domingo, 13 de outubro de 2013

Colcha de Retalhos A 37

                                  
Destino Infeliz


        Depois da falsa solução dada à candidatura de Marina, a pesquisa do Datafolha aponta um quase absurdo como resultado do naufrágio – temporário por ora – de cunho chavista de sua impossibilidade de dispor, como cabeça de chave, de uma isolada legenda, em mar de sargaços de trinta e algumas.
        Segundo se assinala, um cruzamento de dados produziria o incôngruo efeito de 42% dos eleitores de Marina migrariam para Dilma, com 21% para Aécio Neves e 15% para Eduardo Campos.
        No meu entender, há dois elementos que o imediatismo da pesquisa tende a agravar: a confusão do eleitor, colocado diante de um falso dilema, e a falta de informações em face de um discutível fato novo.
        Não é crível que Marina se deixe atrelar a uma sigla – o PSB – como vice de Eduardo Campos, ainda mais se o governador permanecer como virtual anão na competição. Há, em verdade, em Campos uma perspectiva de aumento, enquanto já no momento presente a contestação de Marina é uma realidade, a ponto de em dois cenários igualar-se à Presidenta no primeiro turno.
        Tudo indica que a atual solução – afastamento de Marina como cabeça de chapa e entrada em campo ou de Aécio, ou de Serra – é uma benesse para Dilma.
        No entanto, é uma solução falsa, pelo afastamento forçado, por um deus ex-machina de candidata com base por uma premissa artificial.
        O meu palpite é que a “solução” não vai funcionar. Para tanto, basta citar o provérbio francês:  chassez le naturel, il revient au galop (expulsem o natural que ele voltará a galope).

         
O  Atoleiro Sírio
 
          A chamada revolução síria, depois de um momento em que a queda de Bashar al-Assad era dada como certa, a ponto de até os aliados russos manifestarem preocupação acerca do perigo que tal representaria, e as defecções de elementos da copa & cozinha do ditador lançarem o típico da fuga dos ratos de um transatlântico, eis que de repente uma enorme interrogação tomou o lugar da suposta certeza.
          Então Bashar deixou de ser ou cadáver ambulante, ou pasto do Tribunal Penal Internacional, e voltou a inserir-se como uma estranha opção na equação da crise síria ? Ao invés da vitória da Liga Rebelde, se colocaria a permanência de um Bashar, diminuído é verdade, mas preservado o bastante para lançar o que antes semelhava mais do que improvável.
          A guerra civil se terá estendido de forma as supostas vantagens de cada lado, sem que nenhum deles tenha a força suficiente para eliminar os adversários ? Assim, o ditador Bashar teve o seu feudo restringido, mas escapou, por falta de coesão e de capacidade de equilibrar o embate, de ulteriores reforços da Liga Rebelde.
         Na indeterminação do conflito, exacerbada pelas indecisões de Barack Obama – espectro de outro Afeganistão? – os rebeldes dispuseram de poucos canais de fornecimento de armas. Com a stasis superveniente entraram não-convidados no conflito, e em especial os guerrilheiros islamitas da al-Qaida, e de formações assemelhadas. Além de não somar com o poder da Liga Rebelde, os novos dissidentes complicavam a equação. Eles também tinham entrado na guerra civil contra Kaddafi, com a diferença de que a OTAN e a zona de proibição aérea tenham agilizado a queda do decano dos ditadores.
        Há um outro elemento que tem apodrecido ainda a situação social na Síria – e nos países limítrofes – que é o problemaço da crise dos refugiados da guerra civil. Os totais de nacionais sírios deslocados pelo conflito e refugiados em países vizinhos – Líbano, Jordânia, Turquia e Iraque – a população refugiada síria já excede os números da guerra do Iraque.  A questão – e o desafio – não é apenas logístico, político, mas também humano, com a propagação de enfermidades (leishmaniose, tuberculose e sarampo, entre outras), o que se deve às condições abismais dos acampamentos, a falta de pessoal médico e, não por último, de medicamentos em quantidade e disponibilidade adequada.

 

Papa  escolhe brasileiro para Congregação de Bispos

 
        O  Papa Francisco escolheu o bispo brasileiro Ilson Montanari para ser o Secretário da Congregação para os Bispos, segundo cargo na hierarquia da Comssão, abaixo apenas do prefeito, o Cardeal canadense Marc Ouellet.
       Ressaltado pela imprensa, dada a relevância da Congregação, o bispo Montanari não é o primeiro brasileiro a ocupar este posto. D. Lucas Moreira Neves foi igualmente Secretário dessa Congregação, trabalhando nos anos oitenta sob a direção do prefeito, D. Sebastiano Baggio.  Dom Lucas seria criado Cardeal pelo Papa João Paulo II e seria Cardeal-Primaz do Brasil, em São Salvador da Bahia.

 
As  Autocríticas  na China     

 
       Assim como na época da Revolução Cultural na China, nos últimos anos do longo domínio de Mao Zedong, as autocríticas voltaram a ocupar a parte nobre do noticiário da mídia.
       Sob a plácida mas atenta presença do presidente chinês Xi Jinping, foram transmitidas pela tevê estatal uma série de autoconfissões de dirigentes partidários da província de Hebei (vizinha de Beijing).
       A autocrítica pública é uma reação do líder Xi Jinping diante da série de escândalos de corrupção e abuso de poder na China. O expurgo promete ser amplo, se se der tento ao noticiário da agência estatal Xinhua.
       Segundo analistas, a campanha iria muito além de esforço de relações públicas. Teria sido preparada para reforçar a posição do Presidente para o próximo terceiro plenário do Comitê Central do PC. Em novembro, serão definidas as reformas econômicas prometidas pelo governo.
       A política, no entanto, não sofreria mudanças.  Para o cientista político Wu Qiang, não haveria possibilidades de reforma política. No entender de Wu, quanto mais Li Keqiang avançar na reforma econômica, mais conservador será Xi Jinping na política.
       Entrementes, o público televisivo assiste a humilhações em série de dirigentes provinciais. Não são infrações do gênero do condenado Bo Xilai, tendo o caráter light de pecadilhos da nomenclatura (fiquei arrogante depois da promoção, nossos banquetes eram excessivos, abusei dos carrões oficiais), mas são páginas do grande timoneiro, e decerto águas para o moinho do novo líder Xi  Jinping.
      Mas não é de crer que sejam realmente para valer, com repercussões democráticas.

 
O Caldeirão Líbio

 
       Em recente artigo para a New York Review sob o título ‘Perdendo a Revolução na Líbia’, o especialista Nicolas Pelham alertara para o singular poder das milícias na Líbia democrática : “as thuwwar milícias não perderam o seu poder de veto. Elas cercam os ministros como seus guarda-costas, um esquema de criação de cargos que podem transformar autoridades em reféns.”
      Não é que as milícias resolveram manter sob seu domínio por seis horas o próprio Primeiro-Ministro Ali Zeidan, como o noticiário das agências divulgou no correr desta semana ?
       A fragmentação da autoridade na antiga República Verde de Kaddafi não é só uma ameaça, como se vê. É realidade.
 

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, The New York Review, Annuario Pontificio).

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