sexta-feira, 20 de maio de 2011

Obama e a Questão Palestina

            A dezenove de maio Barack Obama pronunciou discurso em que reitera as bases para solução permanente da questão palestina. Formalmente, o Presidente nada disse de novo na matéria. Ao cabo da chamada guerra dos seis dias, a resolução 242/67 do Conselho de Segurança das Nações Unidas já determinara o retorno das partes aos limites anteriores ao conflito de 1967, embora a própria redação desta e de seguinte resolução desse margem a pequenos reajustes nas fronteiras.
            A história das relações entre palestinos, árabes e judeus se caracteriza por diversas fases. Depois de atravessar período de tentativas de solução pela força (terrorismo, radicalização do Fatah e formação da Organização pela Libertação da Palestina -OLP, invasões do Líbano), com a abertura de Iasser Arafat para o reconhecimento do estado de Israel (decisão do congresso da OLP) se inicia um intento de solução por composição recíproca. Os Acordos de Oslo marcaram época de altas expectativas, que se saldariam pela oportunidade perdida. Para tanto contribuíu o despreparo dos negociadores palestinos e a falta de vontade política da liderança israelense, assinalada pelo intrínseco desrespeito do processo, com o sustentado incremento dos assentamentos ilegais de colonos nos territórios ocupados.
            O assassínio de Itzak Rabin por um israelense acentuaria a deterioração do processo, com a sucessão das Intifadas, as provocações de Sharon, a progressiva marginalização de Arafat (que culminaria com a sua morte até hoje não definitivamente esclarecida), a elevação do muro, os ulteriores avanços dos direitistas e as contínuas e indébitas apropriações pelos colonos de mais espaços à custa de áreas palestinas. A divisão dos territórios árabes entre o Hamas em Gaza, e as demais terras sob controle da OLP, não impediu o avanço de um processo de bantustanização da área, através do estabelecimento por Israel de uma série de estradas em território nominalmente palestino, mas na verdade abertas apenas aos colonos e israelenses. Tudo isso, em contexto de poder militar de ocupação, e das expedições armadas contra o Hamas.
            O recente acordo entre o Fatah de Mahmoud Abbas e o Hamas de Khalid Meshaal pode representar evolução positiva, em favor da causa palestina. Ainda se afigura demasiado cedo para prognosticar acerca de sua manutenção, posto que a decidida oposição de Benjamin Netanyahu ao entendimento já representa indicação paradoxalmente positiva para a validade da composição intrapalestina.
            É neste contexto complexo que se insere o discurso de Obama. Para que se possa considerá-lo ‘histórico’ carecemos de algum tempo, com vistas a determinar como a política americana há de evoluir sob o crivo das relações entre a Autoridade Palestina e o Estado Israelense. No passado, a postura de equidistância dos Estados Unidos no que tange à questão médio-oriental não se caracterizou pela coerência na prática, em que inúmeros vetos a resoluções do Conselho de Segurança desmentiam a alegada imparcialidade estadunidense.
            Se a alocução de Barack Obama for instrumental para ensejar que das nuvens dos princípios gerais venha a diplomacia do State Department a tirar as consequências necessárias – eis a grande questão.
            Existem enormes obstáculos para que os axiomas teóricos se traduzam na incômoda linguagem da aplicação prática. O Congresso americano tem um viés pro-Israel, o que se explica não só pela relevância dos sufrágios, sobretudo no Leste, da comunidade judaica, assim como pelo papel da mídia e de importantes associações de lobby.
            As relações entre os Estados Unidos e Israel assinalam, outrossim, grandes diferenças no que tange a eventual influência da Casa Branca para moldar o comportamento de um país que deveu o seu surgimento ao empenho estadunidense.
            A relação entre senhor e dependente, que se observou até a presidência de Lyndon Johnson, com o advento de Richard Nixon e de seu Conselheiro de Segurança Nacional (e posterior Secretário de Estado) Henry Kissinger sofreria transformação radical, com a crescente independização de Israel e a capacidade de seus líderes de eventualmente prevalecerem nos seus embates com os ocupantes da Casa Branca.
           São as características atuais desse relacionamento, a relevância de Israel no contexto da política interna americana, fatores que não podem ser ignorados no que concerne à evolução de uma política presidencial que busque mudar o statu quo no panorama da questão palestina.
           Os esforços de Bill Clinton e do próprio George Bush foram saldados por  registro de fracassos, dada a respectiva incapacidade de dobrar a direita israelense. A sucessão de governos de direita e de centro-direita, no quadro da crescente fragmentação do Knesset, será o resultado de uma série de erros do trabalhismo, a par da presença de outros fatores, de ordem sociológica e confessional, tendentes a acentuar tal desequilíbrio político.
           Muita vez, iniciativas mais ambiciosas do Presidente dos Estados Unidos reúnem maiores probabilidades de êxito se realizadas no segundo mandato, em que o Chefe do Governo estaria menos condicionado por esses tácitos pesos e contrapesos da política. A tal propósito, se dizia que o Presidente Jimmy Carter tinha grandes projetos para o segundo mandato, os que incluiriam avanços substanciais nas relações com a Cuba de Fidel Castro, e na questão palestina. Infelizmente, porém, em seu caminho surgiu a pedra inamovível de Ronald Reagan, e Carter não se reelegeria, tornando-se mais um presidente de um só mandato (1977-1981).


( Fonte subsidiária: C.N.N.)

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