O número de
dirigentes globais vítimas da espionagem digital da NSA (Agência de Segurança Nacional) não para de crescer, segundo os
dados procedentes do jornal britânico “The
Guardian”. Especula-se que atinjam a 35
líderes mundiais, o que, convenhamos, é uma respeitável senhora curiosidade.
Como tal
ativismo da NSA se dirige a
personalidades ocidentais e outros continentes havidos como próximos
politicamente dos Estados Unidos, tais indiscrições digitais não só surpreendem
pela extensão, mas também colocam válidas questões quanto à sua pertinência e
legitimidade.
O Presidente Barack
Obama, quando questionado incisiva e internacionalmente pela Presidente Dilma Rousseff– um dos primeiros líderes a protestarem, e a adotarem
reação política ao comportamento invasivo da superpotência (cancelamento da
visita de Estado a Washington e forte crítica da tribuna das Nações Unidas) –
eludiu, na prática, as cobranças, dando a singular impressão de que é matéria
sobre a qual prefere não manifestar-se (como se fosse função de segurança que
não lhe caberia regular).
Sem embargo,
artigo de David E. Sanger, no New York Times de hoje, proporciona um
quadro bastante mais abrangente da visão da atual Administração sobre a questão,
fazendo referência à proficiência dos espiões digitais da China comunista (das
suas façanhas o furto dos planos do F-35,
o mais caro caça a jato da história). Nesse campo dos hackers invasivos, os russos têm igualmente respeitável presença.
A posição
americana, segundo Sanger, se desdobra na seguinte reflexão atribuída a Obama –
a capacidade digital da NSA se expandiu
mais rápido do que o próprio discernimento – e na convicção de que algo
deva ser feito. Nesse campo, os cinco
olhos (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) partilham
as respectivas informações, e em especial as da superpotência, e se adstringem
à injunção de não espionarem os do grupo. Nesse contexto, e incidentalmente,
fica muito mais compreensível a recusa de David
Cameron a associar-se a protesto de Frau Angela Merkel, eis que
participa do ‘núcleo duro’ do apoio à Superpotência. Como poderia o Primeiro
Ministro de Sua Majestade Britânica reclamar de procedimento que lhe aproveita?
Segundo o artigo
em apreço, não está claro desde quando o Presidente Obama esteja plenamente
informado sobre a extensão dessa intrusiva orientação da NSA. A Assessora de Segurança Nacional, Nancy E. Rice, em resposta à
sua contraparte alemã, disse que Obama nada sabia sobre a questão, mesmo se ela
não a negasse. De qualquer forma, o grampo no celular de Frau Merkel é bem antigo, eis que fora determinado ainda por George
W. Bush.
Se procede o
argumento de que a era digital expandiu de forma geométrica a capacidade das
potências de se espionarem entre si – o que é característica secular do chamado
grande jogo – não tem cabimento a suposta ilação da National Security Agency
de que tal é procedimento usual, não mais tem condições de perdurar.
Em consequência da
revelação do grampo no celular da Chanceler – um BlackBerry criptado – duas iniciativas estariam, consoante a fonte
supracitada, sendo desenvolvidas. De uma parte, projeto brasilo-germânico de
Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas estaria sendo elaborado para
divulgação em novembro próximo, no que monta a ser a primeira resposta
internacional coordenada contra a espionagem digital da NSA.
Entende-se que as
diplomacias brasileira e alemã prefiram o conduto da AGNU, apesar de que, formalmente, as iniciativas da Assembléia Geral tenham apenas a força de recomendação. Nesse sentido, com o direito do veto, seria
inviável a alternativa do Conselho de
Segurança (em que as resoluções são mandatórias, mas dependem da anuência
dos cinco membros permanentes).
Por outro lado, a
aliança Berlin-Paris prevê o início de negociações pelo virtual diretório da U.E. entre a Chanceler Angela Merkel e o Presidente François Hollande de um
Código de Conduta que limitaria a vigilância digital. Nesse sentido, o acúmulo
de revelações do Guardian confere aos dois
líderes uma óbvia vantagem. A não esquecer no particular o que vem sendo um mantra da Chanceler alemã: ‘os americanos devem restaurar a confiança’.
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