terça-feira, 19 de maio de 2020

Celso de Mello: decisão até sexta sobre vídeo


                              
        O  Ministro Celso de Mello, do Supremo, começou ontem a assistir ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Esse "programa" tem cerca de duas horas de duração. Estima-se que a decisão de levantar o sigilo parcial ou total da gravação será adotada até a sexta-feira, dia 22, ou até mesmo antes.

          Como se sabe, a reunião teve a participação do presidente Jair Bolsonaro - que a presidiu - e de seus ministros. O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, que na época ainda estava no ministério, aponta a gravação como prova de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na  Polícia Federal  (a tal propósito, assinale-se que a ingerência na corporação foi o motivo invocado por Moro  para deixar o cargo).
          A esse respeito, transcrevo a declaração - publicada no site do STF - do Ministro Celso de Mello - que deverá aposentar-se até o final do ano: "Recebi a equipe da Polícia Federal, chefiada pela Dra. Christiane Correa Machado, em meu gabinete, na data de hoje, que me atualizou sobre o andamento das investigações criminais e entregou-me o pen drive  contendo vídeo e áudio da reunião ministerial de 22/4/2020. Após esse encontro, comecei, agora, a assistir ao vídeo, devendo liberar minha decisão até esta próxima sexta-feira, dia 22/05, talvez antes!", disse o ministro em declaração publicada no site do  STF.

            O material, na verdade, foi recebido pelo gabinete em Brasília, mas o ministro, que está em sua residência em São Paulo, pode usar um sistema que lhe permite assistir ao vídeo. Em Brasília, o chefe do gabinete e um juiz federal auxiliar do ministro acompanharão a exibição da gravação.

              Na reunião em tela, o presidente Bolsonaro reclamou da falta de informações obtidas pela PF.  Em seguida, anunciou que iria interferir, sem dizer como faria isso.  O trecho transcrito do vídeo foi entregue pela Advocacia Geral da União (AGU) ao STF na última quinta-feira.  A AGU também pediu a divulgação apenas de trechos do vídeo  com falas de Bolsonaro.
               A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi ainda mais restritiva e argumentou no sentido  que só sejam divulgadas as falas de Bolsonaro que digam respeito ao inquérito. Ainda de acordo com a PGR, caso o sigilo todo seja levantado , as imagens poderão  ser usadas nas disputas eleitorais em  2022.

                Por fim, a defesa do ex-ministro Sérgio Moro defende a liberação na íntegra para que fique claro o contexto em que as declarações do presidente foram feitas.
                                                     
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                   Na modesta opinião do blog, assiste direito ao ex-ministro Moro de dispor da liberação na integra do depoimento em apreço. Sendo ele acusado pela PGR de denúncia caluniosa,  parece meridianamente claro que seria justo e oportuno que a sua posição seja devidamente esclarecida.  

                    Por outro lado, é sempre oportuno e justo que a verdade prevaleça. Se algumas das partes envolvidas não mantiveram a necessária prudência e eventual correção nas suas afirmações durante a reunião ministerial, deveriam antes de pronunciar-se atentar para o contexto e o quadro aonde ela se realizava.  Se a presença das mais altas autoridades do Estado não lhes foi bastante para que mantivessem em nível condigno as respectivas declarações, tal não me parece argumento bastante para que Sua Excelência o Ministro Celso de Mello ora venha a acorrer-lhes em ajuda. Se não se portam como as altas autoridades que são, cabe sinalizar que carecem de um embasamento mais forte,  para que no porvir venham a observar mais dignitas republicana em suas intervenções e comentários.  

MdeA/. 

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