domingo, 20 de maio de 2012

Colcha de Retalhos CXIII


                  
Chen Guangchen nos Estados Unidos


       O dissidente cego Chen Guangchen, acompanhado de sua esposa e dos dois filhos, chegou afinal aos Estados Unidos. Após a sua estada na Embaixada americana em Beijing, quando da visita oficial da Secretária de Estado Hillary Clinton, Chen ficara em hospital chinês (para tratar-se de fratura no pé, ocasionada por sua rocambolesca fuga de sua casa na província, na qual tinha sido  mantido, após cumprir  pena de quatro anos, sob ilegal prisão domiciliar).
      A crise fora contornada ao transformar-se Chen de asilado político em candidato a  bolsa de estudos nos Estados Unidos. O advogado autodidata obteve a bolsa de estudos na New York University.
      Durante a viagem o contato de Chen com a imprensa foi restrito ao mínimo,tendo sido entrevistado por um único jornalista. Tampouco teve contato com a mídia e o público, ao chegar ao aeroporto de Newark, no estado de New Jersey.
     Como na canção sem lenço e sem documento, Chen receberu o passaporte já durante o voo para os Estados Unidos. A delicadeza da transferência se refletiu na determinação do State Department de que não tivesse ele contato com a imprensa (nem com público) ao chegar.
     Somente na New York University o sorridente Chen pôde ser visto e dar as usuais declarações.
    Começa agora talvez a parte mais difícil da estada nova-iorquina. De celebridade Chen passará a um bolsista chinês, no que não se diferencia de centenas de milhares de compatriotas seus.
    A par da incerteza quanto à possibilidade de retorno à pátria – teoricamente seria rotineira, mas quem há de dizer que a sua vinda se assemelhe às viagens dos demais estudantes chineses ? Além de ser mantido à parte com a família no vôo da companhia americana, o acompanharam no deslocamento diplomatas americanos, destacados para tanto por falarem mandarim. Por ora, Chen é monoglota.  

        

Mais uma do Ministro Pimentel


      O Ministro Fernando Pimentel (PT), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), segundo noticia a imprensa, usou avião fretado pelo empresário João Dória Júnior para viajar em outubro do ano passado da Bulgária para a Itália. Pimentel fazia parte da comitiva da Presidente Dilma Rousseff, então em viagem de cunho sentimental à Bulgária, terra natal de seu pai.
     O deslocamento para a Itália permitiu a Pimentel  reunir-se com empresários, em evento organizado por  Dória. A carona foi omitida em documento oficial – segundo o qual o trajeto de Sófia a Roma foi feito em ‘veículo oficial’ e não em avião privado.
     É de recordar-se que o Ministro Pimentel teve tratamento diferenciado quando da revelação de suas ‘consultorias’. Ao contrário do Ministro Palocci não foi obrigado a exonerar-se, permanecendo no cargo por expressa vontade da Presidente Dilma Rousseff, de quem é amigo pessoal.  
 

A enésima Reforma ortográfica


     O leitor decerto se recordará da última reforma ortográfica que nos foi presenteada pelos alegres membros da Academia Brasileira de Letras. Já faz tempo que milhares de publicações tiveram de conformar-se à nova ortografia. Apesar em pífias alterações, a ‘reforma’, aprovada ainda sob o governo de Luiz Antonio Lula da Silva, implicou na forçada substituição de muitos livros, tornados artificialmente defasados pelas novas regras acordadas, segundo foi amplamente divulgado pelas instâncias competentes para atender a reforma também aplicável em Portugal.
    O que a grande e ignara maioria do público brasileiro desconhece é um pequeno detalhe desta imprescindível reforma, feita para que o português de Portugal, e o português do Brasil fossem grafados de forma idêntica.
    Tenho para mim que as repetidas reformas ortográficas a que nós brasileiros somos submetidos – e nesses últimos cinquenta anos foram pelo menos três – são um sinal de subdesenvolvimento. O que era certo no ano passado, se torna um erro ortográfico para os acadêmicos.Enquanto isso, países mais atrasados – v.g., Estados Unidos, Reino Unido, França – atravessam séculos sem dar-se ao cuidado, julgado pelos nossos imortais indispensável, de modificar a grafia.
    Pois não é que, como alunos obedientes instauramos as novas (e inúteis) regras ortográficas  em Pindorama, mas Portugal, que seria a razão primacial das tais mudanças, prefere manter a sua grafia específica, que reflete a realidade falada em Portugal.
    A presente reforma – no papel decidida pelas autoridades governamentais, mas na prática feita pela mesa diretora da ABL de então (reporto-me aos que viajaram por conta das mofinas alterações) – constituirá acaso uma lição futura de como não se deva proceder em exercícios de tal gênero ? A par da inutilidade das modificações, o Brasil se vê impingido a seguir nova ortografia, supostamente para adequar-se ao exemplo da antiga metrópole.
     Esse exercício, além de multiplicar inúteis despesas para renovação de compêndios, constitui a prova irrefutável de uma adequação de índole colonialista, que em fim de contas gorou.
     E não se deve nem censurar o menor conhecimento do então Presidente Lula ao assentir a tais estultos projetos. Antecessores seus, com maior convivência livresca, se prestaram a outros exercícios igualmente desnecessários.
     Será que para alguma coisa há de servir este vexame ortográfico ? Somos acusados de macaquear estrangeirismos. Com isto, inovamos. Porque o governo se submete a um projeto de imitação, que acaba por não acontecer...

   

( Fontes: CNN, O Globo, Folha de S. Paulo )    

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