Com relação à operação de forças especiais americanas – os ‘Navy Seals’ (as focas da Marinha) – que, a exemplo dos antigos ‘comandos’, são as encarregadas das missões mais difíceis e perigosas, o Presidente Barack Obama tomou duas decisões.
A primeira que determinou a realização da missão – planejada e avaliada sob a sua supervisão direta, mormente nas últimas semanas que lhe antecederam o chamado dia ‘d’ – colheu o aplauso de democratas e republicanos, assim como da opinião pública americana.
Se as palmas acompanham o êxito, não se deixou de assinalar que a ordem presidencial implicava em coragem e resolução. Ora, tal comportamento discrepava da opinião generalizada de que o Presidente Obama era tímido e indeciso. Correra inclusive o dito que ele seria como cadeirinha de praia, tal a facilidade com que dobrava diante de situações diversas.
E, não obstante, se mostrou firme e corajoso em assumir a responsabilidade da empresa. Tenha-se presente que havia a probabilidade, mas não a certeza, de que Osama bin Laden estivesse na residência que seria invadida pelas forças especiais.No cômputo dos principais assessores, seria de 60% essa probabilidade. Existiam fortes indícios, mas não a factual segurança de que o objeto da ação lá efetivamente se achava.
Não terá escapado a Barack Obama o risco que corria. Afinal, fora por causa de intrépida, porém malograda missão, que o Presidente Jimmy Carter não conseguira resgatar os reféns da embaixada americana em Teerã. Se o tivesse feito, muito provavelmente garantiria a reeleição para o segundo mandato.
Nas palavras do personagem de David Lean, se a fortuna favorece os ousados, ao arrebatar o objetivo por tanto tempo perseguido pelos seus dois imediatos predecessores, Obama colheu os louros do aplauso e mesmo da euforia dos concidadãos. Como seria de esperar, vieram igualmente na rede lançada alguns espinhos de críticas, assim como a animosidade do campo adverso.
Quanto às observações de funcionários internacionais, talvez carreadas pelo impacto do evento, elas parecem não levar em conta o caráter sui generis do objeto da ação. Por outro lado, outro fato colateral da operação foi desvelar o que já se supunha, mas ainda não se podia afirmar com absoluta certeza.
Ao descobri-lo não homiziado em inacessível caverna, mas em cidade próxima à capital, na vizinhança de academia militar, e em mansão orçada em um milhão de dólares, tornou gritante, vergonhosa mesmo, a omissão do serviço secreto e dos militares paquistaneses em colaborar com Washington na descoberta do paradeiro do líder da al Qaida, obrigação esta para a qual o Paquistão havia sido regiamente pago.
Se a primeira decisão de Obama encontrou no seu país um aplauso amplo e interpartidário – nenhum republicano se animaria a tal manifestação de sectária cegueira – já a segunda, que é, na própria substância, de alcance incomparavelmente menor do que a inicial, não foi partilhada por todos.
Trata-se, no caso, de que o presidente autorize a divulgação de fotos do cadáver de Osama bin Laden. Nesse gênero de operação, será sempre impossível agradar a gregos e troianos. A desenvolta maneira com que se procedeu aos ritos determinados pelo credo muçulmano e a sepultura no Oceano Índico dos restos mortais do fundador da al Qaida, se despertam espécie, serão compreendidos por muitos como o modus faciendi de proceder a funeral que atenda ao mínimo exigido pela religião do falecido, mas que evite a sua inumação em terra. Pode-se discordar da opção, mas os seus motivos são evidentes.
Quanto à recusa do Presidente Obama na exposição das fotos dos restos mortais de Osama, e, em especial, do rosto desfigurado pelas balas que o vitimaram, parece-me que é de bom senso. A mostra da imagem deformada de Osama bin Laden só serviria para pôr mais fogo na fogueira, e para visualizar, de modo extremo, o sacrifício do líder carismático.
Terá Obama recordado a foto do Che Guevara morto na selva boliviana ? De qualquer modo, as palavras do Presidente fundamentam tal posição: “É importante assegurarmos que imagens muito dramáticas de alguém que recebeu um tiro na cabeça não fiquem circulando como incitação a mais violência e como ferramenta de propaganda. (...) Osama bin Laden não é um troféu.”
Quanto às eventuais dúvidas subsistentes no que concerne ao fato em si, à realidade da morte de bin Laden, apesar de existirem elementos bastantes para comprová-la, qualquer providência adicional, mesmo a produção de instantâneos mortuários, haverá sempre uma minoria de milenaristas, sebastianistas ou de eternos crentes em míticas conspirações. Quanto a esses, nada a fazer, porque são presença residual e inextinguível.
Aos demais, no entanto, caberá reconhecer o bem-avisado desta segunda decisão.
( Fonte: O Globo )
sexta-feira, 6 de maio de 2011
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