quarta-feira, 13 de junho de 2012

Que Economia Brasileira Queremos ?

                               
        A economia mundial não consegue livrar-se da crise. Nos Estados Unidos, continua a chamada grande recessão, com altos níveis de desemprego e consequentes baixas contratações. Na verdade, a economia americana patina desde a crise das hipotecas subprime e da irresponsabilidade financeira do final da primeira década do século XXI.
        Na Europa, a crise do euro e dos ativos bancários se alastra. Além da bomba-relógio do calote grego, novos problemas surgem em economias maiores, como o que determinou o recente empréstimo de emergência à Espanha, em face à elevação da dívida, com grande fragilidade na área bancária. O próprio Primeiro Ministro italiano não descarta a possibilidade de um ‘contágio’ espanhol de sua economia, notadamente pelo respectivo endividamento.
        Os problemas na Europa não se restringem decerto à combalida Zona do Euro,eis que o Reino Unido atravessa pesada recessão. Malgrado as tentativas de David Cameron de dissociar-se das mazelas do euro, chegando a aludir a uma perspectiva de liquidação da moeda europeia, em contraste com a solidez da libra esterlina, tampouco o estado da economia de Sua Majestade é de fazer inveja.
       Em meio à borrasca, a Chanceler Angela Merkel perde o seu fiel escudeiro, Nicolas Sarkozy, carregado pelo triunfo de François Hollande. Este advoga o crescimento, o que é música suave para os ouvidos gauleses, mas dadas as debilidades (e a enorme dívida pública) da economia francesa, prudência na redistribuição de bondades seria recomendável.
       Todo esse cenário, acoplado à desaleceração da economia chinesa, não promete por certo bons ventos para o Brasil.
      Os governos do PT – e já estamos no terceiro – não semelham interessados em reformas. A própria Administração Dilma e o seu ministério de opereta – é possível definir de outra maneira um gabinete que beira o alusivo número dos quarenta ? – não estão interessados em reformas. Até mesmo no seu discurso de posse, Dilma Rousseff não deu ênfase às modificações estruturais por que clama a economia brasileira.
     A única ‘reforminha’a que procedeu foi ao revés. Como se sabe, segundo a cartilha internacional das finanças, o Banco Central deve ter autonomia. Embora sem a lei correspondente, o Banco Central a teve nos tempos de FHC e de Lula. Sob Dilma, as coisas mudaram, e revertemos ao tempo em que o BC ficava na prática subordinado à Fazenda e, portanto, aos ditames da Presidenta. É o que agora ocorre, inclusive no parecer de técnicos respeitados como o ex-Ministro Mailson da Nóbrega.
     Acrescentamos pois às demais inquietudes, a dependência do BC que de novo vira ‘ferramenta desenvolvimentista’ com todos os riscos inflacionários que essa visão epimeteica determina.
    O Governo Dilma desperdiçou o crédito dado pelas forças políticas aos governos em início de mandato. Este considerável poder fora mal utilizado no princípio da Administração Collor para a implantação do confisco, que tantos males trouxe para o Brasil e sua gente. Seria o caso, na verdade, de empregar esse crédito outorgado às novas administrações em medidas no interesse da sociedade.
    Infelizmente, nem a reforma fiscal, nem a política foram sequer esboçadas. Prosseguimos sob o incôngruo peso dos tributos, que incham ano após ano, sem proveito visível para os contribuintes.
    Ao invés disso, se cuida de aumentar o assistencialismo e o empreguismo. Os gastos correntes, com a sua falta de flexibilidade, e as capitalizações – essas falsas mágicas que se agregam à dívida da União – são a alternativa ruim para o necessário aumento dos investimentos, máxime nas despesas com infraestrutura viária, no saneamento básico e na melhoria da educação.
    De que serve ao Brasil toda essa gorda base de apoio parlamentar, que nega a necessária sustentação do governo Dilma, sempre que dela mais carece ? E qual é a solução que a Presidenta Dilma e seus aspones para as relações com o Congresso sugerem ? Em matéria de meio ambiente, v.g., manter os seus vetos e a sua MP para o Código Florestal em alguma providencial gaveta, durante a atual Conferência das Nações Unidas. O vexame da eventual derrota para a bancada ruralista ficaria para depois da conferência, como se este mal permanente fosse preferível à acrescida vergonha do desrespeito de legisladores que se dizem governistas justamente quando aqui se reune o mundo para defender – e não malbaratar – o meio ambiente.
   Não é de hoje que o Brasil se apega a modelos superados. Os governos do passado se ‘desvencilharam’ de uma indústria automobilística nacional, a preterindo pelo sistema das feitorias das sucursais de montadoras estrangeiras. Essas filiais aqui vendem os seus modelos projetados lá fora, com uma exceção principal: os requisitos de proteção ambiental dos gases de escapamento estão muito abaixo das medidas implantadas nos países desenvolvidos onde estão as suas matrizes. Sem falar dos lucros auferidos, que são prontamente transferidos para as matrizes na Europa, Asia e EUA, com a sobrecarga na balança de transações correntes.
    Como tem sido dito, continuamos no modelo de economia que se fundamenta – e isso desde a colônia – na venda de produtos primários, agrícolas e minerais. É amplamente conhecido o caráter dependente para os produtores desse tipo de intercâmbio, que tendem a ser as primeiras vítimas no despencar das cotações.
    Os nossos governantes precisam determinar a respectiva prioridade do Brasil. Não podemos iludir-nos com uma Terra de Santa Cruz sempre ao largo das crises internacionais. Já vimos o que significou a pretensa ‘marolinha’ dos tempos de dom Lula.
   Através de reformas não superficiais, nem neoliberais, é tempo de construir um Brasil que realmente corresponda às perspectivas abertas por esse território imenso, que não nos caíu no colo por acaso, mas é resultado das entradas dos nossos bandeirantes, gente simples e corajosa, que acreditava no trabalho e no desbravamento, e ignorava o vezo da indolência, que hoje reinam nas ‘pontes’ e  nos chamados  ‘pontos facultativos’.
   O que queremos, na realidade ? Virar gigantesco Maranhão ou imitar São Paulo ?



( Fontes subsidiárias: Folha de S. Paulo, O Globo, Veja)   

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