sexta-feira, 25 de maio de 2012

Não querem falar com o grego Tsipras

           
       A Velha e austera senhora da União Europeia fechou as portas para o deputado Alexis Tsipras, líder da Syriza.
      O escopo do novo expoente político  – catapultado pela crise em seu país para encabeçar o segundo  principal partido grego – terá sido eivado da impetuosidade dos principiantes.
      Motu proprio, resolveu ele visitar as duas maiores autoridades da cena europeia: Angela Merkel e François Hollande. O propósito seria o de apresentar  suas ideias para esses dois personagens. Partia do talvez algo juvenil pressuposto de que os representantes da diarquia acederia, malgrado o radicalismo de suas posturas, em ouvi-lo. Afinal de contas, terá pensado, fui convocado pelo Presidente Karolos Papoulias para tentar formar um gabinete. Além disso, não foi por capricho da Deusa Fortuna. Constitucionalmente, lhe assistia o direito de participar desse exercício, depois de Antonis Samaras, líder dos conservadores, e antes de Evangelos Venizelos, chefe do Pasok.
     Decerto, o atraiu a perspectiva de que o recém-eleito socialista François Hollande atenderia ao seu pedido. No fim de contas,ele vencera o conservador Nicolas Sarkozy sob a bandeira do estimulo ao crescimento econômico e não o da austeridade. No entanto, o esquerdismo de Hollande tem limites, e ele preferiu não conceder ao grego Tsipras – que no momento, além de chefe da Syriza, é deputado ao Parlamento helênico  - a oportunidade de uma audiência.
     Se em Paris a sorte lhe foi madrasta, resulta difícil acreditar que Tsipras haja considerado ter alguma chance em ser recebido pela própria antítese da sua proposta política. Angela Merkel persiste no seu apego extremado à austeridade. Dado o desafio colocado pela eventual superveniência do temido calote de Atenas, há uma compreensível movimentação nos gabinetes europeus e no BCE para encontrar uma resposta para a crise. Se a Chanceler Merkel pode acabar isolada na sua inflexível pertinácia da receita da austeridade como solução para a crise do euro (e da Grécia, entre outros países), diante do nascente polo alternativo alicerçado pelas urnas – ao contrário da sucessão de reveses que a Merkel vem colhendo nos Länder alemães – não se pode excluir que as respostas para a crise europeia não mais sejam da espécie do samba de uma nota só que prevalece até o presente.
      Não me reporto a pescadores de águas turvas – como tem sido o Primeiro Ministro David Cameron, que julga poder dar o troco de suas desventuras na U.E. com predições acerca do próximo descalabro do euro – mas se afigura sempre mais provável que a saída keynesiana para a crise venha a colher um número crescente de adeptos.
      Nas suas palavras em Berlim, Tsipras afirmou: “Estendemos a mão para todos os lados do espectro político,não viemos aqui para chantagear quem quer que seja, viemos para discutir. Queremos uma troca de ideias e pensamos que aqueles temerosos do diálogo não estão preparados para debater, talvez por que tenham uma consciência pesada”.
     Se na Alemanha, o seu anfitrião – o Partido da Esquerda – atravessa momento difícil, em que a sua liderança é contestada, no dia anterior, na França, o interlocutor foi o quarto colocado no primeiro turno, Jean-Luc Melenchon.
      Não tendo a excursão europeia do lider da Syriza saído com o figurino previsto, a inexperiência de Tsipras provocou previsíveis censuras na frente interna.
     Para o virtual segundo turno nos comícios gregos, a dezessete de junho, há uma tentativa da Nova Democracia (conservadores) de Samaras de reforçar a sua bancada. Nesse sentido, Dora Bakoyannis, filha do antigo Primeiro Ministro Konstantinos Mitsotakis, tentara em 2009 assumir a liderança partidária, mas foi derrotada por Samaras. Agora, realiou-se com Samaras, e suspendeu a atividade de sua Aliança Democrática (que não preencheu a quota de 3% necessária para o ingresso no Parlamento). Outro partido de direita – o Laos- que também não lograra alcançar o limite dos 3%, está sendo incorporado na Nova Democracia, no intento de que atinja o número suficiente para fazer jus ao ‘bônus’ de mais 50 deputados, atribuídos pela Constituição helênica ao partido majoritário, com vistas a assegurar a governabilidade.
     É de notar-se que E. Venizelos do Pasok foi recebido às pressas pelo Presidente François Hollande, em uma audiência obviamente arranjada, dada a negativa do Elysée em agendar entrevista com o radical Alexis Tsipras.
     Na pequena Grécia, para onde se dirigem as atenções dos governantes da União Europeia, a próxima eleição poderá dar a sinalização para o eventual encaminhamento  da crise. Dada a circunstância  de que a insatisfação popular com a situação da República Helênica volte a manifestar-se nas linhas precedentes, com a permanência do calote de novo saindo das urnas, não surpreende  que Berlim (e Bruxelas) acenem com possibilidades de lidar de forma pró-ativa com a reiteração de tal desafio.
     Qualquer que seja o resultado, semelha difícil visualizar a formação de gabinete do tipo do encabeçado por Lucas Papademos, tão cordato e disposto a cumprir todas as exigências da Chanceler Angela Merkel.



(Fonte subsidiária: International Herald Tribune)   

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