Os comícios na França não surpreenderam, eis que era prevista a vantagem da esquerda, sob a liderança dos socialistas . Desse modo, o Partido Socialista e seus aliados mais próximos tiveram 314 assentos; os Verdes obtiveram 17 cadeiras e a Extrema Esquerda, dez.
Como se sabe, em parlamento de 577 deputados, a maioria simples é de 289. Resta verificar se o Partido Socialista obteve número que o habilite a dispensar o apoio dos demais grupos de esquerda que – com exceção da extrema esquerda – se filiam a seu bloco.
Assinale-se que todos os ministros do gabinete Ayrault foram confirmados. O Primeiro Ministro de resto declarara que os porventura derrotados seriam substituídos no ministério. A UMP, a direita do ex-Presidente Nicolas Sarkozy, saíu bastante diminuída, com 229 deputados (aí incluídos os associados de direita não-UMP).
É um detalhe interessante que a democracia francesa, ao exigir a confirmação dos ministros pelas circunscrições eleitorais respectivas, reedita particularidade de nossa democracia imperial do século XIX. Com efeito, no Segundo Reinado, sob Pedro II, os ministros do gabinete imperial careciam da confirmação pelos eleitores, para conservarem a respectiva cadeira no ministério.
Ségolène Royal, candidata à La Rochelle, foi derrotada pelo dissidente socialista Olivier Forlani. O episódio representa mancha no quadro da vitória de François Hollande e os socialistas. Depois de vencer no primeiro turno, Ségolène se viu ultrapassada por Forlani, que recebeu os votos da direita e da extrema-direita, além da deplorável e odienta mensagem da Primeira Companheira, Valérie Trierweiler. O entrevero, que mais pareceu vingança de corte, mostrou aspecto inquietante de omissão, senão falta de autoridade, do Primeiro Mandatário.
Como nota de pé-de-página, François Bayrou teve de engolir lição que já deveria ter assimilado. A ilusão do centro de ser uma opção entre esquerda e direita dissipou-se como miragem no deserto. Bayrou pagou pelo ‘erro’ de apoiar Hollande no segundo turno presidencial. Viu agora denegado o seu costumeiro assento na Assembleia Nacional. Esqueceu-se de que o centro é na realidade uma ficção e está muito para a direita do que para a esquerda.
No Egito dos Faraós, continua a atribulada e ameaçada progressão da democracia. Se venceu o candidato da Fraternidade Muçulmana, Mohamed Mursi, com 52,5% dos sufrágios, que superou o candidato do antigo regime, Ahmed Shafik, que obteve 47,5%, as perspectivas da permanência do poder militar se reforçam a olhos vistos.
Depois da suspeita decisão da Corte Constitucional que às vésperas do segundo turno declarou inconstitucional o Parlamento – e por conseguinte o seu projeto da Carta Magna – abriu-se para quem tem olhos para ver a temporada de caça do Exército.
Na verdade, a junta militar – que é a guarda pretoriana de um poder sempre mais entranhado, e que vem desde a queda do rei Faruk, em 1952 – assume desassombradamente a regência das questões de estado, promulgando constituição em que se resguarda a respectiva suserania.
Compreende-se a revolta dos movimentos populares que encheram o vasto espaço da Praça Tahrir. O presidente Mursi, do partido islamista tradicional, já se aproxima do mando com as respectivas prerrogativas cerceadas. Se é mais do que questionável a simpatia da Fraternidade Muçulmana aos objetivos libertários da revolução egipcia, que derrubara Hosni Mubarak, a eleição desta semana, com a sentença da Corte Constitucional e a carta constitucional, realizada na alfaiataria castrense, são vetores de forças que não prenunciam um futuro tranquilo e democrático para a milenar pátria doada pelo rio Nilo.
Por fim, na Grécia, o Siryza de Alexis Tsipras, chegou em segundo na reconvocação dos comícios pelo Presidente Karolos Papoulias. Obteve 26,9% dos sufrágios, com 71 cadeiras no Parlamento.
Para alívio da Europa, e em especial, da União Europeia, a frente esquerdista encabeçada pelo tribuno Tsipras foi superada pela Nova Democracia, que logrou 29,7% dos votos, e 129 cadeiras.
O partido de Antonis Samaras mostrou uma resolução que o PASOK de Evaggelos Venizelos não teve, com 12,3% dos votos e 33 cadeiras.
Como não se desconhece, a maioria absoluta no Parlamento grego é de 151 deputados, o que semelha, portanto, ao alcance de Samaras, na hipótese provável de uma aliança com o partido socialista.
Na campanha eleitoral, sob o acicate do desafio de Tsipras, o líder Samaras se mostrara pronto a assumir a responsabilidade do governo grego, com o acréscimo de uma atitude menos subserviente do que a dos gabinetes anteriores, a começar pelo de Giorgos Papandreou.
O triunfo da Nova Democracia sinaliza para a Europa de Angela Merkel uma perspectiva de entendimento. É importante, no entanto, que se respeite o povo helênico e os seus muitos sacrifícios. O momento não será de rigidez dogmática, nem de doses cavalares de medicamentos da farmácia de Frau Merkel.
Na votação desse segundo turno da República Helênica se evidencia que o povo, apesar de algumas aparências, não é burro, nem gosta de esmurrar faca de ponta. No entanto, a vitória do bom senso não deve fazer esquecer a gregos e troianos que o paciente é humano, e a sua condição requer certos cuidados.
( Fonte: O
Globo )
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