terça-feira, 11 de agosto de 2020

A Recusa do Ministério da Justiça

 

       

 

        O ministério da Justiça e da Segurança Pública se negou a entregar ao Ministério Público Federal uma cópia do dossiê elaborado para monitorar grupos antifascistas, alegando que o assunto agora é da responsabilidade direta do Ministro André Mendonça.  Por tal razão, o ministério informou  que só aceitará ser oficiado pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras.

             Trata-se de uma ulterior negativa do ministério em abrir o conteúdo dos relatórios, cuja existência gerara a suspeita entre investigadores de possível perseguição a opositores do governo Jair Bolsonaro.

               Nesse contexto, a posição da Justiça está em um documento de onze páginas, encaminhado à Procuradoria da República no Rio Grande do Sul, que, por conseguinte, instaurara procedimento preliminar - chamado notícia de fato - para apurar as circunstâncias da elaboração do relatório de monitoramento dessas pessoas.

                 É de assinalar-se que a posição da Justiça está em documento de onze páginas encaminhado à Procuradoria da República no Rio Grande do Sul, que instaurou um procedimento preliminar para apurar as circunstâncias da elaboração do relatório  de monitoramento de 579 servidores da área de segurança pública e professores que integrem  movimentos ou defendam  ações contra o fascismo. É de notar-se, outrossim, que os dados dessas pessoas foram enviados a diversos órgãos  de persecução e investi-gação. O grito de aviso foi dado pelo portal "Uol".

                 Em tal sentido, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Enrico Rodrigues de Freitas, que exerce suas funções no Rio Grande do Sul, instaurou procedimento preparatório de apuração, que pode, por conseguinte resultar na abertura de inquérito, e nesse sentido pediu informações ao Ministério da Justiça.  Nesse contexto, entre os pedidos feitos, estava o de encaminhamento de cópia do relatório preparado pela Seopi.

                   A tal propósito, o ministério se recusou a repassar o documento ao MPF na última quinta-feira, dia seis de agosto. Dentro do mesmo espírito, o ministério tampouco encaminhou cópia do dossiê ao Supremo Tribunal Federal. 

                         No entanto, a evolução da questão já tem provocado mudanças na atitude do ministro Mendonça.  Tal promessa foi feita em sessão sigilosa na última sexta-feira, dia sete de agosto, em que o ministro Mendonça  foi sabatinado por parlamentares sobre o assunto, e na qual prometera que vai enviar os relatórios à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso, o que no entanto não ocorreu pelo menos até o fechamento da edição de O Globo de hoje, terça-feira, onze  de agosto corrente.

                             Já o parecer enviado ao Ministério Público da União foi elaborado pela consultoria jurídica do Ministério da Justiça, formada por advogados de União : "não pairam dúvidas de que se revela equivocado o endereçamento da solicitação ao secretário de Operações Integradas, uma vez que pela evolução dos acontecimentos a temática foi alçada aos cuida-dos diretos do ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública", cita o parecer.  O documento em tela afirma que tal fato  "exige a adaptação e a observância dos rigores procedimentais aplicáveis aos ministros de Estado, inclusive nas relações interinstitucionais".

                                 Dessarte, pelas alegações dos advogados do ministério, o secretário de Operações Integradas, o delegado da Polícia Civil do D.F. Jeferson Lisboa Gimenes, deixa de ser o responsável "imediato" pela questão, "Não resta alternativa além da devolução do expediente ao procurador da República para que, pelas vias internas adequadas, encaminhe solicitação ao Procurador-Geral da República," no caso Augusto Aras. Ministros de Estado, como se sabe, têm fora privilegiado  junto ao Supremo. Nesse sentido, a equipe do ministro da Justiça está pedindo que o assunto passe  a ser tratado no Supremo.

                                    Segundo o parecer do Ministério da Justiça, a Diretoria de Inteligência da Seopi é a "agência central" do subsistema de inteligência de segurança pública. E que, por conseguinte, os relatórios a serem produzidos são sigilosos.

                                     Dadas as notórias características dessa questão, não é muito provável que o Supremo vá concordar com esse encaminhamento da questão, dadas as suas implicações políticas e a clara mudança de orientação que tal postura revestiria. E as consequências de ser o Brasil pela Constituição de 88 a autêntica democracia que foi desejada por tal assembléia liderada por Ulysses Guimarães, decerto sinaliza, de forma muito clara e inequívoca, qual será a atitude a tomar pela nossa Suprema Corte.

 

( Fonte: O Globo )

Nenhum comentário: