A famosa frase
do Presidente Harry S Truman pode
definir uma presidência? Nesse contexto,
o suposto afastamento de Barack Obama
de determinados temas vem colocando a questão da atitude presidencial de uma
forma muito mais incisiva.
Ao contrário
de Truman que não só definiu, mas também não hesitou em arrogar-se a
responsabilidade última do Primeiro Mandatário quando recorreu à fórmula ‘aqui
param as contas’ (the buck stops here),
Obama, por mais de uma vez tem transmitido a impressão de que desconhece
determinada questão e, por conseguinte, dela está alheio.
Em dois
recentes problemas enfrentados pela presente Administração, Barack Obama não
deu ideia de que estivesse plenamente inteirado do assunto e, por isso, surgiu
a impressão de ‘bystander president’
(presidente espectador).
Reporto-me ao
falho lançamento do site do ACA (a reforma custeável da saúde), que
se prestou à maravilha para as críticas republicanas ao Obamacare. A Secretária da Saúde, Kathleen Sebelius, tampouco terá
impressionado pelas suas respostas quanto à implementação desse site, pelo qual o cidadão americano providencia
sua inscrição nas câmaras (exchanges)
de saúde abertas nos estados pela nova reforma. Salta aos céus que dada não só
a expectativa em torno da recepção desta reforma que é a pedra angular da
Administração Obama, mas também os intentos do GOP (e são muitos) de fazê-la descarrilar, salta aos céus, repito,
que a implementação do ACA não
deveria ser questão colateral, seja do Presidente, seja da Secretária, a ponto
de permitir, pela falta de ênfase e de empenho, que o referido site tenha
evidenciado um funcionamento típico de engenho burocrático de baixíssima
prioridade.
Não há negar
que aí faltou tanto o empenho prioritário da Secretária da Saúde, quanto a
sinalização inequívoca do Presidente no que concerne à magnitude do esforço que
lhe deveria ser atribuído.
No que tange ao
escândalo das escutas e da espionagem eletrônica da National Security Agency, o distanciamento de Obama, se a princípio
serviu um escopo – o presidente não
estava inteirado da agressiva política de indiscrição eletrônica da Agência de Segurança Nacional -, com o
agravamento da crise, o afastamento presidencial passaria a significar uma de
duas coisas: uma colossal insensibilidade a uma política invasiva e pela
amplitude pouco razoável, ou alienação quase patológica de questão de magna
importância.
Como assinala a
matéria jornalística do New York Times
de hoje, em toda Administração existe a tendência natural de preservar o
Presidente. Nas audiências promovidas pela Câmara de Representantes – dominada,
e como!, pelo Partido Republicano e a sua facção extrema, do Tea Party – a respeito das escutas
procedidas pelos responsáveis da segurança, não há de surpreender que se tenha
insinuado fosse o procedimento do conhecimento do Presidente.
Dado o perfil
da Alemanha, é difícil aceitar que o grampo no celular de Angela Merkel fosse ignorado por Barack Obama. Considerando o
intelectualismo do 44º Presidente, se
tal não pode ser negado prima facie
(de cara), atendidas suas características, esse fato pode não ter merecido a mesma
atenção prioritária que dera à escuta o seu predecessor (o qual, de resto, a
determinara).
Se o estilo do
homem Barack não pode ser comparado com o de seu longínquo antecessor Harry Truman – e nesse contexto a frase
de Buffon[1]
sobre a questão revela a importância desta conexão – tampouco se deve esquecer
que cada presidente constitui um capítulo a parte.
É conhecida a
prevenção da opinião pública americana quanto à presença de intelectuais à frente da Nação. Tal
preconceito responderia ao temor de que o morador da Casa Branca seja um racionalizador,e não um líder, alguém que sopesa as
alternativas de um problema e opta por uma ação determinada. Perpassa essa
inquietação quanto à eventual indecisão da personalidade presidencial, a
possibilidade de não chegar a uma conclusão, dada eventual tendência de
examinar de forma exaustiva todas as opções.
Daí, FDR, o protótipo do êxito presidencial,
nunca foi tomado por intelectual. Tampouco Ronald
Reagan, de cuja capacidade mental muitos chegaram a desmerecer, mas que se
tornou modelo de determinação presidencial.
Já Jimmy Carter só teve um
mandato, perseguido que foi pela impressão de que hesitava por demais diante
das muitas opções que o importante ofício lhe apresentava.
(Fonte: New York
Times)
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