Campanha eleitoral? Compreendo a perplexidade do leitor, mas
basta dar olhadas superficiais nos jornais para que o observador se dê conta do
onipresente fato político.
Não sei se terá
sido o movimento do passe-livre em
junho último, e as manifestações que se seguiram por todos esses brasis nos
meses sucessivos. Havia grande e justificada insatisfação da sociedade diante
da falta de sensibilidade da classe dos políticos – e nunca tão poucos se
haviam colocado em alturas de que contemplavam com tal subjetiva distância o
povo a quem tolamente atribuíam apenas a função de obedecer-lhes.
A sacudida foi
boa, mesmo ao provocar as respostas mais desprezíveis do enxame de partidos,
que se apressaram em pôr na chamada propaganda
partidária obrigatória declarações de princípios e intenções em que muitos
alardeiam convicções e propostas oportunistas, que mais ofendem pela pressuposta
credibilidade popular, do que pelo conteúdo pobre e rasteiro.
A chamada classe política – em que quase todos se
apegam a regalias – age como se as eleições fossem no corrente ano e não no
próximo. O relativo privilégio que a caracteriza – e como uma capa esse
privilégio os recobre a todos, com a única, mas importante distinção do grau
respectivo – está decerto presente na pulverizada propaganda dos trinta e dois partidos.
Mas o exemplo
vem ainda mais de cima. No terceiro ano de experimentações, a Presidenta
continua a frenética campanha pela reeleição. Valendo-se do eco palaciano, cada
reunião, por dá cá aquele pretexto, vira comício inserido na luta pelo novo
mandato.
Como a
propaganda da Primeira Mandatária foi definida como institucional e não política,
a temporada de caça está aberta, e a Presidenta, ao cabo de administração
sofrível, se lança na busca do prêmio maldito trazido por Fernando Henrique, que é
a reeleição.
Nunca um
princípio estranho à nossa tradição política se tem mostrado mais pernicioso
para a democracia e o bom governo. Ao distorcer a visão das autoridades eleitas
do poder executivo – e o oportunismo aí não conhece limites ao mimosear de
prefeitos a presidente com a falsa prerrogativa de dobrar o período de mando –
a corrida se generaliza, e as diferenças são apenas de grau e nunca de
qualidade.
Nesse contexto, a Presidenta tem sido exemplo
da prática. A autoridade em exercício goza de ampla vantagem neste campo. Só em
casos limites de desgoverno, o (a) detentor(a) do poder não dispõe de vantagem
(recordo-me de dois, um em Porto Alegre, outro em Caxias). Ao dispor das
engrenagens do mando, a ela cabe não só a iniciativa das ações, mas também a
oportunidade de manter-se sob as luzes do protagonismo, seja ele autêntico ou
falso, benéfico ou pernicioso.
Em três anos
incompletos de administração, Dilma Rousseff já dispõe de um senhor repertório
de ocasiões perdidas (as reformas política e fiscal), de obras inacabadas (a
transposição do São Francisco, a infraestrutura aeroviária) e outras que melhor
seria houvesse deixado intocadas (o Plano
Real e, agora, a Lei da Responsabilidade
Fiscal).
Por vezes se tem
a impressão de que o maior ‘poste’ de
Lula da Silva esteve por anos fora de
circulação, eis que não semelha atribuir maior cuidado em manter distante a
inflação (o que dizer então do Plano Real?).
Em menos de três anos, a sua inepta ‘equipe’ econômica já vira pasto dos
fiscais do FMI, por incrível e
deplorável imitação das práticas da amiga Cristina de Kirchner, em termos de
contabilidade fiscal...Entrementes, a candidata à reeleição e o seu partido (hoje desfigurado e lixiviado por anos de poder) cuidam de afastar ou de atrapalhar quem parece surgir ameaçadora no horizonte. As peças más são muitas, porém a antiga e tinhosa maldição da política as persegue, eis que os mantos negros do segredo de nada servem e as desculpas, por capengas, tampouco lhes aproveitam.
Caro espectador,
o filme é deveras antigo e, se mudam os personagens, o desfecho costuma ser
sempre o mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário