quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Brasil: mais do mesmo ?


              Alguma coisa deve estar errada com o governo de Dilma Rousseff. Os índices não andam bem, as avaliações do FMI tampouco. Pensava que houvéssemos virado esta página.
              O intervencionismo é a regra. O Banco Central comemora a queda da inflação, com uma taxa ligeiramente abaixo de 6%. No entanto, como assinala Miriam Leitão, o resultado não reflete toda a realidade, eis que existem produtos como a gasolina cujo preço está reprimido por disposição oficial.
               O sucesso do Plano Real se deveu em grande parte a fugir da heterodoxia e dos preços administrados. Não se vence a inflação com congelamentos e quejandos. Respeitar as leis do mercado é uma regra que se impõe, sobretudo se se tiver presente a inutilidade das ficções econômicas que criam uma série de problemas derivados e em cadeia. No final, a verdade financeira se impõe.
               A administração de preços sempre acaba mal, porque a carestia não se vence com mentiras ou artifícios.
               Por outro lado, a desenvoltura com índices macroeconômicos e a contabilidade fiscal refletem o artificialismo da política econômica. Dona Dilma não parece interessada em criar condições efetivas para sanear as finanças públicas.
              Ela pensa entender de economia, mas prefere remexer em baú de velhos truques que se acreditava tivesse sido colocado a um canto, para que não mais nos servíssemos de caixa que nos levou a tantos anos perdidos e a uma pluralidade de planos heterodoxos que só geraram ilusões e... sofrimento.  
              A quem enganam os seus auxiliares com os malabarismos fiscais, a maquiagem das estatísticas, o aumento do endividamento dos bancos estatais, os dados fiscais que já não merecem confiança das autoridades internacionais – todo esse desperdício de tempo em termos de gestão financeira, com indicadores que não tranquilizam porque não inspiram nem merecem confiança.
              A economia brasileira, que não cresce por causa de inflação acima da média, gargalos na produção, máxime na área de infraestrutura, baixo nível de educação que entorpece e restringe a atividade produtiva, grevismo em alta tem diante de si um panorama nada animador.
               Além de ser colocada na rabeira dos ditos emergentes, com a mais baixa expectativa de crescimento dos BRICs, a economia brasileira enfrenta uma outra conjuntura. As condições financeiras externas não mais se caracterizam pela expansão de antes.
                Por outro lado, o horizonte do real mudou. Com a progressiva recuperação da economia estadunidense, os dólares que vinham para cá ora sinalizam movimento inverso. Se o trabalho de casa não foi feito, e a cotação do  real tem sido afetada, ao contrário de anos anteriores (a D. Dilma) em que a nossa moeda impressionava pela estabilidade e, por conseguinte, pela  capacidade de atrair inversões, tanto em i.e.ds (investimento externo direto), quanto em aplicações financeiras de longo prazo.
                Só Deus sabe por quanto tempo continuaremos na triste sina de país produtor de matérias primas, cujas exportações não têm o valor agregado de produtos industriais mais sofisticados, eis que exportamos precipuamente matérias primas, como minério de ferro, petróleo bruto (se a Petrobrás puder dirigir os seus recursos para levantar mais plataformas), produtos de base como soja, carne e outras commodities. Os séculos passam e a natureza de nossas exportações prossegue na velha e batida trilha. Quando houver o salto qualitativo na indústria, e ao lado das aeronaves da Embraer, pudermos agregar outros itens com altos índices de trabalho e de tecnologia agregados, então o Brasil deixará de ser o patético país do futuro.
           Na economia, como em outras tantas coisas, não há atalhos, nem soluções milagreiras. Não será através do empreguismo sem fronteiras e do assistencialismo desvairado que construiremos a potência Brasil.
            As palavras vazias, os slogans dos marqueteiros, as promessas descabeladas são próprias dos neopopulistas. Não levam muito longe. Confrangem, pela sua inane e inerente debilidade, com o seu apelo ao discurso, ao invés de ação pró-ativa. Nisso se imita a reação diante da espionagem tecnológica de que o Brasil tem sido pasto. Ao contrário de bazófias e de imprecações – que o vento carrega – o governo deveria tomar medidas eficazes, para proteger o que deve ser protegido. Não palavras ocas e demagógicas, mas ações concretas. O problema com esse tipo de reação é que ela depende de nós, pois implica em trabalho sério e aprofundado. O resto é só o resto mesmo.
 

 
(Fonte subsidiária: O Globo, Folha de S. Paulo)

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