sábado, 1 de agosto de 2020

Itália: vira o jogo na Covid-19


                                          

        Quando o coronavírus explodiu no Ocidente, a Itália tornou-se o seu epicentro num clima de verdadeiro pesadelo, um lugar a ser evitado a todo custo, e um lugar a ser evitado, além de constituir  um símbolo nos Estados Unidos e em grande parte da Europa de contágio incontrolável.

           Vejam o que está acontecendo com a Itália, disse aos repórteres o presidente Donald Trump, no dia dezessete de março último. "Não queremos nos encontrar em uma situação como essa", Joe Biden o provável indicado democrata às eleições, ressaltou os hospitais superlotados da Itália como prova  de sua oposição ao "Cuidados médicos para todos", em um debate presidencial. "Neste momento, não está funcionando na Itália".

             Poucos meses depois, os EUA ultrapassariam a Itália em mortes e os países europeus, que antes olhavam com presunção para o país, enfrentam novos surtos e começam a impor novas restrições e pensam até em decretar um lockdown. O Primeiro Ministro Boris Johnson, do Reino Unido, anunciou ontem, dia 31 de julho, o adiamento da flexibilização na Inglaterra, dado o aumento do contágio no país.  Até a RFA, elogiada por sua eficiente resposta e rigoroso rastreamento dos contágios, advertiu que o comportamento relapso está provocando uma nova onda de casos.

             E a Itália ? Seus hospitais quase não tem pacientes de Covid-19. O número de óbitos diários pelo vírus na Lombardia, a região norte que suportara o impacto mais violento da pandemia - e que a esse título colheu comentários deste blog - agora esse  número de casos despencou, sendo  "um dos mais baixos da Europa e do mundo", asseverou Giovanni Rezza, diretor do Departamento de doenças infecciosas do Instituto Nacional de Saúde.  "Fomos muito prudentes." Como os meus leitores terão presente, essa crise lombarda foi citada como exemplo algumas vezes neste blog.

               Apesar do aparecimento de pequeno surto nesta semana, os italianos estão  otimistas sobre a resposta ao controle do vírus - enquanto os especialistas na área sanitária alertam para circunstância de que a complacência continua sendo o principal combustível da pandemia.  Como sabem, o quadro pode por isso mudar a qualquer momento.

                    Nesse contexto, a maneira como a Itália conseguiu passar de "excluído" global a modelo de contenção do vírus  tem novas lições para o resto do mundo, inclusive os EUA, onde a doença que nunca esteve sob controle, agora devasta o país (os Estados Unidos é o país de maior número de mortos nesta epidemia do coronavírus).

                     Após começo conturbado, a Itália consolidou, ou pelo menos preservou a recompensa por um rigoroso isolamento graças a uma mescla de vigilância e experiência médica, adquirida de maneira mais dolorosa. Seu governo se pautou pelas recomendações de comissões científicas e técnicas. Os médicos, os hospitais e as autoridades de saúde reúnem mais de vinte indicadores diários sobre o vírus e os remetem às autoridades regionais, que então os mandam para o Instituto Nacional de Saúde.

                       O resultado é um panorama semanal da situação da saúde no país que dá base para as decisões estratégicas. Nesta semana, o Parlamento aprovou em votação a prorrogação dos poderes de emergência do governo até quinze de outubro, depois que o Primeiro Ministro Conte disse que a nação não poderia baixar a guarda "porque o vírus continua circulando."

                       Esses poderes permitem que o governo mantenha as restrições e reaja rapidamente - inclusive com o fechamento - a novas aglomerações. "Há uma variedade de cenários na França, Espanha, Bálcãs, o que significa que o vírus não desapareceu completamente",afirma Ranieri Guerra, médico italiano que é o diretor-geral-assistente de iniciativas estratégicas da Organização Mundial da Saúde (OMS). "Ele pode voltar a qualquer momento".
                      Especialistas em saúde do país afirmam que a ausência de casos graves indica um decréscimo do volume de infecções, porque  apenas uma pequena percentagem de infectados adoece gravemente.Até o momento, os italianos descontentes não têm sido muito numerosos ou poderosos o bastante para minar a trajetória de sucesso conquistado  com muito trabalho no combate ao vírus, depois de um início calamitoso.
                         A maioria dos especialistas disse que o vírus ainda paira no ar, e enquanto o governo considera um novo decreto para a reabertura das boates, dos festivais e das viagens de cruzeiro, muitos deles imploraram o país a não baixar a guarda.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )                  

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