quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Obama e o Desafio da Presidência

                                    

        A famosa frase do Presidente Harry S Truman pode definir uma presidência?  Nesse contexto, o suposto afastamento de Barack Obama de determinados temas vem colocando a questão da atitude presidencial de uma forma muito mais incisiva.
        Ao contrário de Truman que não só definiu, mas também não hesitou em arrogar-se a responsabilidade última do Primeiro Mandatário quando recorreu à fórmula ‘aqui param as contas’ (the buck stops here), Obama, por mais de uma vez tem transmitido a impressão de que desconhece determinada questão e, por conseguinte, dela está alheio.

       Em dois recentes problemas enfrentados pela presente Administração, Barack Obama não deu ideia de que estivesse plenamente inteirado do assunto e, por isso, surgiu a impressão de ‘bystander president’ (presidente espectador).
       Reporto-me ao falho lançamento do site do ACA (a reforma custeável da saúde), que se prestou à maravilha para as críticas republicanas ao Obamacare. A Secretária da Saúde, Kathleen Sebelius, tampouco terá impressionado pelas suas respostas quanto à implementação desse site, pelo qual o cidadão americano providencia sua inscrição nas câmaras (exchanges) de saúde abertas nos estados pela nova reforma. Salta aos céus que dada não só a expectativa em torno da recepção desta reforma que é a pedra angular da Administração Obama, mas também os intentos do GOP (e são muitos) de fazê-la descarrilar, salta aos céus, repito, que a implementação do ACA não deveria ser questão colateral, seja do Presidente, seja da Secretária, a ponto de permitir, pela falta de ênfase e de empenho, que o referido site tenha evidenciado um funcionamento típico de engenho burocrático de baixíssima prioridade.

       Não há negar que aí faltou tanto o empenho prioritário da Secretária da Saúde, quanto a sinalização inequívoca do Presidente no que concerne à magnitude do esforço que lhe deveria ser atribuído.
       No que tange ao escândalo das escutas e da espionagem eletrônica da National Security Agency, o distanciamento de Obama, se a princípio serviu um escopo – o presidente não estava inteirado da agressiva política de indiscrição eletrônica da Agência de Segurança Nacional -, com o agravamento da crise, o afastamento presidencial passaria a significar uma de duas coisas: uma colossal insensibilidade a uma política invasiva e pela amplitude pouco razoável, ou alienação quase patológica de questão de magna importância.

       Como assinala a matéria jornalística do New York Times de hoje, em toda Administração existe a tendência natural de preservar o Presidente. Nas audiências promovidas pela Câmara de Representantes – dominada, e como!, pelo Partido Republicano e a sua facção extrema, do Tea Party – a respeito das escutas procedidas pelos responsáveis da segurança, não há de surpreender que se tenha insinuado fosse o procedimento do conhecimento do Presidente.

       Dado o perfil da Alemanha, é difícil aceitar que o grampo no celular de Angela Merkel fosse ignorado por Barack Obama. Considerando o intelectualismo do 44º Presidente, se tal não pode ser negado prima facie (de cara), atendidas suas características, esse fato pode não ter merecido a mesma atenção prioritária que dera à escuta o seu predecessor (o qual, de resto, a determinara).
        Se o estilo do homem Barack não pode ser comparado com o de seu longínquo antecessor Harry Truman – e nesse contexto a frase de Buffon[1] sobre a questão revela a importância desta conexão – tampouco se deve esquecer que cada presidente constitui um capítulo a parte.

        É conhecida a prevenção da opinião pública americana quanto à presença de intelectuais à frente da Nação. Tal preconceito responderia ao temor de que o morador da Casa Branca seja um racionalizador,e não um líder, alguém que sopesa as alternativas de um problema e opta por uma ação determinada. Perpassa essa inquietação quanto à eventual indecisão da personalidade presidencial, a possibilidade de não chegar a uma conclusão, dada eventual tendência de examinar de forma exaustiva todas as opções.
       Daí, FDR, o protótipo do êxito presidencial, nunca foi tomado por intelectual. Tampouco Ronald Reagan, de cuja capacidade mental muitos chegaram a desmerecer, mas que se tornou modelo de determinação presidencial.  Jimmy Carter só teve um mandato, perseguido que foi pela impressão de que hesitava por demais diante das muitas opções que o importante ofício lhe apresentava.

 
 
(Fonte: New York Times)



[1] O estilo é o homem.

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