O Casamento Real e a Mídia
Existe um certo segmento da mídia que já formou o próprio juízo acerca da situação da monarquia no Reino Unido. Tal ponto de vista o evidenciam artigos como o de Jonathan Freedland (O Nó dos Windsor), na New York Review pré-datada de 28 de abril de 2011, assim como reportagem de 1ª página de cobertura do matrimônio, no New York Times, assinada por Sarah Lyall.
Enquanto o leitor do primeiro – escrito muito antes do evento – pode colher a impressão de um pré-obituário não só da dinastia dos Windson, senão do regime monárquico no Reino Unido, se bem que Freedland deixe aberta a perspectiva de uma sobrevivência malgrado as grandes pedras no caminho, a matéria principal do jornalão nova-iorquino vem marcada desde as primeiras linhas por um viés cuidadosamente negativista, em que os encômios da pompa e do fasto do ‘royal wedding’ são bordados em um discurso irônico, facecioso e quase esquizofrênico.
Compreendo a surpresa de quem me lê. No entanto, para quem acompanhou pela CNN a cobertura de todas as fases dessas bodas reais, a primeira dúvida que nos assalta é se Ms. Lyall e os demais pobres mortais assistiram ao mesmo espetáculo. O que significa, assim, a presença da multidão alegre e participativa em todo o percurso da cerimônia – assim como em muitos outros locais com telões de projeção – abanando bandeirinhas com a efígie do jovem casal sobre as cores britânicas (ou mesmo de outras nações integrantes do reino insular), sem qualquer aceno de protesto ou nota dissonante do júbilo à sua volta ? E não só a extensão dessa presença, mas as inúmeras fileiras de que se compõe, em quantidades que foram estimadas em dois milhões de pessoas em todo o trajeto, e beirando o inacreditável milhão na multidão que, contida a custo por um cordão de ‘bobbies’ (os guardas ingleses), se postara diante das grades do Palácio de Buckingham, somente para presenciar a vinda dos recém-casados William e Kate, para o beijo no balcão ?
A ler-se Ms. Lyall, tudo isso é armação da mídia. Para trocar as coisas pelo avesso, ela coleta uma série de citações de espectadores que ali estavam, ou por acaso, ou porque não tinham mais o que fazer, os auto-denominados basbaques, ou os chamados monarquistas por um dia. Se não se pode ignorar o número, o entusiasmo, a fluidez e os aplausos dos súditos, nada melhor que nos fornecer o que os de fala inglesa qualificam de cherry-picking, isto é, selecionar em enorme prato, e para confirmar os respectivos preconceitos, apenas aquelas cerejas que convenham ao narrador...
Talvez a elucidação esteja no leitor nova-iorquino, que é o destino precípuo das ‘observações’da jornalista. Ele mistura a sua admiração pela realeza britânica e seus espetáculos grandiosos, com ambígua desconfiança de entranhado republicano (não o do partido, mas o do regime) que experimenta algum desconforto pela bela cerimônia da antiga mãe-pátria, a qual infelizmente não pode ser imitada deste lado do Atlântico...
O Desrespeito à Nação brasileira
No blog de 27 de abril último, sob o título ‘Falta de Vergonha’, mais uma vez recomendei a possível consideração sobre a abolição do Senado Federal, mediante um referendo submetido à Nação brasileira.
A composição do Conselho de Ética – após ser mantido adrede inativo por quase dois anos – já representa em si um escárnio da opinião pública, num procedimento autista no que concerne ao corpo eleitoral, dentro do molde pregresso de colusão e corporativismo acendrado, tristemente próprio da nova Capital, e sua cultura dos alegres compadres, de que já nos falava Carlos Lacerda nos seus derradeiros anos.
É com satisfação que assinalamos a existência de um homem probo e corajoso na Câmara Alta. O Senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi o único a votar contra as indicações dos partidos para o Conselho de Ética.
“Tem hora que acho que o Senado busca o suicídio. O Conselho de Ética ter entre seus integrantes parlamentares que respondem a processo na Justiça ou que já foram alvo de representações na Casa é um verdadeiro deboche”.
Não esperava outra coisa do Senador Jarbas Vasconcelos, que nos brindara com sua célebre entrevista sobre o que é o PMDB.
No contexto do digno e solitário voto do Senador Vasconcelos, cabe uma pergunta: onde estavam os éticos Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP) ?
A Vergonha Judiciária
Já houve no passado uma greve de juízes no Brasil, o que representou um anti-marco na história de nossas instituições.
O CNJ oportunamente advertiu aos eventuais participantes da ‘paralisação’ de 24 horas, promovida pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE) e seu operoso presidente, Gabriel Wedy. Não se pode senão aplaudir a medida do CNJ de cortar o ponto dos que se associem à dita ‘paralisação’, não obstante os esforços do juiz Gabriel Wedy em tentar fazer crer que ‘paralisação’ não configura uma ‘greve’.
Essa greve anunciada pela Ajufe é outro triste espetáculo do anunciado desrespeito por parte dos juízes federais no que concerne ao deveres da magistratura.
Sem dúvida, parcela não pequena da responsabilidade de tais manifestação anômicas carece de ser atribuída ao Congresso. Em um blog no passado já me ocupei do grande número de dispositivos da Constituição de 1988 que continuam inaplicáveis, eis que o Poder Legislativo, por decenal desídia, não os regulamenta por Lei Complementar como devera.
Nesse particular, avulta o controverso direito de greve no serviço público, sobretudo nas chamadas carreiras de Estado e naquelas atividades de grande interess público, em que greves, paradas ou paralisações, a qualquer título, se afiguram inadmissíveis.
A própria relação das ‘reivindicações’dessa categoria de juízes federais, tão pressurosamente defendida pelo presidente da Ajufe, já representa, através de sua leitura crítica, e no contexto das demais carreiras do funcionalismo público, uma diatribe a contrario sensu para a realização da pretendida ‘greve’. A propósito, seria de todo interesse pronunciamento inequívoco a respeito, do Presidente do Supremo Tribunal Federal e, por conseguinte, do Conselho Nacional de Justiça, Dr. Cezar Peluso.
O Problema Sírio
O ditador Bashar al-Assad, apoiado pelo Exército e pela Polícia Secreta, resolveu abandonar as meias palavras e as ocas promessas – entre as quais a suposta ab-rogação da Lei de Emergência, e se resolveu a assumir, na plenitude, o legado paterno de liquidar a ferro e fogo os manifestantes democráticos que teimam em contestar-lhe a autoridade.
Fundado em espécie de direito dinástico – como na antiga Sicília os Tiranos de Siracusa se sucediam por ordem genealógica – e sem qualquer carisma, Bashar, por dupla morte – do pai, Hafez al-Assad (em junho de 2000) e do irmão mais velho, Basil al-Assad que fora preparado para assumir o mando, por acidente de carro em janeiro de 1994 – assumiu os encargos familiares.
O diálogo decerto não é o forte dos al-Assad, como seu pai demonstrou ao esmagar rebelião em Hama, levante da Irmandade Muçulmana, em 1982, arrasando a cidade e infligindo cerca de vinte mil mortes. O filho, ao prosseguir na sua cínica eliminação das massas descontentes, pensa encontrar da comunidade internacional as mesmas débeis admoestações e a falta de qualquer intervenção que disturbe o homem forte de turno de continuar no seu papel de açougueiro dos manifestantes democráticos.
A Síria não é país rico, não tendo o petróleo de Muamar Kadaffi, mas pela sua localização geopolítica é um ator relevante nas crises médio-orientais. Não tem relações com Israel – como, de resto, a esmagadora maioria das nações árabes – mas as suas posições no contexto do Líbano e do Hezbollah, e o contencioso das alturas do Golan, assim como a aliança com o Irã de Ahmadinejad, tornam a Síria um fator regional importante.
A contestação contra o regime se tem acentuado, e o morticínio dos manifestantes – os cômputos oscilam pela ausência de controles, mas restam poucas dúvidas que se aproximam do milhar – com o sangue estupidamente derramado contribui não para amedrontar, mas para acirrar os contrastes. Em um panorama das chamadas mortes civis (longas permanências em masmorras ou campos de ‘reeducação’) e das quedas heróicas sob a metralha do açougueiro de Damasco, terminam por confundir-se na famigerada alternatina entre a peste e o cólera.
A oposição olha para o Ocidente, na esperança de uma ajuda que mui provavelmente não poderá ser dada. Existem, desde logo, dificuldades na política de sanções punitivas, pela circunstância de que os estamentos dominantes na Síria de Bashar al-Assad já são objeto de muitos desses instrumentos. No cipoal das sanções, coloca-se a pergunta se ainda subsistem algumas de ordem pontual que sejam suscetíveis de condicionar determinados tipos de atuação – como o atual trucidamento de manifestantes contrários ao regime.
Bashar al-Assad é uma figura menor, sustentada por uma coligação disparatada, que teme, no entanto, uma eventual ascendência da maioria sunita da população, até o momento sem participação correspondente aos seus números demográficos. Apoiando-se exclusivamente nas faculdades do fuzil, o ditador al-Assad sabe que adentra uma via de mão única, para a qual não há outra saída que a continuação da violência. Como para toda situação, há um limite implícito, que está no convencimento dos seus aliados das respectivas possibilidades de prevalência, em fim de contas tudo dependerá da vontade de resistência da população opressa, e da correspondente previsão do campo contrário, de que abraça a fórmula vencedora.
A anunciada guerra no Sudão
O ditador norte-sudanês, General Omar al-Bashir saudara com melífluas palavras a decisão da população sudanesa do sul (negra, cristã e animista), em referendo fiscalizado pelas Nações Unidas, de separar-se do Sudão do Norte.
Como se sabe, o referendo de julho – que ratificou a maciça aprovação pelos sudaneses do sul da secessão de Kartum – fez parte do denominado C.P.A. (acordo abrangente de paz).
As palavras de composição do generl al-Bashir – indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por haver contribuído para os dois milhões de mortes da população notadamente de Darfur – tinham surpreendido favoravelmente.
Não obstante, as desconfianças persistiam, diante da conduta truculenta do general al-Bashir.
Eclodiram agora choques no distrito de Abiyel, área rica em depósitos petrolíferos.
Abiyel, dada a considerável riqueza envolvida, constitui um dos problemas a serem resolvidos, eis que os dois países reivindicam-lhe a posse.
Nesse contexto, cresce a possibilidade de um novo conflito armado, o que é, de resto, exacerbado, pela assertiva do presidente sudanês de que “Abiyel é parte do Norte e continuará a sê-lo”.
Segundo o Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Africanos, Johnnie Carson, “estes comentários não ajudam e só servem para inflamar e aumentar as tensões.” Carson sugeriu que os dois chefes de estado - al-Bashir e o presidente Salva Kiir , do Sudão do Sul - se reunam para decidir as questões em suspenso antes de julho p.f.
(Fontes: International Herald Tribune, New York Review of Books e C.N.N.)
domingo, 1 de maio de 2011
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