terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Leilão de Libra

                                               

         Os leilões não são exatamente o forte deste Governo, apesar da pressa da Presidente Dilma Rousseff em vir à televisão, em rede nacional, para faturar junto à opinião pública sobre o sucesso da operação de ontem. A urgência foi tanta que até se refletiu na transmissão, iniciada sem áudio pela Presidenta, até que o som foi restabelecido. No contexto, é presumível que os responsáveis terão considerado desnecessária a repetição, visto que reforçaria a ideia de inserção atabalhoada.
         Para Libra, houve apenas um lance, eis que não se caracterizou a concorrência. Com uma única oferta, não se verificou a disputa, ficando o leilão estagnado no mínimo exigido, vale dizer 41,65% do lucro em óleo. Todavia, a operação não foi sem surpresa favorável, com a forte participação de empresas privadas – a anglo-holandesa Shell e a francesa Total – ao lado da Petrobrás e das estatais chinesas CNOOC e CNPC.

         Uma das interrogações está na capacidade da Petrobrás em arcar com os pesados investimentos pela frente –  descapitalizada pela política do governo supostamente amigo de D. Dilma, forçada a bancar o ágio nos preços da gasolina.

         Mais uma vez, as regras estabelecidas sufocam pelo estatismo excessivo – na preocupação de evitar a ‘pecha’ de privatizante, como de resto ficou explícito na observação da alocução comemorativa de D. Dilma – não só por obrigarem a Petrobrás a ser operadora única, senão ao criar a figura de mais uma estatal, a PPSA, que tem poder de veto nas decisões de exploração.

        Alentou, no entanto, o mercado a circunstância de que a Shell e a Total tenham se disposto a entrar na operação do esquema, tendo presente a ligação anterior da Shell com a área de Libra. Com efeito, em 2001 a Shell realizara perfurações na área, mas nada encontrara na camada do pós-sal, o que a levou a devolver a concessão à Agencia Nacional de Petróleo (ANP).

        Enquanto o governo entoa o coro previsível, com o céu azul do situacionismo, não faltam vozes dissonantes. Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobrás e diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, não vê ‘nada de positivo’ no resultado do leilão, a que intentou suspender através de liminar, com o argumento de conflito de interesses entre o plano energético brasileiro e o chinês. Batendo de frente com a Presidenta, afirmou que a operação “é a maior privatização da história do Brasil”.

      Para Marcus Sequeira, analista do Deutsche Bank, a participação de Shell e Total deu um ‘selo de aprovação’ para o consórcio.

       Assinalou que, ao contrário dos chineses, que focam em ter grandes reservas mesmo com baixo ganho, as duas grandes empresas ocidentais buscam retorno (em prazos mais breves).  Por outro lado, a participação das estatais chinesas foi definida por Márcio Reis, sócio do escritório Siqueira Castro, como “tímida”.

      Quando baixarem o oba-oba oficialista e os resmungos dos opositores – que alimentaram a saraivada de liminares, a greve dos petroleiros (na verdade pelo gordo aumento de cerca de 16% da remuneração, com o enfeite de bolo da fita azul contrária à ‘privatização’), e as manifestações algumas violentas – é que se terá o tempo necessário para avaliar o que terá, em verdade, o leilão de Libra implicado para o interesse nacional.

 

 

(Fontes: O Globo, Rede Globo)    

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

Realmente é muito difícil, para o leigo, avaliar se a operação efetuada privilegiou os interesses privados, descapitalizou ainda mais a Petrobrás ou fortaleceu, em parte, os interesses nacionais.