terça-feira, 9 de agosto de 2011

Notícias do Front (VII)


Ucrânia: prisão da líder da oposição

A combativa líder da oposição na Ucrânia, Yulia V. Timoshenko, está sendo processada pelo Presidente Viktor F. Yanukovich por abuso de autoridade, quando exerceu o cargo de Primeiro Ministro. Há poucas dúvidas sobre o caráter político da acusação.
O que preocupa agora é a atitude do juiz que preside a ação. Com efeito, o magistrado Rodion Kiriyev determinou-lhe a detenção por desrespeito à sua autoridade.
Além da frágil base de uma medida de tal gravidade, e ainda mais aplicada a uma ex-chefe do Governo, e lider da oposição, a penalidade implica numa postura hostil do juiz Kiriyev. Na jovem democracia ucraniana, a judicialização da vindita política não é um bom presságio para o fortalecimento do sistema.
Como se sabe, a Timoshenko é uma dirigente nacionalista, cujo apego às tradições ela o simboliza na sua trança camponesa. Uma das chefes da revolução laranja, Yulia agora enfrenta a vingança do adversário Yanukovich, que na antiga república da União Soviética continua a defender posições próximas do Kremlin.
A arbitrária prisão da ex-Primeiro Ministro pelo juiz Rodion Kiriyev se baseou na atitude demonstrativa da Timoshenko. Como não reconhece a validade do processo – que acoima de motivação política – ela se recusou a levantar-se para responder às perguntas do magistrado.
Apesar de suas diferenças, a oposição distingue na ação séria ameaça para a democracia ucraniana. Nesse sentido, o antigo presidente do parlamento e ministro do exterior, esteve presente nesta segunda-feira no tribunal, quando da apresentação das moções dos advogados em prol da liberação de Yulia.
Em seu favor, foi apresentada carta do Patriarca da Igreja Ortodoxa Ucraniana, que assegura a sua disposição de não sair do país, nem de perturbar o andamento do processo.
Malgrado o considerável movimento popular, e as diversas manifestações de apoio inclusive da União Europeia, o juiz - que rejeitou as duas primeiras moções dos advogados – não despachou a terceira, a qual pretende considerar no momento oportuno.

O povo precisa saber do nível de radiação ?

Um dia depois da tsunami e o consequente desastre nos reatores nucleares da usina de Fukushima Daiichi, milhares de residentes na cidade de Namie foram aconselhados a abandonar as próprias casas. Sem orientação do governo central em Tóquio, os funcionários locais recomendaram que fossem para Tsushima. Aí permaneceram por três noites, enquanto os ventos sopravam em direção norte, justamente para o sítio onde os sinistrados se achavam.
Sabe-se agora que um computador governamental – preparado para uma tal eventualidade – estava mostrando os níveis de radiação nuclear naquela área.
No entanto, a cultura dos burocratas de Tóquio impediu que essa oportuna informação fosse levada ao conhecimento dos diretamente interessados. Essa peculiar cultura os predispõe a evitar responsabilidades e acima de tudo críticas. Se de início os lideres japoneses ignoravam a existência do sistema, mais tarde optaram por não divulgar os dados relativos à radiação em Tsushima. O governo não se mexeu para ajudar os seus compatriotas – a despeito do perigo que corriam. Aparentemente, não queriam aumentar demasiado a área de evacuação, o que lhes contrangeria a reconhecer a severidade do acidente nuclear.
A esse propósito, Tamotsu Baba, o prefeito de Namie, declarou em entrevista na cidade de Nihonmatsu, onde milhares de habitantes de Namie vivem atualmente em habitações temporárias: por quatro dias estivemos em local com um dos mais altos níveis de radiação. Estamos extremamente preocupados com a nossa exposição interna à irradiação. E acrescentou: a negação da informação equivale a ‘assassinato’.
Infelizmente o cenário descrito corresponde a um padrão de comportamento.
Assim, as empresas concessionárias tentaram ocultar do governo em Tóquio a falência do sistema, cuja obsolescência não devia ser segredo para as firmas em tela. E o governo de Tóquio em seus diversos níveis procurou igualmente minimizar o desastre, pensando zelar pelos próprios interesses. Os egoismos financeiro-empresarial, e político-administrativo não levavam em consideração os interesses sanitários dos suditos japoneses, justamente o que deveria motivar o próprio comportamento, como objetivo precípuo de sua
atuação, que se presume responsável.

Os Pais da Crise

Merece ser lida com atenção a coluna de Paul Krugman, intitulada Dívida e Atrevimento (Chutzpah). A sua análise da Standard & Poor’s me parece muito oportuna e devastadora na exposição dos erros da agência classificadora, assim como na sua responsabilidade pregressa quanto à outra crise, a de 2008. Em blog anterior, já me reportara ao tríplice A que a S&P concedera aos CDOs baseados em certificados hipotecários que hoje viraram ativos lixo.
Krugman tem talvez opinião demasiado otimista, dada a situação política dentro do anel rodoviário de Washington, quanto às possibilidades de corrigir os fatores estruturais da crise.
Nenhuma dúvida quanto à responsabilidade do Partido Republicano. Os seus líderes não ousaram contrariar um grupo de radicais, eleito nos últimos de novembro. Se a parte de culpa do Tea Party não pode ser escamoteada, tampouco seria o caso de omitir a parte do Presidente Barack Obama nesse desastre da dívida. Além de ter os meios para reagir, mais uma vez optou por curvar-se aos radicais do GOP. Nesse sentido, fica difícil discordar das pesquisas de opinião, em que o nível de avaliação do 44º Presidente pelo povo americano reconhece esta realidade política, a par da condenação ao Partido Republicano.

(Fonte: International Herald Tribune)

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