Os resultados do primeiro turno do pleito legislativo na França são necessariamente inconclusivos, eis que, nesta fase inicial, é muito reduzido o número de candidatos que logra a maioria absoluta, e a consequente eleição. O principal índice negativo da consulta está no percentual da abstenção, que continua a elevar-se, atingindo a 42,77% dos sufrágios. É tendência preocupante que se acentua progressivamente, refletindo alastrado desinteresse na política.
O Partido Socialista, a que se filia o presidente François Hollande, obteve a maioria relativa com 34,5% dos votos, contra 34 % da UMP (direita). Se computarmos os aliados respectivos, a esquerda (com socialistas, verdes e a frente de Jean-Luc Melenchon) obteve 46,7%, e a direita (UMP, Centro e Outros) 39,6%.
O Front Nacional (extrema direita) teve votação superior (13,6%) à Frente de Melenchon (extrema esquerda), com 6,9%.
Nesse primeiro turno, Marine Le Pen teve votação superior às de anos anteriores, mas não o bastante para conseguir eleger-se no primeiro turno. A esse respeito, a esquerda no governo já elegeu o atual Primeiro Ministro Jean-Marc Ayrault, e mais quatro dos 25 ministros do gabinete.
Nota-se o enfraquecimento do centro, e o reportado progresso no desempenho do Front Nacional. Nesse sentido, não se exclui uma vitória no segundo turno da líder Marine Le Pen, o que assinalaria um avanço da extrema direita, que até o presente não conseguiu levar o respectivo chefe a ocupar assento na Assembleia Nacional.
A menos de uma surpresa, que semelha de resto pouco provável, o Front Nacional não terá condições de constituir um grupo parlamentar, dada a exigência do mínimo de quinze deputados. No entanto, a radicalização da política explica o esvaziamento do centro, o que já se observara na queda da votação atribuída no primeiro turno presidencial a François Bayrou.
Nesses termos, o que nos acena o segundo turno, a realizar-se no domingo, 17 de junho? Tudo leva a crer que, conforme a tradição, o novo Presidente alcançará a necessária maioria para que o gabinete obtenha o voto de confiança da Assembleia Nacional.
O que não está definido é a composição dessa maioria. O melhor resultado para François Hollande seria que o Partido Socialista alcançasse bancada suficiente para dispensar o apoio das demais agremiações da esquerda. Não é que tencione, por princípio, recusar o aporte de o que Lionel Jospin chamara la gauche plurielle (a esquerda plural). Há grande diferença entre carecer de apoio para formar o governo, e acolhê-lo de modo benévolo, para reforçar-lhe a sustentação. Com efeito, se o PS estiver em condições de prescindir deste apoio (precedido pelas indispensáveis negociações e compromissos), o partido do governo terá uma perspectiva de estabilidade (e de flexibilidade) bastante maior, do que a eventual dependência tópica ou não de votos de aliados condicionais para implementar as respectivas medidas.
Em suma, o futuro do segundo turno semelha prometer maioria confiável e substancial para o Primeiro Ministro Ayrault. Qualquer outro resultado representaria um primeiro tropeço para o Presidente François Hollande.
( Fonte: O Globo )
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