quarta-feira, 23 de maio de 2012

Crescei e Endividai-vos !

                                 
      Já faz tempo que a economia brasileira se acha aos cuidados do alfaiate Guido Mantega. Com efeito, pela forçada saída de Antonio Palocci, Mantega assumiu o ministério da Fazenda ainda no primeiro mandato do Presidente Lula (27 de março de 2006), e agora serve a sucessora, Presidente Dilma Rousseff. São, portanto, mais de seis anos.
      Posto que os estilos sejam diversos – o de Lula da Silva mais presidencial, e o de Dilma, mais gestorial – Mantega vem singrando  mares que não  são de almirante com a nave Brasil a contento dos respectivos comandantes.
     Aumentamos nossas reservas em divisas, o real é moeda estável e valorizada, somos credores do FMI e o Produto Interno Bruto (PIB) cresce, se bem que não no ritmo de outros BRICs.
      No momento, por força de ulterior crise internacional – em 2008, tivemos a crise financeira internacional, originária da bancarrota do Lehman Brothers que aqui virou marolinha; agora, pairam na Europa as dúvidas  acerca do euro, decorrentes da inadimplência da Grécia e de outros mais – patina a taxa de crescimento de nosso PIB.
     Seguindo o exemplo anterior, se pretende alavancar a economia pela via do consumo, vale dizer, do incentivo às compras de bens de consumo duráveis (automóveis populares, eletrodomésticos) através de reduções de impostos que gravam esses produtos.
     Nesses termos, o governo estimula o incremento nas vendas desses bens duráveis, com que se favorece as montadoras de automóveis – mantendo artificialmente aquecido o setor se evitam as férias forçadas nas fábricas – e a economia se conserva ativa.
     O quadro, contudo, se complica se tivermos presente que esse crescimento é alimentado pelas vendas a crédito. Nada mau se é para movimentar a economia e evitar o desemprego .
     Procurar sair da crise pelo incentivo ao crédito implica no aumento do endividamento. As estatísticas da dívida das famílias junto aos banco mostram um crescimento sustentado desde janeiro de 2007 com 24,9% até janeiro de 2012, com 42,72%, e uma projeção do professor Simão Silber para abril p.p. em 45%. Por outro lado, a evolução do comprometimento da renda dos brasileiros com dívidas bancárias vai de 15,58% (janeiro de 2005) até 22,30% (dezembro de 2011).
     Segundo outras informações, o brasileiro se serve do cheque especial (com os seus juros escorchantes) em 22 dias do mês, o que decerto não é pouco. Se as taxas de endividamento ainda não atingem níveis da dívida americana, ao ensejo da presente grande recessão, a tendência brasileira consoante as tabelas não é de molde a visões muito otimistas.
    Por outro lado, ao contrário de outros povos, a poupança do brasileiro não tem o animador percentual que se registra além mar. Há pouco, falou-se muito da caderneta de poupança, de quanto o modelo preexistente é estimado pelo brasileiro comum. Tudo isso pode ser verdade, mas tal não quer dizer que sejamos um país de poupadores. A dívida, através do excesso de aquisições a prazo, seria nosso traço mais marcante.
     Sob o lulopetismo, o governo favorece a transferência de renda para as classes menos aquinhoadas pela sorte. É orientação positiva, que deve ser estimulada. Para alcançar tal objetivo, no entanto, semelha no mínimo discutivel o procedimento adotado pelos Presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff.
    Mesmo através da dívida, a filosofia keynesiana incentiva a ativação da economia através de investimentos que criem melhores condições de emprego, transporte e saneamento. Esse alavancamento da economia é feito parcialmente através de déficits orçamentários, que serão compensados no futuro pelas maiores oportunidades criadas.
   O lulopetismo, no entanto, privilegia os gastos correntes, com o consequente aumento do empreguismo, a par do assistencialismo, de programas como bolsa família e outros congêneres.
    O problema do assistencialismo está espelhado no estado-líder deste programa, a saber o progressista Maranhão, em que mais de noventa por cento da população está por ele coberta. Não obstante, seu índice de desenvolvimento humano (idh)  é o segundo mais baixo do Brasil.
    Não se deve, decerto, deixar à míngua aqueles que precisam. Sem embargo, a orientação básica de tais esquemas de apoio é criar condições para que as pessoas e comunidades saiam da situação em que se encontram.  O exemplo do Maranhão e outros estados do Nordeste aponta para uma condição permanente, em que os favorecidos se contentam com os magros recursos que lhes são atribuídos, sem qualquer ambição de alcançar novos patamares existenciais mais dignos.
     Outro aspecto da economia petista é o salário mínimo, que vem sendo inchado, não só pelas taxas da inflação, mas até pelo índice  de crescimento do PIB. O que se está fazendo é uma retroalimentação da inflação, mantida ativa através de  série de anacrônicos índices,  herança da cultura da carestia.
     O Estado brasileiro sob os líderes da filosofia lulopetista continua deficitário em investimento, o que se traduz em generalizada deficiência em infraestrutura, saneamento básico,saúde, educação e segurança.
     O nosso crescimento em termos de PIB, alimentado pelo real sobrevalorizado, nos coloca ora como sexta economia mundial, superando o Reino Unido !
     Haja vista o que precede, é de perguntar-se se este lema do ‘Crescei e Endividai-vos!’ irá funcionar por muito tempo.   
   A mãe de Napoleão, Laetitia Ramolino Bonaparte, quando lhe contavam das glórias do filho, costumava dizer, no seu francês estropiado:  Desde que isso dure...



( Fonte:  O Globo )  

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