Impressões
depois da festa
Há algumas coisas incertas, mas outras certas, na reação de Marina contra o
golpe político-jurídico que lhe foi assestado, ao ensejo do prazo legal para a
inscrição partidária, após mais uma valsa de questionável legitimidade ensejada
pela legislação.
Comecemos
pelas certas. Sobrepaira a negação do registro pelo Tribunal Superior
Eleitoral muitas suspeitas, que descambam para a quase certeza. Para lá de
estranhas as negações de validação de firmas pelos cartórios eleitorais no
A.B.C. paulista, em sub-região há muito sob o domínio político do PT.
A involução desse partido, que assume de forma cada vez mais desbragada as
práticas musculares do chavismo (ou do
peronismo kirchneriano) se é motivo de raivoso desencanto, constitui
lição prática do axioma de Lord Acton
(o poder corrompe). Dessa maneira, de todo evento, mesmo aquele mais torpe e
obnóxio, se pode tirar lição prática para o futuro.Pesa-me dizer, outrossim, que o TSE não saíu bem na fotografia. O único que mostrou atitude que não discrepa do sentir geral foi o Ministro Gilmar Mendes. Se o formalismo burocrático desse órgão – que confrange pelo nefelibatismo jurídico – não surpreende ao fim de contas. A opinião pública assistiu, entre pesarosa e incrédula, à formação de um veredito que, na prática, chancelou procedimentos inaceitáveis, os quais, nas palavras de Marina Silva aviltam a democracia brasileira. E o decepcionante quadro se completaria com o voto da Ministra Carmen Lúcia.
Quanto às incertas, falemos dos vaticínios das vivandeiras de plantão. Em prestigioso jornalão paulista, pululam, nas suas colunas, as dúvidas sobre desgraças futuras (em geral lançadas à oposição). Assim, o pessimismo está na alma do negócio: as dificuldades da aliança (Marina & Campos) são muitas, mas o contrário é um desastre (Marina perde o que tem, e Campos, o que nem chegou a ter). Já a outra vertente é mais explícita no seu derrotismo, que se adapta à maravilha aos ventos palacianos: a história das eleições mostra que acordos são passíveis de desmanchar-se no ar.
Por que tanta irritação ? Será pela simples razão de que Marina soube fazer, em condições artificialmente adversas, um movimento inteligente e desestabilizador? Será que as dificuldades estarão sempre na contestação e nunca nas aras do poder?
O governo de dona Dilma será tão bom assim ? Depois do Plano Real, alguém mais acredita em dominar inflação com preços administrados? E o grevismo desenfreado, com a enésima parada nos bancos, sob o compasso da CUT, é bom pra economia ? A única coisa a aumentar é a carga tributária. Os preços inchados pelos impostos e taxas só alimentam a marcha fúnebre do impostômetro, enquanto o consumidor, malgrado o dólar caro, vai procurar produtos mais baratos no circuito Elizabeth Arden...
Entrementes, se admitiu mais um recurso – o embargo infringente, que, malgrado obsoleto, foi desencavado, justo em tempo, do espaçoso gavetão das Ordenações Filipinas – para confirmar ao povo que a turma do mensalão vai continuar longe da cadeia. A pergunta agora, com novos ministros, é se a Ação Penal 470 também se há de transformar, na terra das ilusões, em outra miragem...
Agora, passam por incrível metamorfose, e junto com Roberto Carlos, entram em cruzada contra as biografias não-autorizadas no país.
Já sabemos que o popularíssimo cantor Roberto Carlos tem experiência na matéria, mas surpreende deveras que as figuras acima se lhe associem.
Juntos esses senhores criaram a Procure Saber – autoproclamada associação de defesa dos interesses da classe.
É oportuna, a respeito, a citada nota editorial: “A Procure Saber luta
sem meias palavras, para impor restrições ao trabalho daqueles que desejam
aumentar o conhecimento a respeito de personagens públicos relevantes”.
Ressalta a princípio a contradição com o
comportamento e as experiências anteriores. Artistas censurados e críticos
desse ‘modus operandi’, que é tão escrachadamente típico das ditaduras
pretendam agora, em pleno regime democrático, tornar-se censores.
O leitor
deste blog é testemunha de muita luta contra a censura, desenvolvida em inúmeros artigos a propósito da censura ao
Estadão, movida pelo empresário Fernando Sarney, e até hoje vigente pela inação
do Supremo Tribunal Federal. Terá sido ingenuidade minha acreditar na iminência
de uma súmula vinculante, que pusesse fim
a esta pantomima da censura judicial, que pulula e não só nos grotões
desses brasis.
Como mui
oportunamente sublinha a Folha, a polêmica sobre a censura se encerraria se o
STF colocasse em pauta ação ajuizada no ano passado pela Associação Nacional
dos Editores de Livros.
A censura,
em todos os seus avatares e pretextos, é inconstitucional. Desrespeitam a
cláusula pétrea da Constituição Cidadã tantos os artigos 20 e 21 do Código
Civil, quanto a sentença do Desembargador Dácio Vieira (TJ/DF) que amordaçou o
Estadão. Toda essa demora e tardança só traz água para os moinhos da mordaça
judicial e das proibições de publicação
(Fonte: Folha de S.
Paulo`)
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