quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Combate à corrupção é abuso de autoridade ?


O Governo Dilma Rousseff, que vinha surfando nas pesquisas pela faxina no Ministério dos Transportes e no Dnit, feudos do Partido da República (PR), ora se depara com novo e bem maior desafio. Não é que a Polícia Federal, aliada ao Ministério Público e quem sabe à própria Justiça, ora inventa de prender 35 pessoas por desvio de recursos do Turismo, pasta sob a expressiva direção de Pedro Novais, estrela do baixo clero do PMDB, e indicação política do estadista José Sarney (PMDB/AP) ?
Entre os peixes graúdos colhidos na rede estão: Frederico Silva da Costa (indicado pelo PMDB, com apoio do PTB), o ex-presidente da Embratur Mário Moysés (ligado ao PT e à Senadora Martha Suplicy), o secretário Colbert Martins, ex-deputado pelo PMDB da Bahia, e Luiz Gustavo Machado (diretor-executivo da ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável - Ibrasi). Foi justamente em um dos endereços dessa ONG que os policiais encontraram R$ 610 mil em espécie.
As investigações da P.F., alcunhadas de Operação Voucher, tiveram por origem uma emenda de R$ 4 milhões da Deputada Fátima Pelaes (PMDB/AP). A referida deputada – que é candidata a uma vaga no Tribunal de Contas da União - também no contexto da operação policial indicou o Ibrasi para firmar convênio com o ministério.
Como bem foi lembrado, o PR, a vítima anterior, tem sete senadores e quarenta deputados. Já o PMDB, ostenta vinte senadores e setenta e oito deputados. Com a exclusão do PT – infelizmente também implicado na questão – o PMDB é o maior partido da coesa aliança pluripartidária que por motivos ideológicos defende a administração petista de Dilma Rousseff.
Diante desse quadro, se tem a princípio a impressão de que existe algo errado no que concerne à postura dos partidos envolvidos pela operação Voucher. Houve revolta nas hostes do PMDB que cobrou explicações da Presidenta Dilma Rousseff. Quem cobrou exatamente não está especificado, pois todos, a partir do vice-presidente Michel Temer e do líder na Câmara, Henrique Alves (PMDB/RN) integram a coesa sigla. Há indignação com o abuso de poder da Polícia Federal (e também do M.P.).
Dilma tratou de determinar ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que se inteirasse das acusações. Então, a P.F. explicou que começou a apurar o caso a partir de relatório do T.C.U. As prisões foram decretadas pelo juiz Anselmo Gonçalves, da 1ª Vara da Justiça Federal, com base em parecer favorável do M.P.
O PT, através do líder da bancada Candido Vaccarezza (SP), também se associou ao sentimento de revolta, externado pelos representantes do PMDB.
Compreende-se que o PMDB e o Palácio do Planalto tenham saído em defesa do Ministro do Turismo, esta expressão política maranhense, que seria da corrente do Presidente José Sarney (Sua Excelência, quiçá por modéstia, declina responsabilidade na indicação do latinista Pedro Novais). Igualmente se entenderá a postura do PT, que no passado anterior a 2002 se assinalara na defesa intransigente da ética na política.
Apesar de ter o segundo de seu ministério (Frederico Silva da Costa) infortunada e decerto provisoriamente preso, Pedro Novais - cujo controle da Pasta ninguém duvida - não tem responsabilidade no caso, eis que os fatos aconteceram antes de ele assumir. Por isso, os líderes governistas acusaram a Justiça e o Ministério Público de abuso. De sua parte, a Ministra Ideli Salvatti, pescada de sua pasta pregressa para suceder ao Ministro Luiz Sérgio, acreditou oportuno seguir a linha de Sadam Hussein (o mensageiro é sempre o culpado), quando pronunciou Novais como vítima de ‘armação da imprensa’.
Desde muito se culpa Brasília e os ares do Planalto Central como promotores de uma certa alienação de parte de nossos representantes políticos. Os princípios que norteiam o comportamento do comum dos mortais não semelham muita vez presentes no rarefeito ar da Esplanada dos Ministérios.
Agora que parece em curso uma alegada inversão de valores, com a indignação do PMDB (e do PT) diante de uma operação legal da Polícia Federal, já sabemos da reação diante da opinião publicada.
O comportamento futuro do Governo Dilma Rousseff mostrará se a vitrine da faxina tem consistência ou se é apenas um marketing passageiro.
A opinião pública, calejada pelas usuais peripécias, espera que a igualdade de todos perante a lei seja preservada. Ou será que os bois, pelo tamanho da manada, terão privilégios não acessíveis aos partidos miúdos e ao comum dos mortais ?


(Fonte: O Globo )

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