quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eleições intermediárias nos EUA (II)

                               

                  O domínio na maioria dos Estados do Partido Republicano tem resultado nos seguintes “avanços”:  redução dos impostos sobre ricos e grandes corporações; taxa mais abrangente sobre as vendas; corte nos benefícios para os desempregados; redução das  verbas para educação e diversos serviços públicos; e a tentativa de quebrar o poder dos sindicatos.
                  Por outro lado, as autoridades republicanas tem buscado manipular o direito de voto, constitucionalmente garantido, com vistas a dificultar o acesso e restringir o número de locais de votação, nas áreas com predominância de afro-americanos, latino-americanos e pobres, que, por óbvias razões, votam maciçamente nos candidatos democratas. Nesse sentido, em 2012, o governador da Flórida e o procurador-geral de Ohio cortaram o número de locais de votação, assim como a extensão de horas e dias em que estariam abertos, justamente em áreas ocupadas por negros e outras minorias, assim como idosos pobres, em gritante esforço para limitar-lhes o acesso às urnas, e a consequente votação no Partido Democrata. Malgrado o esforço dessas  minorias, consubstanciado nas longas filas nos locais de voto, pode imaginar-se o efeito que possa ter essa cruel (e inconstitucional) interferência no direito de voto dos cidadãos, sobretudo se a eleição for renhida.
                 O GOP já mostrara no passado recente, quanto um governador pode auxiliar em uma eleição. Como assinala E.Drew, Jeb Bush (irmão de George W.Bush), como governador da Flórida, é o mais perfeito exemplo do potencial alcance dessa ‘ajuda’, como aconteceu no aludido estado da Flórida, em 2000, quando a longa recontagem dos votos em áreas favoráveis ao candidato democrata Al Gore foi interrompida por inédita  sentença da Suprema Corte, que por primeira vez na história americana determinou quem seria o próximo presidente.
                  Por sua vez, a atual maioria direitista na Câmara – a que o Speaker John Boehner não contraria – se empenha em patética sucessão de tentativas de inviabilização da Reforma Sanitária Custeável. Ilustrativas da histeria nessa empresa da bancada republicana são quarenta votações para derrogar o odiado Obamacare. O esforço, posto que inútil – pois o Senado se recusa a sequer tramitá-las – serve, no entanto, para efeito propagandístico, além de ajudar o GOP a levantar dinheiro para essa estulta campanha.
                  A radicalização da postura dos republicanos na Câmara – como se vê agora em que se fechou de forma irresponsável o governo (pela sua não-aprovação do orçamento, o que não ocorria há dezessete anos) – pode ser um tiro no pé do GOP, como aconteceu no passado, com Newt Gingrich. A dose desta feita é ainda maior, pois, os republicanos semelham querer valer-se também do pretexto da revisão do teto fiscal da dívida, eis que os fundos estatais só devem durar até meados do corrente mês de outubro. 
                 A loucura da direita – e da extrema-direita do Tea Party – se parece cada vez mais com as conhecidas corridas dos lemingues. Se o instinto humano quanto à própria preservação (existencial e política) é característica que tende a influenciar – e mesmo determinar – o próprio comportamento, até o presente este saudável traço não tem aparecido muito nas hostes do Grand Old Party.
                Como se verifica, a não-representatividade da Câmara dos Representantes – que é decorrente do extenso guerrymandering efetuado depois da eleição intermediária de 2010 – é uma bomba de retardamento no mundo político americano. Com o artificialismo de seu desequilíbrio para a direita – que força o Speaker John Boehner a pular entre os blocos de gelo glacial a cada crise, na imagem de E. Drew (o problema, segundo aponta a articulista, é que os tais blocos de gelo estão desaparecendo...) – e a consequente paralisia no Congresso, a perspectiva de que os energúmenos na Câmara Baixa provoquem um problema maior (com graves prejuízos, v.g., para a situação financeira de Tio Sam) não é, pelo andar da carruagem e o irrealismo dessa bancada, um problema simplesmente teórico.
                 Por enquanto, não se vêem soluções. Sem embargo, como o instinto de sobrevivência é forte nos humanos, espera-se que se logre, contra toda a expectativa, evitar o pior... A solução – apesar de todos os obstáculos, artificiais ou não – está no corpo eleitoral varrer essas minorias enquistadas artificialmente em posições de poder através da varinha de condão do voto. A despeito de esforços em contrário – como os republicanos têm evidenciado – até hoje não se descobriu melhor maneira de pôr jeito no ordenamento jurídico do bicho homem. Esperemos que tal crença venha a ser mais uma vez corroborada em todas as eleições (gerais ou intermediárias) pelo ato simples de participar através do sufrágio livre na construção desse complicado edifício que é a democracia. Com bem evidencia Elizabeth Drew todos os pleitos são relevantes nessa complexa e laboriosa empresa.                         
 

 

(Fonte: O  Nó em nossa Política, de Elizabeth Drew, apud  The New York Review)

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