Dilma Rousseff mostrou desde o inicio de
seu mandato presidencial que não inovaria em termos de reestruturar a questão
fiscal. Ao assumir, não quis valer-se da perspectiva aberta a novos mandatários
de proceder seja a reforma política, seja a fiscal. De ambas o Brasil
necessita. No entanto, ela optou pela timidez nesses campos, fazendo um aceno
ao Congresso para que delas se ocupasse. Desperdiçou uma opção importante,
deixando-as por conta do Legislativo, o que, na prática, equivale a conviver
com a inoperância.
Mas se a
candidata da algibeira de Lula da Silva
se tivesse pautado por manter a casa em ordem, ainda que fôssemos onerados pela
brutal carga tributária de que o impostômetro é o triste símbolo, não
estaríamos tão mal assim em termos econômicos e financeiros.
Sem
embargo, não tendo nenhuma experiência de voo solo em cargo executivo de
magnitude, a princípio, Dilma se acomodou ao modelo do segundo mandato de Lula, com a Fazenda sob a
responsabilidade do fraco Guido Mantega
fazendo as mágicas das capitalizações, que acarretaram o crescente
comprometimento do BNDES e os
‘empréstimos’ do Tesouro.
Tampouco,
de início, a presidenta se preocuparia muito com o eventual aquecimento da
economia e o consequente surto inflacionário. Assim, sua pesada mão forçou o Banco Central a
sucessivas rebaixas na taxa Selic,
tudo para favorecer, por via do consumo, o crescimento econômico.
Foram
retomadas as chamadas desonerações fiscais de bens de consumo duráveis, como os
veículos produzidos pelas montadoras-feitorias, além da série dos
eletrodomésticos. Tais desonerações, no entanto, não tinham regras fixas, o que
tendia a provocar incerteza no meio empresarial brasileiro – que não podia
adivinhar que setores seriam privilegiados -, além da correspondente queda na
receita do Estado.
Exacerbou-se, outrossim, do empreguismo, a par do enorme incremento nos
encargos correntes da União, o que seguia a orientação do governo Lula, com o aumento do assistencialismo estatal a par da
inchação do ministério, que já beira os míticos quarenta. Em termos eleitorais,
pode ser opção proveitosa, mas representa pesada carga para o Erário, além da
consequente escassez de margens para investimentos produtivos.
A principio,
dona Dilma lidou com a inflação como
se fosse coisa de somenos, contra a qual invectivava com forte retórica, mas sem
nenhuma medida eficaz para contê-la. Seria o caso de perguntar-se onde a
Presidenta,que semelhava desconhecer e os longos anos de estagnação que o
flagelo da carestia causara ao Brasil, buscara tal estratégia.
Desperta
espécie, que ao invés de seguir a cartilha do Plano Real e do Ministro Palocci, Dilma Rousseff – como se fora uma
extraterrestre – acreditasse possível, como o seu consultor Delfim Netto,
conviver com a inflação. Nesse contexto, bradava contra o dragão ditos vazios do gênero ‘não admitiremos a volta da carestia’.
Como o terrível dragão ignora ameaças desse tipo, não tardou muito para que a
inflação retornasse.
Como sua popularidade despencou, algumas
providências foram tomadas para contê-la, inclusive a licença para que o Banco
Central de novo aumentasse a taxa Selic.
No entanto,
Dona Dilma parece seguir o modelo de Cristina
Kirchner, com os seus malabarismos em termos de transparência fiscal, do
que a prática seguida pelo seu antecessor Lula
da Silva, que pelo menos teve o bom senso de não mexer em time que estava
ganhando a partida.
A recente
querela com o FMI não é reprise de
temporadas que muitos pensavam coisa de um passado superado e se possível
enterrado.
Com a
fraqueza do Ministro Mantega que, na
terra do futebol, semelha reminiscente daqueles técnicos prestigiados pela
diretoria de um clube que não vai bem, a Fazenda não mais inspira ao inversor
estrangeiro a confiança de outrora. Além de uma inflação que está sempre a
beirar o teto máximo, as contas do Brasil parecem descambar para as da peronista
Cristina Kirchner.
Dona Dilma dá a impressão de ser alguém
deslocado no tempo, eis que a presidenta parece viver um tanto fora dele. Além
de um desenvolvimentismo defasado, que nota se deveria dar a uma gestora que
para combater a inflação pede os conselhos de Antonio Delfim Neto e Luiz
Gonzaga Belluzzo?
O Plano
Real não é obra partidária, mas um acervo a ser preservado. Desperta,
por isso, estranhável assombro que os seus autores sejam ignorados, quando se
trata de pôr em ordem a economia e as finanças.
Se não
queimasse os dedos com as pesquisas de opinião e a correspondente queda junto à
população, a presidenta nada teria feito, pois ela deve achar, como outros no
passado, que a inflação é administrável.
Agora, o
Brasil volta a sofrer reparos das autoridades do FMI. Ao invés, de brandir escudos e lanças, como era o costume –
como se as censuras atingissem a soberania brasileira, quando na verdade apenas
desnudam práticas reprováveis – o que se deveria fazer é voltar à ortodoxia
econômico-financeira. Não será por um
estúpido ataque à Lei da Responsabilidade
Fiscal (para proteger o companheiro
Haddad) que vamos pôr em perigo este
instituto importantíssimo. Para ajudar um mau devedor, é correto por em risco
as finanças da União?Se nos igualarmos à Argentina de Cristina Kirchner, com as suas contabilidades fajutas (além da inflação maquiada e pesadamente), de que servirá essa fanfarronada à presidenta? As contas vão piorar ainda mais (não há maquiagem que tapeie os fatos crus da economia), a estagnação prevalecerá e o dragão continuará pimpante.
Para tudo
isso, há um simples remédio...
(Fonte: O Globo)
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