TSE libera as
contas sujas
Não é um
desenvolvimento positivo para a moralização da política – introduzida pela lei
de iniciativa popular, conhecida como da Ficha Limpa – o recuo do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) de sua sentença de março, em que se exigiu dos candidatos nas eleições de 2012 que tivessem
as contas das campanhas anteriores aprovadas pela Justiça.
Como se sabe, a lei complementar nr.
135/2010, tivera a sua aplicação retardada por um estranho voto do Ministro
Luiz Fux. Posteriormente, por força da transcrição de escutas telefônicas em
operação da Polícia Federal se soube da condicionante do desempate, que veio na
contra-mão da opinião pública.Desta feita, a mudança na posição do TSE configura não um atraso, mas um retrocesso na campanha para a ética na política.
A fonte de tal inoportuna e lamentável iniciativa parte do Partido dos Trabalhadores, com o apoio de mais dezessete partidos. A pulverização partidária no Brasil representa um triste espetáculo, eis que é um desrespeito ao eleitor. Somente os amantes do paradoxo e do abstruso podem defender a multiplicação das legendas, que constitui uma afronta tanto à inteligência, quanto ao bom senso.
É uma falha que está menos na Constituição de 1988, do que na sua interpretação pelas altas instâncias judiciais.
A norma aristotélica do meio termo também aqui é desrespeitada. Admitir a existência de tal esdrúxula abundância de partidos – todos com as suas nominais representações nas assembleias, e com os tempos de propaganda obrigatória na televisão e no rádio – além de ser acinte à sociedade, é também convite a todo tipo de transação, inclusive as que conspurcam uma democracia séria.
O PT, de resto, confirma na prática a máxima de Lord Acton, quanto à capacidade corruptora do poder. O PT de hoje, em que Lula se alia a Maluf, ou que entra na justiça para derrubar sentença que favorecia a ética na política ao banir as contas-sujas, o que tem a ver com aquela agremiação radical mas previsível na sua defesa dos princípios éticos ? Nada, além do nome.
Semelha apropriado recordar que a reviravolta no TSE se deve ao voto do Ministro Dias Toffoli, que após pedir vistas do processo votou a favor dos contas-sujas. A mudança na posição da instituição se deve ao sangue novo deste Ministro, que sucedeu a Ricardo Lewandowski, que, a seu tempo, votara contra os contas-sujas.
Onde foi parar a
Fidelidade Partidária ?
Assim, como a natureza abomina o vácuo, tais disfunções legislativas podem provocar tentativas de substituir-se, em questões de notória necessidade, pelo poder judiciário, em matérias que seriam da alçada do Congresso.
A formação do PSD, por Gilberto Kassab, configura um desses mistérios da política brasileira. Como foi factivel, legalmente falando, fazer surgir, no Congresso Nacional, uma nova agremiação - que acena com a mensagem oficialista do velho Partido Social Democrático – e ainda por cima com 48 deputados, se existia a famosa fidelidade partidária ? Todos esses egrégios senhores foram eleitos por outros partidos – a maior parte deles pelo DEM – o que quer dizer, entre outras coisas, que o PSD de Kassab é uma hábil construção - ou quem sabe, um epifenômeno no processo, sem qualquer conexão com o mandato atribuído às excelências na última eleição.
Agora, o Supremo Tribunal Federal – que, se não me engano, estabelecera a doutrina da fidelidade partidária – além de considerar o PSD um partido como os outros, posto que não seja resultado de um voto sequer nas urnas do TSE, lhe concede igualmente o tempo na propaganda partidária obrigatória, calculado sobre esse feliz produto da capacidade aliciatória do prefeito Kassab.
Não é comovente tanta inventiva em nosso mais alto tribunal ?
( Fontes:
O Globo, Folha de S. Paulo )
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