domingo, 24 de maio de 2020

Celso de Mello cita Watergate na decisão


               

      Ao tornar público o  vídeo da reunião ministerial de 22 de abril presidida por Jair Bolsonaro, o ministro Celso de Mello, decano do STF, citou o caso Watergate como precedente para levantar o sigilo da gravação:

    "Aquela alta Corte (dos Estados Unidos) acentuou que o Chefe de Estado (tal como sucede no Brasil) não está acima da autoridade das leis da República".

      Nesse sentido, o Ministro Celso de Mello citou o veredicto unânime da Suprema Corte americana, que determinou que o então Presidente Richard Nixon entregasse gravações em fita e outros matérias de natureza probatória - incluindo conversas internas da Casa Branca - no contexto de uma investigação criminal que se concluíu com a renúncia do mandatário republicano, em 1974.  O presidente Nixon era suspeito de ter mandado espionar  a sede do Partido Democrata em Washington.

     Nas palavras de Celso de Mello, a decisão do Supremo estadunidense "deixou assentado que o presidente não pode proteger-se  contra a produção de prova em um processo criminal com fundamento na doutrina do privilégio executivo."

          Celso de Mello defendeu ainda "não haver nos modelos políticos que consagram a democracia, espaço possível reservado ao mistério." Para o ministro, "a supressão do regime visível de governo - que tem na transparência condição de legitimidade  de seus próprios atos e resoluções - sempre coincide com os tempos sombrios em que declinam as liberdades e se transgridem os direitos fundamentais  dos cidadãos". 

          O Ministro Mello também acentuou "a ausência de decoro, materializada em expressões insultuosas, ofensivas ao patrimônio moral de terceiros e em pronuncia-mentos grosseiros impregnados de linguagem inadequada e imprópria" de alguns participantes da reunião.

            O advogado-geral da União, José Levi Melo, havia pedido o levantamento do sigilo apenas das declarações do Presidente durante a reunião, de modo a que fossem preservadas referências a outros países e manifestações dos demais participantes. 
             O primeiro pedido foi atendido pelo Decano, mas os ministros não foram poupados.  Nesse sentido, o decano entendeu que não havia "qualquer expectativa de privacidade" por parte dos participantes da reunião "destinada a examinar questões de interesse geral".

              Previsto para ser aposentado por limite de idade, por força da Lei, o Ministro Celso de Mello vai fazer falta.                 


( Fonte: O Estado de S. Paulo )  

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