domingo, 24 de junho de 2012

Colcha de Retalhos CXVI

                              
Rio + 20

     Poderá argumentar-se que tais conferências não devem ser julgadas de imediato. Nesse enfoque, careceriam de mais tempo para ter o peso e a importância que merecem.
    O documento final, aprovado segundo os procrusteanos critérios do consenso, não satisfez aos ambientalistas, como o Greenpeace. O próprio Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ensaiara um muxoxo, como se o acordado não houvesse atendido à expectativa. Chamado à ordem, ele se desdisse no dia seguinte. Com isso,duas coisas foram confirmadas: que uma verdade fora dita na véspera, e que na manhã seguinte, atropelado pela realidade,  voltou ele  a ser a opaca personalidade que ora sucede à gente de outra têmpera, como o foi Dag Hammarskjold.
   Tampouco se pode ignorar o momento que vivemos, com a perene crise financeira europeia a ensombrecer o horizonte, e a tornar ainda mais cerradas as bolsas ambientalistas.
   A par disso, pelo esforço da diplomacia, e em especial a dos anfitriões, pôde ser salvo o que era possível, evitando-se malogros como o de Copenhague.
   Gostaríamos que houvesse mais presença de qualidade, como a de François Hollande. Muitas de suas posições e reclamos merecem atenção.
   A luta pelo meio ambiente é um cometimento comprido, e os percalços fazem parte do caminho.
   Como, por exemplo, a falsa trégua dos vetos ao Código Ruralista. Será que à pausa ambientalista e às mesuras de tantos chefes de estado (noventa e quatro!) se sucederá um vexame nesse Congresso que só parece pensar em duas coisas: aumentar a respectiva remuneração, como se não ganhasse em alturas escandalosas; e brandir o poder dos burgos podres, criado na estufa em que o voto no Amapá vale muito mais do que o de São Paulo, para desfazer a legislação ambientalista e apressar, na ganância dos lemingues, o desmatamento.
    E se me permite, senhora presidenta, no futuro, não fale mais de reduzir o desmatamento. Isto não passa de enfeitar a contagem regressiva para o desastre vindouro!  Pense grande, minha senhora ! E diga alto e bom som que é chegada a hora de pôr um termo à destruição de nossas florestas ! Lembre-se de que somos os únicos no mundo que podemos exibi-las a todas aquelas outras nações que já as destruíram, e que tão só nos recriminam porque ainda não nos juntamos às savanas e aos desertos que criaram na Malásia, China, África subsaárica e onde mais Judas perdeu as botas...         
 

O impeachment relâmpago de Fernando Lugo


    Não há negar que operação contra o ex-bispo Lugo teve a ajudá-la o compasso da Rio + 20, e a sua inusitada, estranha mesmo, celeridade. Uma destituição constitucional é questão séria, que não pode ser tratada da forma vapt-vupt com que se desenrolou.
    Não era decerto mistério que as relações entre o Presidente e o Congresso íam muito mal. A briga vinha de longe e terá suas razões, não apenas as imediatas, que compõem a lista de acusações contra o Primeiro Mandatário, senão outras, mais profundas, que não sóem ser vazadas em documentos oficiais.
    Como um castelo de cartas, a bancada pró-Lugo semelhou desfazer-se da noite para o dia. O que mais surpreende – além do aparente despreparo do presidente e de seus apoios internos e externos – será o ritmo empreendido na aludida investida do Congresso.
    Não é próprio do processo de impeachment e no consequente julgamento, que se assinale por tal rapidez, a qual se associa em geral às conjuras e aos golpes de estado.
   Sem entrar na análise das acusações levantadas contra o Chefe de Estado, a principal falha do processo em tela está na exiguidade do tempo dado à outra Parte. O Presidente Lugo observou, no que tange à ação, atitude elogiável, eis que afirmou sem tergiversações que se submetia do Poder do Congresso.
    Por seu lado, para dar mais transparência à ação congressual,  o Parlamento paraguaio deveria ter concedido o devido tempo para a preparação e explicitação da defesa do Presidente.
    Ainda que não se procure entrar no mérito da questão, para resguardar a lisura do procedimento não se pode agir como se estivéssemos em tempos da Revolução Francesa e o tribunal de Foucquier Tinville. A Justiça,mesmo a política, não deve pautar-se pela pressa das conjuras.
    Os cotejos com dois processos de impeachment, com resultados diversos, mostram qual deva ser o procedimento e os tempos. Assim, Fernando Collor seria destituído, e Bill Clinton, mantido. Em ambos os casos, os acusados dispuseram de amplos recursos de defesa. Não foi o que ocorreu em Assunção.


A Revolução no Egito


    Mohamed Morsi, o candidato da Fraternidade Muçulmana, teve declarada oficialmente a eleição. Os rumores desencontrados dos dias anteriores, com  suposta proclamação da vitória de Ahmed Shafik, o antigo primeiro-ministro de Hosni Mubarak, tinham causado muita tensão popular, eis que a vitória de Morsi parecera flagrante, com cerca de 55% dos sufrágios. Daí a nervosa concentração na Praça Tahrir e a imprevisível violência na reação que um manifesto esbulho do candidato mais votado porventura motivaria.
    Outro complicado no cenário egípcio são os mini-golpes perpetrados pelo Exército, que deseja obviamente manter o seu papel suserano no governo do país. Após suspeita sentença de inconstitucionalidade da Constituição  pela Corte chamada Constitucional, integrada por juízes da safra de Mubarak, o que mais se poderia esperar senão decreto da Junta cortando boa parte da competência do presidente.
    Morsi, uma vez eleito e proclamado, se descobre detentor de um encolhido feixo de poderes. É a vontade do Exército como instituição encastelada no mando, e não desejosa de que os muitos privilégios conquistados possam ser-lhe cortados ou reduzidos.
     Fala-se a propósito em modelo paquistanês. Na verdade, no Egito a presença da Força Armada no poder principia a delinear-se com a revolução dos coronéis, que destronou o Rei Faruk em 1952. A tomada do mando pelo exército na terra dos faraós semelha um processo muito mais longo, passando por Nasser, Sadat e ao fim, Mubarak. Daí as suas intervenções abruptas e a truculência que muita vez elas apresentam.
     Os janízaros quando se apropriam do Estado costumam apresentar grandes dificuldades para aqueles que acaso ousem fazê-los voltar aos quartéis.


A artilharia de Bashar abate um caça turco


      O Phantom F-4 voava no espaço aéreo internacional, quando entrou por engano em área síria. Notificado pelos controles de Damasco, o caça desarmado da Turquia prontamente saíu do espaço nacional sírio. Aparentemente, tal não foi o bastante para que a defesa anti-aérea de Bashar não o abatesse com um míssil terra-ar.
     Os destroços da aeronave foram encontrados a 1.300 m de profundidade no Mediterrâneo, mas nada foi divulgado sobre os dois pilotos que constituíam a sua tripulação.
     O Ministro do Exterior turco Ahmet Davutoglu qualificou de hostil a intempestiva derrubada da aeronave turca.
     A rapidez da reação – e o seu caráter injustificado ao abater sem qualquer preaviso um avião desarmado e com as insígnias do respectivo país – pode indicar um descontrole nas defesas anti-aéreas sírias.
     Nesse sentido, como a Turquia integra a OTAN, foi convocada reunião de emergência dessa organização.
     Existem na Turquia cerca de trinta mil refugiados sirios. Encontram acolhida na ex-boa amiga de Bashar diversos grupos civis de resistência ao regime alauíta.    
     Depois do súbito retorno do cargueiro russo que levava material militar para a Síria, colhido nas redes das sanções ao regime de Bashar, outro tropeço tende a enegrecer ainda mais os horizontes do aliado de Vladimir Putin. A manutenção de sua base naval de Taurus, no Mediterrâneo oriental, pode ainda ficar mais periclitante com o intempestivo abate de uma aeronave desarmada. A expressão de poucos amigos de gospodin Putin, que vimos após o seu encontro com Barack Obama, ao ensejo do G-20, pode ficar ainda mais fechada, diante da sucessão de erros das forças do atribulado presidente al-Assad.

    
Asilo para Assange ?


    Julian Assange, que luta na justiça inglesa para não ser extraditado, reconheceu não estar certo quanto à concessão pelo governo do Equador, de sua petição de asilo diplomático.
    Assange está há quatro dias refugiado na missão do Equador em Londres, à espera  de uma resposta de Quito.
    O fundador de WikiLeaks fundou o seu intento na presunção de simpatia com a sua situação do Presidente Rafael Correa, do Equador.  Após comentários favoráveis, mas não concludentes, Correa declarou que examina detidamente a questão, e está inclusive em contato com outros países envolvidos.
 

Ponomarev, um nome a ser lembrado ?


     Ilya Ponomarev é um deputado da oposição na Duma (a câmara baixa). A sua facção tem apenas dois membros na Câmara: ele próprio  e Dmitry  Gudkov. Integram o partido Rússia Justa, que é uma presença disturbante em assembleia que tem sido até o presente um dócil organismo no esquema de poder de Vladimir Putin.
     Acabam de impedir por semanas a aprovação da lei que impõe pesadas multas em manifestantes nos comícios não-autorizados. Se, como esperado, a sua filibuster não logrou êxito, a publicidade nos jornais trouxe para o conhecimento público as características autoritárias e discricionárias da nova lei de arrocho, que intenta sufocar os movimentos populares de dissenso.
     Ponomarev (e Gudkov) estão em todas as manifestações. A sua condição de membros da Duma lhes concede (até o presente) imunidade à prisão e ao ajuizamento. Nos cálculos desta oposição, a queda de Putin seriam favas contadas. Para tanto, constróem três cenários. O primeiro seria em que Putin entraria em processo de negociação, com gradual transição do poder. O segundo, sempre de acordo com Ponomarev, seria mais violento, em que o presidente se veria forçado a sair do Kremlin. Já o terceiro – que é o pior, no entender do opositor russo – seria um golpe dentro do estamento dominante, muito provavelmente a partir da área de segurança (acidente de carro, ataque cardíaco ou cousa equivalente). Nesse último caso, a área de segurança designaria alguém do seu grupo para assumir o encargo.
 



( Fontes: O Globo, Folha de S.Paulo, International Herald Tribune, CNN)  

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