segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Perspectivas de Obama


Não é necessário olhar em bola de cristal ou interpretar as cartas do tarô para que se prediga o caminho acidentado diante de Barack Hussein Obama. Acaso o 44º Presidente dos Estados Unidos se juntará à inglória companhia dos seus antecessores de um só mandato ?
Eis a pergunta que motiva os ambiciosos, a partir dos republicanos. A fundadora do Tea Party, a radical de direita Michele Bachmann, está na dianteira dos pré-candidatos do GOP. As pesquisas no estado de Iowa, colocando em terceiro lugar o seu rival direto, o ex-governador do Minnesota Tim Pawlenty, o induziram a sair da disputa presidencial.
O grupo de pretendentes acha-se inchado por postulantes como Newt Gingrich que ainda não se convenceram de que a sua hora – se algum dia a tiveram – já passou faz muito.
No pelotão da frente, há um enfraquecido Mitt Romney – como explicar que o plano de saúde por ele aprovado para o Massachusetts não vale também para o resto do país ? – e surge, com as bênçãos de Bush jr., o governador do Texas, Rick Perry.
No cenário texano, a sua receita de baixa nos impostos, combate à divida e equilíbrio orçamentário, e fervor evangélico têm rendido popularidade e força política. Segundo a opinião de muitos, seria o concorrente mais temível para o candidato democrata, do que Michele Bachmann, com performance apagada na Câmara, ao invés do bem-sucedido Perry no estado da estrela solitária (de onde saíu o compassivo conservador George W. Bush).
Quanto a Barack Obama, há a registrar duas notícias a seu respeito. A primeira é que vai realizar turnê eleitoral, de ônibus, em três estados havidos como chave para o pleito de novembro de 2012: Iowa, Minnesota e Illinois. Nessa viagem pelo Meio Oeste americano Obama tenciona mergulhar na América profunda e de mangas arregaçadas expor ao homem da rua quais as suas intenções para lidar, em eventual segundo mandato, com os maiorais atuantes dentro do chamado anel rodoviário (Beltway) de Washington.
Os arrecifes na rota do presidente em exercício começam com a segunda notícia. Por primeira vez, a quota dos que o apóiam, segundo pesquisa do instituto Gallup, com 39% de aprovação, caíu abaixo dos 40%.
No primeiro biênio, a Administração Obama se insulou da opinião pública americana. Há dois episódios que retratam tal erro político: a vitória de Scott Brown (Mas.-Rep) para suceder à cadeira vazia deixada pela morte de Ted Kennedy, e, paradoxalmente, o triunfo parlamentar para a aprovação de Plano Geral de Saúde, que permitiu fosse desfigurado pelo GOP como Obamacare. Ao manter-se olímpico acima da refrega, o Presidente tornou possível a rápida recuperação do Partido Republicano, aguilhoado pelo Tea Party, do partido perdedor de 2008 por causa da guerra do Iraque e da crise financeira.
Por outro lado, a estranha opção de Obama pelo centrismo e por alegada postura acima dos partidos (exemplificada no seu afastamento das velhas posições democratas que defendem segmentos importantes de seu eleitorado, através dos programas sociais - Medicare e Medicaid), voltou a dobrar-se perante as exigências republicanas (cortes nos benefícios sociais), sem fazer valer as próprias (a dádiva de Bush jr. aos mais ricos em termos de corte nos tributos continua).
É cedo para prognosticar como será composta a chapa eleitoral a ser apresentada ao povo americano em novembro de 2012. Obama é pré-candidato natural à reeleição, mas não está escrito que ele será aceito pela Convenção Democrata.
Contra ele existem duas fortes reservas: passa imagem de fraqueza, que se origina das frequentes renúncias em embates com o GOP. Para o povo, ele se dobra (folds). Por outro lado, as taxas de desemprego continuam altas, e a economia americana está estagnada, à beira de uma possível recessão.
Obama tende a ser responsabilizado por esta situação, eis que, quando dispunha de largas maiorias nas duas Câmaras, não criou condições suficientes para a superação da recessão e do desemprego herdado das loucuras de Bush Jr. Causou consternação nas próprias fileiras e entre antigos partidários liberais, que o presidente haja preferido ser um falcão inimigo dos déficits, e não um campeão da criação de novas oportunidades de emprego.
Por outro lado, por falta de têmpera ou de súbita propensão a um vazio centrismo, Obama saíu perdedor de suas disputas com a liderança do GOP. Não se valeu dos poderes de que dispunha para impor as teses democratas (restabelecimento das alíquotas dos impostos pagos pelos mais ricos, desfazendo a ‘dádiva’ de Bush).
O primeiro afro-americano presidente foi eleito em campanha na qual se assinalou pelo seu não à aventura no Iraque (o maior erro político de Hillary Clinton) e o sim à mudança (change), e ao fechamento de Guantánamo. Os Estados Unidos estão saindo do Iraque, mas a guerra no Afeganistão persiste. Tampouco pode-se falar de mudança ou de fechamento da prisão de Guantánamo. Por isso, o apoio entusiasta que colhia na juventude e o segmento liberal foi bastante sacudido por inúmeras renúncias.
Como semelha óbvio, é demasiado cedo para considerá-lo carta fora do baralho. Os presidentes em exercício (incumbents) têm bastante poder, mesmo se residual. Foi valendo-se de tais trunfos que Jimmy Carter, a quem perseguia rótulo de fraqueza, logrou vencer a contestação nas primárias por Ted Kennedy. Os tempos difíceis e os reféns na embaixada em Teerã, no entanto, levaram o povo americano a votar por Ronald Reagan, para negar-lhe o segundo mandato.
Dados os seus defeitos, reais ou virtuais, e sobretudo pelas difíceis condições econômicas e a consequente baixa aceitação, Barack Obama terá de arrostar árdua e íngreme ladeira na rota da almejada reeleição: o possível fogo-amigo de um(a) forte contendor(a) no partido Democrata e, se lograr a designação (nomination), outro caminho das pedras nos comícios de novembro de 2012. Neste caso, só lhe resta rezar para que o GOP designe algum extremista, ligado ao Tea Party, para que Obama seja reeleito a duras penas como o menos ruim para a América do Norte.


(Fonte subsidiária: O Globo )

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