da tecnologia stealth. O formato da fuselagem é anguloso e inclinado. É um formato similar aos caças de asas fixas F-22 e F-35. O seu desígnio é o de derrotar o radar. ‘Se se logra eliminar os ângulos retos no formato aeronáutico , as ondas do radar se perdem, porque não podem ser projetadas de volta (bounce back)'.
( Fontes: C.N.N., New York Review of Books, e International Herald Tribune )
domingo, 8 de maio de 2011
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Um comentário:
Na primeira parte que discorre sobre o discreto e adequado comportamento de Obama no relato da operação Bin laden nào posso concordar com a sempre onipotência americana presumindo que, sozinhos, podem derrotar o Al Qaida.
Na última parte- falha acorrida na operação - confesso que, apesar de muito interessada no assunto, não cconsegui compreenssão global porque me falta conhecimento sobre: tecnologia stealth; helicóptero Comanche e outros...
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