sábado, 21 de maio de 2011

Revolução encruada ?

           O que é feito das risonhas perspectivas da revolução árabe democrática ? Passado o primeiro momento, com a vitória na Tunísia e no Egito – pelo menos, no que concerne à derrubada dos respectivos ditadores – se o movimento continua, os antecipados objetivos tardam a concretizar-se. No proprio Iemen, Ali Abdullah Saleh, o tirano de plantão, a despeito das amplas adesões colhidas pelas manifestações que lhe exigem a saída do palácio, se mantém no poder, ao conseguir até agora transformar em farsa as suas repetidas promessas de atender aos apelos para abandonar a presidência.
           Talvez Saleh confie no caráter voluntarista das manifestações. Como a multidão não pode prescindir de sua concordância, seria o quanto lhe basta para ganhar tempo, aferrando-se à esperança de vencer por persistentes negaças e tópicas violências, o que a princípio parecera força inexorável.
           Na Síria de Bashar al-Assad, prosseguem as passeatas e os protestos populares. Eles são cruentos pela vontade do ditador. Conforme as prescrições do aliado iraniano, o tirano baniu a presença da mídia internacional. Não logra, contudo, apagar-lhe as imagens que, malgrado breves e furtivas, mostram permanecer viva a revolta, a despeito da repressão e dos massacres.
           A revolução síria, para desespero do ditador, se manifesta em todos os quadrantes, como rejeição generalizada. Nessa luta de vontades, o macabro cômputo das mortes se aproxima do milhar. Ao arresto dos depósitos bancários do presidente al-Assad pelo governo dos Estados Unidos, o regime respondeu com mais vinte e sete vítimas fatais.
           Na Líbia, os golpes assestados contra Muammar Kadaffi contam com o apoio militar da OTAN. Para coibir o vezo do ditador de punir os civis líbicos pela rebelião, os aviões ocidentais começam a afundar-lhe a flotilha de navios, que se voltara contra a população. Despojado de seus barcos, o líder da Jamairia não poderá mais minar os portos e tentar abafar a resistência, através da negação dos mantimentos.
           Nessa estratégia que tenta reprimir a rejeição despertada por seu desgoverno, o coronel Kadaffi se expõe ainda mais, como o comprova o mandato do Tribunal Penal Internacional.
           Ao persegui-lo internacionalmente pela sua violação dos direitos humanos, o tribunal da Haia poderá estar indicando uma saída para a estagnação do conflito, em que a Liga Rebelde, mais falta de recursos e armamentos, do que de vontade, se choca com as forças do regime de Trípoli, em campanha que se estende indecisa e sem aparente perspectiva de rápida solução.
           Nesse quadro, o apoio de Barack Obama, expresso no discurso em que tratou da questão palestina, paira um tanto longínquo. Até mesmo as medidas pontuais contra o presidente sírio, que marcam mais um passo na política de sanções, serão irritantes para a parte visada, mas não podem ambicionar a demover o ditador de cuidar da respectiva sobrevivência política.
          Terá limites, quiçá insondáveis, a força inercial das revoluções. É na sua própria existência, no entanto, como comprovada pela história, em que os tiranos de turno fazem a sua aposta.


( Fonte subsidiária: O Globo )

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