sábado, 26 de outubro de 2013

Espionagem da NSA: Reação internacional

 

       O número de dirigentes globais vítimas da espionagem digital da NSA (Agência de Segurança Nacional) não para de crescer, segundo os dados procedentes do jornal britânico “The Guardian”. Especula-se que atinjam a 35 líderes mundiais, o que, convenhamos, é uma respeitável senhora curiosidade.
       Como tal ativismo da NSA se dirige a personalidades ocidentais e outros continentes havidos como próximos politicamente dos Estados Unidos, tais indiscrições digitais não só surpreendem pela extensão, mas também colocam válidas questões quanto à sua pertinência e legitimidade.

      O Presidente Barack Obama, quando questionado incisiva e internacionalmente pela Presidente Dilma Rousseff– um dos primeiros líderes a protestarem, e a adotarem reação política ao comportamento invasivo da superpotência (cancelamento da visita de Estado a Washington e forte crítica da tribuna das Nações Unidas) – eludiu, na prática, as cobranças, dando a singular impressão de que é matéria sobre a qual prefere não manifestar-se (como se fosse função de segurança que não lhe caberia regular).
     Sem embargo, artigo de David E. Sanger, no New York Times de hoje, proporciona um quadro bastante mais abrangente da visão da atual Administração sobre a questão, fazendo referência à proficiência dos espiões digitais da China comunista (das suas façanhas o furto dos planos do F-35, o mais caro caça a jato da história). Nesse campo dos hackers invasivos, os russos têm igualmente respeitável presença.

     A posição americana, segundo Sanger, se desdobra na seguinte reflexão atribuída a Obama – a capacidade digital da NSA se expandiu mais rápido do que o próprio discernimento – e na convicção de que algo deva ser feito. Nesse campo, os cinco olhos (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) partilham as respectivas informações, e em especial as da superpotência, e se adstringem à injunção de não espionarem os do grupo. Nesse contexto, e incidentalmente, fica muito mais compreensível a recusa de David Cameron a associar-se a protesto de Frau Angela Merkel, eis que participa do ‘núcleo duro’ do apoio à Superpotência. Como poderia o Primeiro Ministro de Sua Majestade Britânica reclamar de procedimento que lhe aproveita?
     Segundo o artigo em apreço, não está claro desde quando o Presidente Obama esteja plenamente informado sobre a extensão dessa intrusiva orientação da NSA. A Assessora de Segurança Nacional, Nancy E.  Rice, em resposta à sua contraparte alemã, disse que Obama nada sabia sobre a questão, mesmo se ela não a negasse. De qualquer forma, o grampo no celular de Frau Merkel é bem antigo, eis que fora determinado ainda por George W. Bush.

     Se procede o argumento de que a era digital expandiu de forma geométrica a capacidade das potências de se espionarem entre si – o que é característica secular do chamado grande jogo – não tem cabimento a suposta ilação da National Security Agency de que tal é procedimento usual, não mais tem condições de perdurar.
    Em consequência da revelação do grampo no celular da Chanceler – um BlackBerry criptado – duas iniciativas estariam, consoante a fonte supracitada, sendo desenvolvidas. De uma parte, projeto brasilo-germânico de Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas estaria sendo elaborado para divulgação em novembro próximo, no que monta a ser a primeira resposta internacional coordenada contra a espionagem digital da NSA.

     Entende-se que as diplomacias brasileira e alemã prefiram o conduto da AGNU, apesar de que, formalmente, as iniciativas da Assembléia Geral tenham apenas a força de recomendação.  Nesse sentido, com o direito do veto, seria inviável a alternativa do Conselho de Segurança (em que as resoluções são mandatórias, mas dependem da anuência dos cinco membros permanentes).
     Por outro lado, a aliança Berlin-Paris prevê o início de negociações pelo virtual diretório da U.E. entre a Chanceler Angela Merkel e o Presidente François Hollande de um Código de Conduta que limitaria a vigilância digital. Nesse sentido, o acúmulo de revelações  do Guardian  confere aos dois líderes uma óbvia vantagem.

     A não esquecer no particular o que vem sendo um mantra da Chanceler alemã: ‘os americanos devem restaurar a confiança’.

 
(Fontes: New York Times e, subsidiariamente, O Globo )     

      

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