Os leilões
não são exatamente o forte deste Governo, apesar da pressa da Presidente Dilma
Rousseff em vir à televisão, em rede nacional, para faturar junto à opinião
pública sobre o sucesso da operação de ontem. A urgência foi tanta que até se
refletiu na transmissão, iniciada sem áudio pela Presidenta, até que o som foi
restabelecido. No contexto, é presumível que os responsáveis terão considerado
desnecessária a repetição, visto que reforçaria a ideia de inserção
atabalhoada.
Para Libra,
houve apenas um lance, eis que não se caracterizou a concorrência. Com uma
única oferta, não se verificou a disputa, ficando o leilão estagnado no mínimo
exigido, vale dizer 41,65% do lucro em óleo. Todavia, a operação não foi sem
surpresa favorável, com a forte participação de empresas privadas – a
anglo-holandesa Shell e a francesa Total – ao lado da Petrobrás e das
estatais chinesas CNOOC e CNPC.
Uma das
interrogações está na capacidade da Petrobrás em arcar com os pesados
investimentos pela frente – descapitalizada pela política do governo
supostamente amigo de D. Dilma, forçada a bancar o ágio nos preços da gasolina.
Mais uma vez,
as regras estabelecidas sufocam pelo estatismo excessivo – na preocupação de
evitar a ‘pecha’ de privatizante, como de resto ficou explícito na observação
da alocução comemorativa de D. Dilma – não só por obrigarem a Petrobrás a ser
operadora única, senão ao criar a figura de mais uma estatal, a PPSA, que tem poder de veto nas decisões
de exploração.
Alentou, no
entanto, o mercado a circunstância de que a Shell e a Total tenham se disposto
a entrar na operação do esquema, tendo presente a ligação anterior da Shell com
a área de Libra. Com efeito, em 2001 a Shell realizara perfurações na área, mas
nada encontrara na camada do pós-sal, o que a levou a devolver a concessão à
Agencia Nacional de Petróleo (ANP).
Enquanto o
governo entoa o coro previsível, com o céu azul do situacionismo, não faltam
vozes dissonantes. Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobrás e diretor do Instituto
de Energia e Ambiente da USP, não vê
‘nada de positivo’ no resultado do leilão, a que intentou suspender através de
liminar, com o argumento de conflito de interesses entre o plano energético
brasileiro e o chinês. Batendo de frente com a Presidenta, afirmou que a
operação “é a maior privatização da história do Brasil”.
Para Marcus
Sequeira, analista do Deutsche Bank,
a participação de Shell e Total deu um ‘selo de aprovação’ para o consórcio.
Assinalou que,
ao contrário dos chineses, que focam em ter grandes reservas mesmo com baixo
ganho, as duas grandes empresas ocidentais buscam retorno (em prazos mais
breves). Por outro lado, a participação
das estatais chinesas foi definida por Márcio Reis, sócio do escritório
Siqueira Castro, como “tímida”.
Quando baixarem
o oba-oba oficialista e os resmungos dos opositores – que alimentaram a
saraivada de liminares, a greve dos petroleiros (na verdade pelo gordo aumento
de cerca de 16% da remuneração, com o enfeite de bolo da fita azul contrária à
‘privatização’), e as manifestações algumas violentas – é que se terá o tempo
necessário para avaliar o que terá, em verdade, o leilão de Libra implicado
para o interesse nacional.
(Fontes: O Globo, Rede
Globo)
Um comentário:
Realmente é muito difícil, para o leigo, avaliar se a operação efetuada privilegiou os interesses privados, descapitalizou ainda mais a Petrobrás ou fortaleceu, em parte, os interesses nacionais.
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