quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Sob Bolsonario, exclusão indígena é a regra

 

          

        É comovente a desatenção do Governo Bolsonaro com as terras indígenas. Não é que o plano de instalação de barreiras sanitárias apresentado pelo Governo federal deixa 70% das terras indígenas de fora?  Assim, no documento que prevê instalação de barreiras sanitárias nas aldeias, não é que deixa 70% das terras indígenas de fora? O Grupo de trabalho liderado pela ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) inclui apenas 163 das 537 terras indígenas, que aparecem como beneficiadas pelas medidas determinadas pelo Supremo para conter o avanço da Covid-19 entre tais povos.

               Uma nuvem de menosprezo e consequente negligência recobre esse "plano". Após análise do "documento", os especialistas o classificaram  como "extremamente deficitário e inconsistente", com terras indígenas duplicadas e outras sem a presença de nenhum  agente governamental. Nesse sentido, a Apib enviou a dezoito do corrente petição ao Ministro Luis Roberto Barroso pedindo ao STF que determine a revisão das medidas apresentadas pelo governo.

             Negligência com ressaibo maligno perpassa todo o "plano" do Governo Bolsonaro. Assim se expressa advogado que representa a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB : "Um plano extremamente deficitário, com objetivos e metas que não priorizam salvar  vidas indígenas. Além de demonstrar de forma clara que o governo não está aberto ao diálogo intercultural, pois não acatou as contribuições oferecidas no âmbito do grupo de trabalho - afirma Eloy Terena, que representa a APIB no STF.

                     A retirada dos garimpeiros, madeireiros e grileiros das terras indígenas Arariboia, Karipuna, Kayapó, Mundurucu, Trincheira Bacajá, Uru-Eu-WauWau       e Yanomani foi tema de polêmica no julgamento do STF pelo fato de a Corte não ter estabelecido prazo para a saída dos invasores. Apenas o Ministro Edson Fachin votou pela retirada imediata. Há dois dias  Kayapós bloqueiam a rodovia BR-163, no Sudoeste do Pará, contra a construção de ferrovia em suas terras e pedem ajuda para combater a Covid-19.

                       Segundo Terena:"A própria AGU e o Min.Ricardo Lewandowsky apoiaram  o estabelecimento de prazo de 60 dias. Parece, portanto, razoável a fixação de prazo de 60 dias para que se apresente plano de "desintrusão", com previsão de  prazo para a realização das operações e, principalmente, a definição do orçamento para realizá-las."

                            Por fim,  a entidade pede transparência dos dados do subsistema de atenção à saúde dos povos indígenas, para que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) adote os procedimentos técnicos de rotina na produção de estatísticas públicas. O relatório enviado ao STF conclui que "há grave omissão do Governo federal no combate à Covid-19 em meio aos povos indígenas".

                              Procurada, a ministra Damares Alves não se manifestou. O documento atualizado pela Apib possui, entre outras inconsistencias, casos como o da aldeia Buriti (povo Terena), em Mato Grosso do Sul.  O governo diz manter uma barreira com "cerca de trezentos homens, 24 horas por dia". Há de fato uma barreira. No entanto, mantida pela própria comunidade.

                                 Há inúmeros exemplos do proposital descaso da Administração Bolsonaro no que tange aos povos indígenas. Será que é preciso relembrar e trazer para a memória do presente todos os insignes brasileiros que pautaram muito das próprias existências pela defesa, seja pelas armas, seja pela palavra, da minoria indígena, que são brasileiros autóctones e que fazem jus, por conseguinte, a todas as medidas de proteção aos descendentes daqueles que saudaram a vinda do colonizador português, pelas naus de el-rei, e que constituem marco indelevel e permanente da nacionalidade brasileira, que não pode ser vítima de qualquer tipo de abuso e de menosprezo, que vem caracterizando esse ultra-direitista Governo Jair Bolsonaro, que parece sentir-se mais confortável com os ilegais dossiers anti-fascistas, do que com a perene defesa de nossos irmãos indígenas, que constitui perene ouropel republicano, com o apoio dos grandes indigenistas como o Marechal Rondon e a sua plêiade de discípulos ?

 

( Fonte: O  Globo )  

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