terça-feira, 12 de maio de 2020

OMS: Cegueira de certos países quanto ao vírus


                             
        
   A Organização Mundial da Saúde inquieta-se com a "séria cegueira" de governos (como o do Brasil), que permitem aglomerações de pessoas e não adotam medidas  para conter a pandemia do coronavírus. Sem citar nomes, foi o que disse nesta segunda, dia onze, o Diretor-Executivo da OMS, Michael Ryan.

     Lamentavelmente - e sabemos bem das consequências de o presidente  Bolsonaro haver afastado da Saúde o Ministro Mandetta, e confiado a pasta ao Dr. Nelson Teich, com a quebra da dinâmica quanto à contenção da epidemia, e o relativo abandono do isolamento social, só agora retomado, nas graves, dramáticas mesmo, condições que ora prevalecem no Brasil.

      Nesse contexto, em face da irresponsabilidade do comportamento da presidência,  é oportuno notar que entre os dez países com o maior número de mortes pelo coronavírus no mundo somente o Brasil e os Estados Unidos são os únicos que não adotaram restrições em nível nacional e também os únicos com a taxa de contágio acima de segundo estimativa do Imperial College - o que indica que a pandemia está fora de controle.

        Como a grande maioria da população brasileira não deixará de conscientizar-se, essa não é uma conclusão irrelevante. A respeito,  Ryan  assinala é "erro grave a crença de que  a maioria das pessoas não mostra sintomas e que "o vírus vai passar sozinho". Há uma outra consequência, de caráter ético, que oscila entre o cínico e o irresponsável : " a ideia de que podemos deixar mais gente ter contato com a doença é uma aritmética brutal, que não põe a vida e o sofrimento das pessoas no centro da equação", asseverou o diretor-executivo da OMS.

          Consoante  Maria van Kerkhove, líder técnica da entidade, já há mais de 90 estudos para medir a presença a de anticorpos,  e os resultados indicam que a imensa maioria da população ainda não  teve contato com o vírus. Em geral, a percentagem de infectados que desenvolveram defesas varia de 1% a 10%, dependendo da metodologia empregada. Por isso, ela declara que tampouco se sabe qual seria o nível da contaminação  necessária para que a população estivesse protegida  do vírus, a chamada "imunidade de rebanho".  Como parece de pronto evidente, o termo é mais próprio para a veterinária, "em que um animal individualmente não importa tanto. Temos de ter cuidado  em usar esse conceito com humanos", observou com evidente ironia Ryan.

          Por fim, Ryan disse  que os recentes surtos  na Coreia do Sul e na Alemanha mostram tal risco, mas ela põe em evidência também o preparo dos dois países para localizar rapidamente os focos de perigo e impedir a disseminação do vírus. "É preciso elogiar os países que estão com os olhos abertos, tentando sair da cegueira", afirmou Ryan. Alguém hoje atribuiria tal postura às autoridades brasileiras atualmente colocadas diante dessa macabra situação?

         Segue em consequência que não implementar medidas de distanciamento social  acreditando que, mesmo que os mais vulneráveis  morram, a população  ficará imune  constitui "um cálculo realmente perigoso". 


( Fonte: Folha de S. Paulo )


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