sábado, 30 de junho de 2012

O Escândalo do Salário dos Professores

                               
      Mais de cinquenta universidades federais brasileiras estão em greve. Embora não seja adepto dessa forma de protesto, forçoso é reconhecer que não há greve mais justa e oportuna do que esta.
     Muita vez a repetição e o abuso  de uma expressão a faz perder a sua força e a capacidade de transmitir a cólera do cidadão diante de determinada situação. No passado, um comentarista televisivo começou a declarar que tal e qual procedimento ‘era uma vergonha’.
     O então problema do Brasil é que existem muitas coisas a provocarem essa irada expressão. Tanto a usou – pois em nossa terra abundam os motivos de justa reprovação – que o bordão, por exagero na utilização, perdeu a necessária capacidade de espicaçar, de aguilhoar os espectadores a tomarem uma atitude.
    Sem embargo, o que está acontecendo no Brasil não é um movimento despropositado e oportunista. Não devemos acusar o fogo que incendeia o campo e se estende a perder de vista. É a secura da vegetação, fruto ou da improvidência, ou da inclemência do clima, que será a causa da perda das colheitas e do trabalho aturado dos lavradores.
     Tais fenômenos não são acidentais. Para dominá-los e evitá-los, não há melhor conduta do que, através do entendimento de suas causas, pensar e implementar as medidas indispensáveis para que não se repitam.
     A benigna negligência com que o poder público encara a questão do professor – seja ele universitário, secundário ou primário – está na raiz do problema. Só mesmo o obtuso e insistente menosprezo da questão do ensino pelos líderes políticos no Brasil pode abrir as cortinas acerca da ignominiosa condição salarial aqui prevalente.
      Será acaso um problema sociológico ? Permitir a princípio que a remuneração do professor fosse solapada pela inflação e a incúria governamental – pois houve tempo, minha gente, em que os mestres recebiam um salário digno  - representa apenas parte do desafio. Será porventura algum bloqueio mental ? Pois as esperanças levantadas pela eleição de  professor universitário para a primeira magistratura do Estado logo se evaporaram, como se os nossos corpos docentes se assemelhassem ao orvalho da manhã, que os raios do sol não demoram a secar.
     O país que não valoriza o professor é um país condenado a chafurdar na mediocridade. Porque o desrespeito ao mestre – e não há desrespeito maior do que submeter os guias de nossa juventude e de nossas crianças  a míseros salários. Porque presidente, ministro, senador, deputado, governador, prefeito e  os demais políticos deveriam ter presente o que significa dar tais pagas a uma vocação que abraça o presente da sociedade e também o seu futuro.
     Se todos devem receber de acordo com a sua capacidade, a relevância da própria contribuição, e o efeito multiplicador da atividade, salta aos olhos que o governo do Brasil, através de tão iniquos estipêndios, não só descura do presente, senão – o que é mais grave – assegura para o povo brasileiro um futuro medíocre.
    Toda profissão se honesta deve ser valorizada. Não há mister que disso mais careça do que o do professor. Em todos os níveis ele é importante e vital para a comunidade. Nesse sentido, remunerar o professor universitário com salários e condições de carreira como os prevalentes, para repetir uma vez mais um dito célebre, não é só um crime, mas também um erro. O que mais espanta em toda essa questão da greve das universidades no Brasil não é que esse protesto exista e tenha se extendido pelos mais diversos institutos de ensino superior. Mais surpreende, em verdade, que haja demorado tanto em manifestar-se. Tal demora vinca ainda mais essa qualidade do professor, essa dedicação, ele que é o vetor do conhecimento.
       Países que prestigiam o professor o fazem por muitos motivos, encetados pelo respeito devido ao ofício e culminados pelo interesse prioritário de formar condutores que privilegiem o conhecimento.
      Nada se desperdiça em tal cometimento. Perguntem à Finlândia e à Coreia do Sul, se a política de dar salários dignos e condições adequadas de ensino aos professores acaso prejudica os alunos e a sociedade ?
     É mais do que tempo de acabar com essa mentalidade alienada que a situação de Brasília – transformada em uma corte em que os representantes do povo só pensam em aumentar as próprias remunerações, em excessos de arrogância como a da última elevação do teto dos mandarins da república – tem provocado, com os sintomas de um estulto corporativismo, que só tem vistas para os grão senhores (e senhoras) do palácio, com o toque aviltante de elevar as pagas de lacaios e empregados, a níveis que refletem os vezos do antigo regime nas benesses que atribuía aos respectivos criados.
      A recente determinação de trazer luz sobre os vencimentos das autoridades – do executivo, legislativo, e judiciário – pode auxiliar a conscientizar o Palácio da urgência de pôr ordem na Casa. Todos os retardatários no cumprimento do habeas data constitucional devem ser questionados e levados a cumprir com essa determinação republicana.
     Somos um país que pôs parte do mote positivista no respectivo pavilhão. Devemos ter presente o que propunham os nossos próceres. Ordem e Progresso não é mero dístico, cousa para inglês ver, mas um incentivo a uma sociedade melhor.
     Que tal se as autoridades – a começar por Dilma Rousseff – se conscientizassem da verdadeira escala de prioridades, e principiassem a respeitar os professores  e suas demandas ?




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