Será difícil
encontrar um Speaker da Câmara de
Representantes mais fraco e mais conduzido por facção radical e irresponsável
do que o Deputado John Boehner (Rep/OH). Colocar em risco o crédito internacional da
superpotência, pelo apego à própria cadeira é dar para a opinião pública e os
pósteros uma lição prática de o que não é espírito de liderança.
O veterano
deputado não pode invocar falta de experiência. O GOP tem reincidido demasiadas vezes em um jogo perigoso, que põe em
risco a economia americana, assim como tende a abalar a confiança do investidor
internacional. Confiabilidade não é artigo fungível que possa ser fruído à
vontade do freguês. A declaração do Presidente Barack Obama de que o acordo ‘não teve vencedores’ deve ser lida no contexto de que ‘estão os americanos fartos de Washington’. Se não corresponde à realidade factual – a posição republicana na Câmara Baixa, diante da enormidade do próprio malogro, ruíu como um castelo de cartas, não restando ao Speaker senão a opção de votar a resolução do Senado que dava apenas a migalha no que tange a abominada Obamacare[1] – é sempre mais hábil não humilhar demasiado o adversário.
No entanto, além das perdas materiais (queda generalizada do dólar nos mercados financeiros mundiais, e um prejuízo orçado em até US$ 206 bilhões), deixará marcas a insânia da facção do Tea Party. Nunca a imagem de um cão abanando pela própria cauda se afigura tão tristemente apropriada.
Os deputados da encolhida ala do Tea Party na Câmara – e não carece de ser profeta para adiantar-lhes a marcha estugada rumo à irrelevância – ao agitar-se contra os seus falsos bichos-papões (que coisa mais ridícula esta campanha demencial contra a Reforma da Saúde Americana, reforma esta que reproduz lei estadual do Massachusetts, aprovada na gestão do governador republicano Mitt Romney) !
Pois a facção minguante do Tea Party (47 deputados, dentro da bancada do GOP de 232), pelo seu radicalismo e inflexibilidade condiciona tanto ao Speaker quanto à maioria republicana. Por prezar demasiado as prerrogativas (perks) do cargo, Boehner se deixa abanar pelas lufadas dos radicais, ignorando soluções sensatas como a de pôr em votação a moção dos republicanos moderados junto com a minoria democrata (198).
Obama, que já não é mais o novel presidente que vacilou na primeira crise artificial (2011), não recuou e forçou a inevitável debacle da oposição. O dano causado à economia americana – tanto pelo fechamento do Governo (shutdown), quanto pela ameaça de calote – além de completamente desnecessário à economia, de uma certa forma ainda persiste, pela quebrada confiança, e também por insistir na mesma estratégia – na essência, persistir em instrumentalizar o nível da dívida fiscal para obter vantagens políticas. Como o ‘acordo’ resultante da capitulação do GOP estipula um prazo artificialmente curto tanto para a reabertura da administração federal (15 de janeiro) e a seguinte elevação do teto da dívida (7 de fevereiro) o jogo de extorsão política, à custa do país e de seu standing internacional, dá toda a impressão de que vai continuar.
O Tea Party – esta criatura fabricada pela ultradireita americana, sob as benesses dos irmãos petroleiros Koch – continuará a alterar o quadro da política estadunidense, por força do gerrymander que subverte a vontade do eleitorado, e agiganta o anão da direita extremista.
Para acabar com os efeitos deletérios e deturpadores do gerrymander – essa ‘criação’ americana do século dezenove – somente o voto e também quando possível – se não apropriada por uma ‘justiça canguru’ – pelas cortes judiciais, determinando o estabelecimento de novos distritos eleitorais, com o intuito de refletir a vontade do eleitorado, e não de subverte-la em caricaturas sob encomenda.
Tudo isso é processo que leva tempo. Entrementes, a direita e a ultradireita têm os seus dias de festa, enquanto não chega a hora do acerto de contas.
Vejam só como saíu caro para a sociedade americana o primeiro biênio de Barack H. Obama, em que se recolhera no autismo da Casa Branca, como nos relata o livro “Homens de Confiança”, de Ron Suskind !
(Fontes:
O Globo, New York Times )
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